quinta-feira, 29 de abril de 2010

Confusão Mental - 1/3 (Em 08/11/2007)

O meu amigo Rodrigo, mais uma vez me brindou com um texto agora de . Krishnamurti, sobre a confusão mental. O sujeito em confusão mental, tudo o que fizer será confusão mental; a mente capta as coisas aos pedaços.

Vejamos parte do texto:

“A mente confusa, há de exprimir-se sempre em confusão. Toda decisão que tomar estará ainda na área da confusão. Sendo esse estado de confusão, a realidade, o fato real, creio não devemos meramente reconhecê-lo intelectual ou verbalmente, mas, sim, experimentar realmente o estado de confusão, e daí prosseguirmos, observando o inteiro "processo" pelo qual a mente que está em confusão busca socorro".


Assuntos de que se compõe o texto:

- à mente confusa, tudo é confusão;

- reconhecer verbal e intelectualmente o fato;

- observar o processo por inteiro.

É preciso “reconhecer” seu estado de confusão; para reconhecer seu estado de confusão, será bom que se façam algumas perguntas: por que eu sou confuso? De onde me vem essa confusão? Em que situação eu fui confuso? Eu me fiz entender na minha confusão? Eu prejudiquei alguém? Eu tropecei nas palavras? Repetir essas perguntas todas as vezes que um sintoma da confusão aparecer. 

Vai respondendo cada uma dessas perguntas, por escrito, com o máximo de pormenor.

Os traumas dentro da gente não saem com a precisão de nossa vontade; o processo é lento e deve ser repetido com freqüência.

Esta é uma forma de fazer a catarse: tirar de si o trauma causador da confusão.

Imaginemos um exemplo: eu não consigo me manter calmo diante de pessoa cujo cargo esteja acima do meu; eu me atrapalho todo até pra atender um telefonema dela.

Nesta hipótese; eu tenho de observar onde aquilo se manifesta em meu corpo; no estômago? Na garganta? Sinto vontade de fazer xixi?

Localizado o ponto, eu devo passar a fazer concentração sobre aquele ponto; a mente voltada para ali até quando estiver deitado pra dormir; enquanto eu fizer isso, estou levando energia positiva para dentro de meu corpo.

Com essas auscultações eu, sem perceber, vou liberando inclusive outros tipos de traumas e afins.

Assim observamos e acompanhamos o processo por inteiro, conforme Krishnamurti

Significantes e Significados - 2/3 (Em 08/11/2007)

“Significantes e significados. Estamos sempre presos ao nosso inconsciente! A busca do objeto será eterna”.

Não me lembro quem me questionou com este assunto.

A expressão “significantes e significados” é de conteúdo vastíssimo porque ambos são variáveis ao infinito: se vejo uma orquestra tocando, aquilo é um significante; se leio uma questão de direito, aquilo é um significante; um casal que anda pela rua, é um significante; o aquecimento global é um significante; algo que alcançamos regularmente pelos órgãos dos sentidos.

Já o significado, minha querida, este se perde em infinitas variações que vêm da alma; são anseios da alma e a alma quer que nos esclareçamos o mais possível; se sairmos daqui sem esclarecimento, a coisa fica feia na outra banda. Você percebeu? O lado de cá, onde vivemos, é o significante; o lado de lá é o significado e perceba quantas idéias nós temos sobre o lado de lá...

Significante e significado constituem um jogo de opostos que se perdem na noite dos tempos, desde quando Deus fez os opostos “céu e terra”; mais tarde, Deus faria o homem, sua “imagem e semelhança”.

Do mito, vamos tomar apenas um exemplo: Édipo e Tirésias; Édipo representando a ciência, o significado, porque desvenda o enigma da esfinge; Tirésias, o cego representa essas auscultações que vêm do mais íntimo de nosso inconsciente. Temos, entre muitos os opostos: Platão – Aristóteles; Agostinho – Tomás de Aquino.

Como você vê, o mundo é estruturado em uma dicotomia que chega até nós com diversas roupagens.

Aproximemo-nos mais: essas ameaças de bombas atômicas são significantes cujo significado você pode imaginar; esse aquecimento do planeta é um significante cujo significado...bem. Deixa pra lá. O assunto ficou feio demais! Faz lembrar o Castro Alves:



Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?

Em que mundo, em que estrela tu te escondes,

Embuçado os céus?



Esses versos são o significante, mas qual seria o significado que eles encerram?

No âmbito do significante, sabemos que são uma invocação a Deus; o poeta acusa Deus de estar alheio a alguma coisa. Mas,

E o significado, qual será? O poeta está revoltado contra a maneira como são trazidos os escravos seqüestrados na África e amontoados em navios negreiros.

O estudo do significado encontra campo ideal, o mais rico, no estudo da Semântica em Língua Portuguesa; é o que há de mais puro, de mais elevado. O estudo da Semântica nos mostra que as palavras adquirem significados diferentes, de acordo com sua posição na frase.

A Semântica estuda a intenção do autor, aquilo que ele não disse, mas que ficou subentendido no encadeamento da frase; este é um estudo bem a gosto dos Professores de Português, dos Juristas, dos oradores.


Sonho II 3/3 (Em 08/11/2007)

Com base no que escrevi sobre o sonho, a Isabela Falcão me escreveu que tem sonhos persistentes e insistentes, ela “transportando gatinhos mortos de uma caixa para outra; a sensação é estranha”, diz ela; não sabe encontrar a forma de escrever, dada a quantidade de pormenores que envolvem o acontecimento. 

Ela diz ainda que pretende fazer vestibular e está indecisa quanto à opção; parece que o vestibular é a causa de seus sonhos.

Ela carregando as caixas = as diversas opções que tem em mente;

As caixas contêm gatinhos = os vestibulares são apenas gatinhos fáceis de conduzir.

Os gatinhos estão mortos = aqui temos duas idéias:

- as opções dela não correspondem à realidade íntima.

- o vestibular é tão inofensivo quando os gatinhos mortos; qualquer opção a que se decidir será como se diz “galinha morta”, moleza.

Essas afirmações são apenas sugestões; seria preciso um encontro pessoal, quando se podem analisar diversos outros fatores como: tom de voz, posição na cadeira, contrações de face, utilização das mãos e tanta coisinha assim que só o contato pessoal pode apontar.

Creio também que o inconsciente está apressando a ela que decida o quanto antes por uma carreira; tudo indica que a moça é muito inteligente porque o sonho está mostrando que os gatinhos, apesar de felinos, não oferecem perigo: estão mortos.

Esse tipo de sonho indica também que a pessoa está praticando coisas inúteis; está ociosa, está vazia; algo do inconsciente está indicando que suas atividades estão sendo dirigidas a esmo; não atendem sua vocação; em uma pessoa assim, o inconsciente está pedindo uma ocupação construtiva para ela; por exemplo: uma leitura sobre a própria espiritualidade, uma meditação

Sonho 1/3 (Em 01/11/2007)

Se o sonho vem de alguém, só pode ser por projeção do que acontece na psique desse alguém. Os sonhos são impulsos de coisas que estão embutidas em nós.

Como a psique não tem linguagem própria, ela se utiliza de imagens para retratar o que se passa em nosso interior.

Sonho que minha mãe está morta, se vejo minha mãe morta, não é minha mãe que está morta; aquela imagem é a representação de algo que está morto em mim; algo que eu prezava tanto quanto minha mãe. Diante do sonho, eu tenho de procurar, dentro de mim, qual é o ideal que eu estou matando.

Creio que já escrevi neste espaço sobre as vozes internas, aquelas que nos instigam a toda espécie de violência, frustração, derrota ou nos colocam vaidosos acima dos outros.

Os sonhos são o prosseguimento dessas vozes durante o sono; o agente é o mesmo: nossos traumas. Como foram incutidos em nós em circunstâncias diferentes, possuem cada um sua forma de se expressar; essa confusão que eles fazem por se exprimir é que causa a desordem no sonho, expresso sempre por pedaços incoerentes que nós tentamos decodificar, embora isso não adiante.

Se você interpreta o sonho, você permanece na linha do sonho, fica preso às imagens e não desce ao inconsciente; se você escreve ou se conta seu sonho a alguém, você vai descendo ao próprio interior procurando a palavra exata e exprimir o que se passou; nessa descida em função do sonho, você se abre e dá ensejo a que, pelo menos um dos traumas causadores do sonho venha à tona. Você faz a catarse.

Escrever, com pormenores, sobre o que aconteceu no sonho é a melhor forma de se aliviar dele.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Cônica - 2/3 (Em 01/11/2007)

Pois é; a danada da garcinha espera o sol do meio dia, abre as asas sobre a água; o peixe vem aproveitar da sombra e ela se aproveita do peixe. Estranha natureza que estimula a sacanagem até entre as aves! Quem já viu coisa mais suja! Quer mais? Essas cenas acontecem onde existe lago... O bichinho ganha lugar, abre o chapeuzinho e se alimenta do suco da água no escurinho. Qualquer semelhança é mera coincidência... De quando em quando aparece um flamingo pra interromper a esperteza. Ah! Você já meteu na cabeça que eu estou fazendo alusões! Nada disso; estou me referindo apenas a esses pássaros despudorados que a natureza põe em certos postos no exercício da vigarice.

Ao meio dia é o momento do vazio entre dois tempos; o pássaro usa esse expediente ao meio dia porque sabe que o peixe está na inocência do momento. O peixe está como hipnotizado pela luz do sol, no vazio do momento. Nessa hora a malícia se levanta até dos pássaros para se aproveitar dos incautos. Depois você vem dizer que é a lei do mais forte. Não, que os dois não medem força; a lei ali é de pura emboscada. Cachorrada até não caber mais lugar para tantos cachorros...

Bílis Negra - 3/3 (Em 01/11/2007)

A senhora Hérika teve a gentileza de apontar uma causa para essa tendência de as pessoas negligenciarem atenções mínimas a outras, mesmo que sejam estranhas. D. Hérika se baseou em meu artigo sobre gestos.

Não seria isso resultante de um sofrimento embutido, um “sofrer da bílis negra, não será essa a tendência do mundo após o renascimento”?

Percebamos dois aspectos no questionamento da senhora Hérika:

- ela não situa o tempo em que teria começado a tal “bílis negra”;

- ela aponta um tempo inicial em que essa tendência se introjetou na psique humana: após o

Renascimento.

Sobre a bílis negra, já se encontram referências em Hipócrates (377 a.c), como elemento desequilibrador no comportamento das pessoas.

Fiquemos apenas com as possíveis causas e os respectivos efeitos que essa doença causa quando se aloja na pessoa humana.

Há uma certa lógica na pergunta porque, até o renascimento, a crença humana era teocêntrica, Deus como centro de tudo; veio o renascimento e, com ele, o humanismo; o homem como centro de tudo; o conflito foi tão grande que deu início a uma nova tendência nas artes: surgiu o barroco que é a exteriorização desse conflito.

Isso realmente mexeu com a cabeça de muitos; tanto que o período seguinte é o neoclassicismo: os sábios procuravam viver no campo para fugir do burburinho da cidade; em seguida começa o cientificismo e a idéia de Deus ficou relegada.

É natural que essas opções tenham causado uma certa fleuma, na medida em que mais os ideais da cultura se afastavam de Deus; é natural que algo tenha se incrustado como ferida, mesmo que seja na psique, no inconsciente e de que tenha resultado esse centrar em nós mesmos, indiferentes aos demais.

Outro aspecto não menos relevante é que essa bílis negra se aloja no baço; o baço se situa no meio entre dois pontos de luz; se não forem ativados, no estômago e no coração, não há como neutralizar as manifestações desse humor. O ponto do estômago se relaciona com a trituração; o ponto do coração se relaciona com a intuição. Desses dois pontos não ativados, surge, uma certa melancolia, indiferença, nostalgia, saudade de algo indefinido que repercute em nosso comportamento sempre voltado para nós mesmos, indiferentes aos circunstantes e às circunstâncias.

Estou tentando apontar uma causa; não estou justificando um defeito que estamos no dever de corrigir em benefício de uma vida melhor no convívio de nossos semelhantes.

Noite Escura - 1/3 (Em 25/10/2007)

Não sei se já falei sobre a noite escura. Essa expressão apareceu em uma revista, quando fazia referência à Madre Tereza de Calcutá e suas terríveis dúvidas sobre a existência de Deus. No entanto, a expressão vem de São João da Cruz, o poeta místico por excelência; ele é que usa essa expressão para significar uma dupla dúvida:

- Se valia a pena continuar submetido a tantas provações, inclusive dos próprios monges pelos quais foi raptado para lugar secreto, ermo, ao desamparo? Isso é noite escura, mas esses aspectos são externos.

A segunda forma de noite escura de fato acontece é no interior do místico e a coisa funciona mais ou menos assim: entre a mente e a Consciência de todos nós existem os traumas psicossomáticos: raiva, inveja, vingança, originadas por situações conflituosas. Esses valores constroem o máximo de obstáculos e bloqueiam a passagem da mente para a Alma.

Na literatura, esses traumas são representados por monstros com que o herói tem de lutar. A tentativa de passar por esses inimigos, as dúvidas que eles causam, em virtude de sua resistência, é que constitui de fato a noite escura: temos de lutar e não sabemos com quê.

Guimarães Rosa escreveu um conto em que um homem vai pescar num poço; à flor da água há uma cobertura de folhas secas; ele joga o anzol; quando o peixe fisgado vem, puxado pelo anzol, uma serpente debaixo da folhagem devora o peixe; os monstros não deixam que a luz chegue até nós. Entre nós e os peixes está o monstro impedindo o êxito de qualquer iniciativa nossa. Se fisgarmos algum peixe, se tentarmos descer com a mente à consciência, os bloqueios não deixam a mente passar.

Noite escura é isso, multiplicada por mil; o místico se vê rodeado de tanta incerteza que sua vida se torna um rodamoinho.

Costuma se dizer que a noite escura são as aflições da alma; se a alma é o que queremos alcançar, ela não pode se afligir com o que está fora de sua alçada; as aflições são do próprio sujeito que se questiona sobre a utilidade da vida que leva. Esse não conseguiu ainda furar o bloqueio que impede o destino à própria interioridade.

Dúvida - 2/3 (Em 25/10/2007)

Como é isso?

Eu sinto depressão, saudade e digo que estou com um vazio no coração.

O ideal do místico é esvaziar o coração.

Quem tem depressão é místico?

Como sair desta?

Toda depressão e suas variações são causadas por uma ausência; deseja-se que a tal ausência seja preenchida.

Toda mística é caracterizada pelo desejo de ausência; o místico procura estar ausente inclusive de si mesmo; o místico quer o espaço vazio.

O depressivo quer preencher aquele espaço; o depressivo sente o peso da solidão.

O místico quer quanto mais funda a solidão.

Deduz-se que o coração do depressivo não está vazio; está cheio daquilo que ele quer alcançar, está cheio de carências; o depressivo olha para si e tem dó de si mesmo.

O místico tira o olhar de si mesmo: fecha os olhos para entrar no repouso.

No depressivo predomina o movimento, a agitação.

No místico predomina o repouso; a meditação com que ponha o coração no ritmo do silêncio.

Por fim, o depressivo almeja o ter.

O místico almeja o ser.

Atualidade de Cristo - 3/3 (Em 25/10/2007)

A lei de causa e efeito é uma constante em nossa vida; aquele costume que vem dos antigos na base do olho por olho, dente por dente, mão por mão e outros, tem sua base nessa lei de causa e efeito; é uma lei da Física.

No Novo Testamento há uma afirmação que se enquadra no assunto: “os pecados contra o Espírito Santo não serão perdoados nesta nem na outra vida”. Parece difícil, mas apenas parece: pecar contra o Espírito Santo e iludir, induzir, enganar, trabalhar negativamente a mente do outro. Quem faz isso, enquadra-se na lei de causa e efeito; eu iludi aqui, essa ilusão voltou pra mim na mesma intensidade e o efeito fica em mim; mas ainda me falta reparar a causa.

O outro está desviado por minha indução; eu estou acumulando as conseqüências; levo isso para o outro lado, para o lado de lá; do lado de lá é o repouso; não aceita o lixo de que eu sou portador; terei de voltar para submeter-me à lei de causa e efeito e limpar tudo aqui.

Ocorre-me algo sombrio: dizem que certos parasitas só se desenvolvem bem no organismo da cobra; eles se inserem em alimentos de que o rato gosta; uma vez no estômago do rato, eles sobem pra a cabeça e orientam o bichinho na direção da cobra, como se fosse um ships. Por isso, vemos cenas de ratos sem reação diante do perigo; aqueles corpúsculos anestesiaram a mente do animalzinho.

Deve ser mais ou menos assim o que acontece com certas pessoas que se tornam tão apáticas de entregar seus bens aos espertos; pagam por reparação de uma esperteza cometida e esquecida em vida anterior. Seu “pecado” só agora foi resgatado, “perdoado”.

A lei é daqui; sujou a lei aqui, tem de voltar para limpar o que sujou.

Já imaginou o volume de ações neste sentido que se praticaram ao longo de milênios, sem correção na terra? Este é um dos aspectos que avolumam o inconsciente coletivo, cuja pressão a terra não está agüentando mais. Haja!