quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Energia (Em 20/04/2006)

Energia

Este enfoque sobre energia é feito em função do ser humano; apresenta um dado de conhecimento geral e busca a relação com os componentes espírito e alma.

Se digo que a energia tem dois pólos, isso é de conhecimento geral; mas procuro lembrar que também no ser humano atuam dois pólos: o pólo do movimento: aciona a mente pelo lado de fora de nós; o pólo do repouso; atua no coração vazio de pensamento, atua no repouso. O espírito atua pela mente; o coração é um posto avançado de comunicação com a alma.

O espírito se desenvolve ao longo de quatro etapas: movimento, repouso, luz e consciência. Estamos ainda no primeiro estágio, no âmbito do movimento, do pensamento. Por circunstâncias diversas, a energia do movimento invade nosso mundo interno, empurrada por acidentes, doenças graves, sustos fortes, ofensas, perdas e tantas coisas. Essa energia do movimento se agita no campo do repouso e nos causa conflitos. Os conflitos têm duas origens:

- traumas mencionados há pouco e assimilados sobretudo na infância;

- sonegação do saber; o saber como energia retida conscientemente.

Todo saber entra em nós procedente de fora, conduzido pela energia do movimento e se instala no âmbito do repouso; se essa energia ficar retida dentro de nós, se não passamos adiante esse saber, ela se agita dentro de nós, incha e nos incha.

Por outro aspecto, a alma é a Consciência Profunda retida em nós; é um centro emissor e refletor de energia; ela é auto-suficiente, dotada de todos os atributos de sua origem, mas esses atributos estão esquecidos por ela, na densidade da matéria.

Cabe ao espírito fazer a alma recordar suas origens. Sabe aqueles filmes em que o mocinho passa pelas maiores peripécias para libertar a mocinha? Assim é o esforço que o espírito deve promover em si mesmo; mas ele só consegue isso quando pratica ações relacionadas com: verdade, justiça, amor e outros. Ações assim despertam a alma. Se ela recorda, emite energias de iluminação relacionada com aquilo que recordou; o espírito assimila essas energias; se as ações do espírito não causam identidade na alma, é como se a mocinha estivesse na torre e o mocinho buscasse libertá-la nas galerias: a energia despendida foi inútil: é devolvida ao espírito.

Saído da terra, é de se supor que o espírito não leve consigo a energia do movimento de que acabou de se livrar neste plano; ele vai mergulhar na energia do repouso.

Se o espírito levar para o outro plano a energia do saber não liberada, ela lhe será uma carga, atuando nele como um trauma; ele precisará voltar à terra; essa energia que ele traz de volta se adere ao pâncreas; acumula-se no pâncreas; daí as deficiências pancreáticas congênitas.

Fora de nós, a energia é agitada; dentro de nós, ela é lenta; quanto mais se aproxima da alma, a energia se torna rarefeita; só a intuição ultrapassa a região de energia rarefeita; ela vai direta à fonte de onde tudo emana.

Energia Complemento (Em 20/04/2006)

Energia - complementação

Algumas crianças entraram num palácio onde habitava um homem enfeitiçado pela própria imagem refletida num espelho; esse espelho só poderia ser quebrado por uma criança pura.

Fechou-se a porta, e as crianças procuraram em vão outra saída. Uma delas desapareceu. De repente, forte trovão e raio. Ouviu-se o estilhaçar do espelho. A porta se abriu e a criança que tinha sumido reapareceu junto às outras.

Essas crianças presas bem podem ser a representação de certos grupos que se mantêm fechados, ingênuos em torno de seu “mestre”; acomodam-se respirando o que ele respira e não se dão conta de que é preciso ajudá-lo a quebrar-lhe o encantamento.

Destacam-se quatro aspectos no texto:

a – um homem enfeitiçado pela própria imagem;

b – uma criança que desaparece;

c – trovão, o raio;

d – espelho estilhaçado.

O homem deslumbrado é o sábio encantado com seu saber.

A criança pura suscita no homem uma vivência interior de que ele nada entende.

O trovão, o relâmpago são as adversidades, as dores, a perda irreparável, pelos quais esse sábio tem de passar para despertar a consciência sobre o próprio interno.

O espelho estilhaçado possibilita duas visões:

- o homem abdicou do saber e esse saber se tornou disponível para muitos

- acabou-se a fonte de vaidades; restou ao homem o vazio, o nada em que se contemplar.

Imagem (Em 16/04/2006)

Imagem

Uma imagem por e-mail: à hora de dormir, um menino ajoelhado,as mãos postas, os cotovelos apoiados sobre a borda da cama, olhos fechados em meditação; a seu lado, um cachorro, pele luzidia, as patas dianteiras juntinhas sobre a borda da cama, unhas salientes, pescoço ligeiramente esticado, olhos fechados, lembrando um místico em profunda meditação e criando uma atmosfera de intensa sensibilidade ante aquele quadro de tantos significados.

Como analisar a sintonia daquelas duas criaturas? Em que planos estavam? Oposição conciliada na concentração!

Planos mentais diferentes, ambos se ligam pelo fio da vida, e a mente nos traz de outra dimensão o que disse Cristo: hoje estarás comigo no paraíso; os dois passando pela mesma experiência, mas em planos diferentes. Ali estava uma criança e seu cão, representação viva e silenciosa do diálogo da cruz; pela concentração de ambos na direção da inocência.

Os olhos do cachorro estão densamente unidos, as orelhas caídas, sugerindo um estado de abandono, de quem percorre os meandros da própria interioridade, á busca de sua luz. Não é próprio da raça descer assim, mas e se um cão desce, não poderá adquirir um mínimo de consciência? Existem exemplos de cachorros que parecem portadores de traumas trazidos da primeira idade; resgatados de entre os recolhidos pela prefeitura, eles parece disporem de uma memória inconsciente que os faz tremer quando se deparam com aspectos de vivência com aqueles momentos sofridos. Se esse “psicossomatismo” existe, como posso descartar um mínimo de consciência naquele cachorro tão compenetrado? De qualquer modo, é certo que menino e cachorro estavam conciliados num silêncio que ultrapassa nossas cogitações.

Angústia (Em 14/04/2006)

Muitas de nossas angústias são conseqüentes de um espírito bloqueado.

O espírito que volta à terra, perde a consciência; ele se esquece de tudo. Conforme o meio em que se estabelecer, algumas ressonâncias de atividades anteriores podem aflorar por intuição, sem limites; mesmo assim, o espírito fica sujeito a uma espécie de pressão que o leva ao desespero; ele não sabe identificar seus males nem como corrigi-los.

O espírito se situa entre a alma e a intenção; se a intenção se aplica a ações duradouras, elas repercutem na alma, a alma recorda aspectos de sua origem e libera energias imbuídas desses aspectos; o espírito assimila essas energias e se desenvolve em vislumbres de luz e sabedoria.

Se nossas ações se ocupam de assuntos passageiros, não duradouros, a alma não se identifica com ações assim; a energia despendida pela intenção é devolvida para o espírito, acumulando-se nele; a situação tende a piorar, quanto mais ela se acumula.

Na escolha da atividade profissional, por exemplo; a intenção se volta para fora e se afasta dos objetivos da alma; as energias despendidas não são identificadas pela alma; elas não entram no campus da alma e retornam para o espírito, pressionando-o.

Muitos vão buscar, no estudo da Psicologia, uma resposta para esse tipo de angústias e encontram uma Ciência ocupada com dados exteriores, concretos, visíveis, racionais, que mudam com o tempo; isso agrava o quadro interno porque, ocupação assim afasta ainda mais o espírito do fim a que veio.

O espírito então vacila premido por massas de energias excedentes a sua condição; de um espírito em desespero, vêm: o acidente, a cobrança moral, a demissão do emprego, uma perda irreparável e outros. São meios com que ele busca atrair nossa atenção para dentro de nós mesmos.

A solução é alternar nossas atividades do lado de fora com a prática de atividades duradouras; elas estão do lado de dentro de nós: justiça, verdade, amor; não o amor que pede...

Nossa convivência com essas virtudes desperta na alma atributos esquecidos por ela; ela insinua no espírito esses atributos; o espírito se nutre na luz refletida; as angústias perdem apoio na luz de dentro.

Angústia - Complemento (Em 14/04/2006)

O professor bateu com o giz na lousa e perguntou aos menininhos

- o que é isso?

- um cigarro aceso à noite, uma estrela, um navio a distância, um vaga-lume, um cometa,um poste visto de cima.

Entusiasmado com o resultado, o professor fez a mesma experiência no terceiro colegial:

- o que é isso?

- são as fuligens do giz que você bateu na lousa.

- nossa! Os alunos do terceiro tinham perdido a criatividade!

- o contato com as ciências exatas os pôs de olhar apenas para fora de si mesmos;

- na resposta deles, não faltou motivo e conseqüência: bateu na lousa, ficou a marca do giz.

- balanças de um só prato.

- se no terceiro, eles já estão assim, que dizer dos intelectuais?

- assim, a cultura atua como um trauma.

- como assim ?

- a cultura tem origem no mundo do movimento; quando entra em nós, aí é o repouso; ela precisa ser liberada, passada adiante; não o sendo, o movimento de que é portadora passa a atuar na área do repouso, criando sérios conflitos.

- verdade. O ser humano é o agente da cultura; toda cultura tem de se relacionar com seu agente.

Diabete - Complemento (Em 07/04/2006)

Um diabete congênito é efeito de sonegação consciente de um saber. Por isso o Cristo a firma: Dei-vos a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai Jo 15,15

Cristo passou tudo adiante; nada reteve do que recebera.

Algumas considerações são necessárias para entendermos bem o problema:

Aqui na terra, tudo é movimento, pensamento;

Do lado além da terra, é o repouso: ausência de pensamento; ausência de movimento.

Do lado de cá, eu posso saber muito, aqui é o âmbito do aprendizado. Eu sou depositário consciente de um saber; ele veio do mundo do movimento, conduzido por uma carga energética, para minha interioridade em repouso.

Eu então preciso passar adiante o que eu sei; se eu não passar adiante o que eu sei, com o tempo, meu saber se agita dentro de mim como um trauma.

Se eu não passei adiante o meu saber, meu espírito precisará voltar. Quando o espírito volta, traz as energias de meu saber; elas se acumulam no pâncreas agitando o ambiente. Daí certas deficiências pancreáticas congênitas.

Uma agravante: quando o espírito volta, ele perde a consciência e se esquece de tudo; as energias de meu saber sonegado atuam em meu pâncreas como uma ferida.

Arte (Em 07/04/2006)

A arte é a projeção da sabedoria em constante movimento nas profundezas humanas; a flor é apenas flor; se é bela, é porque motiva sintonia do ser humano com uma sabedoria que lhe é interior.

A arte tem raízes nos páramos do inconsciente humano, lá onde o artista se depara com o núcleo formador de suas aspirações e de onde procura trazer um valor que transcenda a realidade, buscando exprimi-lo com a força de seu talento.

Assim, extraída da intimidade, a arte é capaz de sensibilizar os mais variados níveis de consciência porque se origina de uma fonte comum; por isso ela se insinua na intimidade de cada pessoa, despertando identidades que o próprio observador ignorava em si mesmo.

Entende-se por que a arte possui força catártica: ao longo do tempo o observador esteve às voltas com inquietações em seu interior: a sabedoria desejosa de exprimir-se; súbito ele se depara com o halo de suas inquietações concretizado naquela realidade artística; a afinidade gera um certo impacto; é a catarse.

Já o artista é atraído por forças inconscientes, mas ele possui a prática de descer e, na medida em que mais desce em si mesmo, mais vai sintonizando a fonte emissora de suas aspirações; a catarse então é feita em duas etapas:

- extraindo do inconsciente os valores de sua inquietação artística;

- travando em seu interior, uma luta por dar forma elevada ao real de sua inspiração.

Não raro, ele olha sua obra de arte e só vê defeitos, naquilo que só vemos qualidades, exatamente porque permanecem nele aspectos inexprimíveis da realidade que lhe ia pela alma no momento criador.

A questão é: se o artista desce em si mesmo e o místico desce em si mesmo, por que o artista não é necessariamente um místico, já que muitos foram de vida desesperada? A diferença está no objetivo por que cada um desce; o artista é atraído pelas forças de inspiração; atraído pela fonte de onde promanam suas inquietações; o místico, por nenhum objetivo; atira-se no vazio de sua abdicação.

A arte é dom de colher no silêncio, porque só pelo silêncio se encontra a sintonia; mesmo quando o artista fala, a arte se expressa pelo que está por trás da palavra; de seu silêncio emana o gesto criador.

Arte - Complemento (Em 07/04/2006)

... E levou o filhinho a um concerto; queria motivá-lo a aprender piano; sala cheia; os dois sentados; ela foi conversar com conhecidos; sozinho, o menininho saiu pelo outro lado, entrou num corredor, uma cortina: “não entre”; entrou; lá estava o grande piano; soou o sinal para o início do concerto; de volta, onde estava o menino! Em desespero, ela viu abrir-se a cortina e o filhinho lá batendo nas teclas.

Entrou o grande pianista, viu o menininho: – não pare, não pare.

E improvisava arpejos sobre as notas inocentes. O povo delirou e o concerto ultrapassou os limites da arte, numa efusão de emoções.

Temos aqui alguns aspectos da arte:

a – pintura: um piano, um homem debruçado sobre uma criança; ambos com os braços

apoiados sobre o teclado: o palco é a moldura do quadro;

b – catarse: a primeira reação do público foi conflituosa: tirar criança dali; ela tornaria dispersivo o ambiente do concerto; o artista surpreendeu a todos com seu talentoindiscutível; o público delirou e se sentiu aliviado.

C – o menininho é a representação do inconsciente buliçoso; seus impulsos são Incoerentes como aquelas notas; o artista debruçou-se ao contato com o inconsciente
e organizou, por seu talento, uma tessitura que transcendeu as notas do menino, num
ambiente de luminosidade e emoção.

Mensagem:
Quando nos afastamos dos valores de nossa intimidade; eles buscam expressão em outra parte de onde possamos contempá-los brilhantes e luminosos, porém distanciados de nós.

sábado, 19 de setembro de 2009

Complementação IV (Em 31/03/2006)

Um homem levantou pesadas acusações contra seu vizinho; levado a juízo, ficou comprovada a armação; o juiz disse ao acusador:

- o senhor tem aqui uma pasta com os relatos das acusações que fez; vá para a sua casa; no trajeto, o senhor vai rasgando estas folhas e jogando os pedaços o mais longe possível da estrada. Volte amanhã para me relatar o que fez e ouvir a sentença.

No dia seguinte o condenado estava de volta. O juiz perguntou:

- o senhor rasgou as folhas do processo, fez como eu lhe indiquei?

- sim. Fiz como o senhor mandou.

O juiz leu a sentença:

- o senhor vai de volta para sua casa e recolhe todos os pedaços que jogou fora e me traz assim que encontrar todos.

Viu? Esses papéis picados são como a calúnia; uma vez lançada, é muito difícil de ser retificada; o estrago está feito. Caluniar alguém é caluniar a própria consciência; o estrago se verifica dos lados de dentro e fora de nós mesmos; o pior é que nossa consciência será o juiz; já pensou se ela mandar que recolhamos todos os papéis!!!

Urdiduras (Em 31/03/2006)

Ouve se dizer que o Cristo: não existiu, casado, pai de n filhos, viveu na Índia e vai por aí. Essas colocações estão relacionadas com a história; a história está embutida num tempo que já passou; nada acrescenta a nossa vivência hoje, aqui.

Afirmações assim não nos ajudam porque nós precisamos de um sinal que nos oriente para dentro de nós mesmos. Como vivemos no mundo do movimento, é preciso avançarmos e não se avança olhando para trás.

A mensagem do Cristo é de hoje e só precisa ser interpretada; bem interpretada, ela se relaciona com a mente humana, em qualquer tempo e lugar; mal conduzidos, os assuntos que Cristo ensinou ficam sujeitos a direcionamentos à mercê da formação de cada um.

O velho testamento se compõe de narrativas que nos contam como a mente conduzia os órgãos dos sentidos; o novo testamento avança, vai além: mostra como a mente deve:

a - atuar sobre si mesma, expandir-se; por isso Cristo se utiliza de parábolas para que a mente exercite o entendimento; perdoar é defender a mente contra a energia negativa emitida pelo ofensor.

b - descer ao coração na direção da luz interior; sobre a qual já falei em 8 a 14/01/06,apoiado no Cristo.

Outro aspecto que não avança é o de se afirmar que a dualidade não existe; só existe o uno. O uno é nossa meta mas, para alcançarmos o uno, temos de equilibrar o fora e o dentro de nós mesmos; o nome Jesus Cristo é dual: Jesus, o homem, a inteligência; Cristo a divindade, a consciência; Cristo se declarava Filho de Deus e Filho do homem; o Filho do homem atuando pela inteligência; o Filho de Deus, pela consciência; como as duas dimensões estavam em paralelismo nele, Cristo dizia sobre si: “eu e o Pai somos um”. O uno está por trás da dualidade; sem equilíbrio das partes, o uno não se manifesta.

Do lado oposto, existe um objetivo velado de atrair a mente humana para a distância, para mais fora de seus domínios; acontece que, fora de seus domínios, a mente humana se torna vulnerável e susceptível de adotar normas que não contribuem para o desenvolvimento espiritual .

Complementação I I I (Em 31/03/2006)

Um homem tinha quatro filhos; mandou que os quatro fossem observar uma pereira em região distante e num tempo que ele indicaria.

O primeiro foi durante o inverno; a parreira era feia, torta e retorcida;

O segundo, na primavera, a pereira estava cheia de botões, promessas de abastecimento à vida;

O terceiro foi no verão; a parreira estava coberta de flores e exalava um cheiro delicioso;

O quarto foi durante o outono; a árvore estava arqueada de tantas frutas em que os pássaros vinham se alimentar.

Os tempos mudam, a realidade permanece, a visão se altera; cada um deu sua impressão sobre o que viu, no tempo de cada um; então a verdade estava com eles porque, não conhecendo de botânica, eles nada falaram sobre as raízes da planta, nem sobre possíveis galhos distorcidos. Nós podemos entender de botânica, mas não vimos a árvore...

Sabedoria (Em 24/03/2006)

A Sabedoria resulta da atuação simultânea com a Consciência e a Inteligência, a partir de nossa interioridade; inteligência e consciência são opostos que se conciliam dentro de nós; inteligência e consciência conciliadas, dão origem à luz; por isso se afirma que sábio é o que “sabe para sua alma”; saber para a alma é exprimir-se por iluminação.

Saber para a alma é aquele saber que abrange as duas dimensões de fora e dentro do ser humano; saber para a alma é um saber solidário, não sonega.

Modernamente parece-me que quem alcançou as duas dimensões da sabedoria foi Bérgson. A base de seu pensamento é a “durée”, a duração, um rio que corre “sem margem e sem fundo” na interioridade humana.

Sabedoria é isso: entender que quem dá sentido ao universo é o homem; o homem é a síntese do universo, portanto todo saber humano tem de se realizar como extensão do homem.

O universo é composto de movimento inteligente e de consciência no vazio; também o homem encerra em si essas duas dimensões; mas o homem vai além porque sabe e o saber do homem “o universo o ignora” no dizer de Pascal.

A sabedoria não é estrada de mão única; o monge pratica longos exercícios de interiorização, mas se aplica a qualquer atividade na manutenção do convento; isso é mão dupla pelas vias do saber; o cientista, paralelamente com o estudo de sua ciência, precisa descer à própria interioridade, esforçando-se por intuir sobre a relação que essas duas dimensões estabelecem entre si. Assim se alcança a sabedoria.

São Tomás de Aquino se utiliza da metáfora das mãos para representar a natureza dupla da sabedoria: na mão direita, a sabedoria tem a “vida longa e a saúde”; “a glória e imensas riquezas” estão em sua mão esquerda.

Essa sabedoria que já era “desde o princípio dos tempos” é o composto de consciência e inteligência; ambas sustentam o universo, por isso ele se mantém equilibrado; o homem resolveu inovar e separou as dimensões da sabedoria; o resultado foi enveredar-se pela ciência, ao tempo em que mais perde a consciência.

Complementação I I (Em 24/03/2006)

- Aos alunos, Marco Pólo descreve uma ponte pedra por pedra e seus encaixes.

- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte?

Pergunta um dos alunos.

- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra; mas pela curva do arco que estas formam.

- Por que então você só fala das pedras?

- Sem pedras o arco não existe.

Eis a sabedoria dividida: a inteligência se ocupando apenas com as pedras: com o que é concreto, demonstrável, palpável.

Quanto à consciência, a curvatura do arco, o sensível, o indemonstrável, o que se coloca acima da ciência, não é considerada pela ciência.

O professor atesta sua vinculação ao raciocínio: “sem as pedras, o arco não existe”; parece afirmar: sem a inteligência, a consciência não existe; logo, o que é importante é a inteligência.

Sem se estabelecerem vínculos entre a inteligência e a consciência, a construção do homem será uma realidade sempre adiada...

Ansiedade (Em17/03/2006)

O asco que me corrói a vida; esta boca amarga; esta saliva de mistura com areia que eu tenho de engolir; um cheiro ruim me invade as narinas e eu não vejo para onde escapar porque, para onde eu for, ali estou eu com meus mil anos entalados no peito, atando um nó que me tira o ar e, em desespero, sinto-me sufocado, capaz de, em fração de tempo, cometer os piores desatinos, motivado por essa coisa que me nega a razão.

Estou só e minha solidão nutre a insegurança e o medo cresce; aborreço-me de qualquer presença, embora compreenda que, só por ela, eu consigo acalmar essa ventania que me torce os nervos e se enrola dentro de mim, parecendo levar os órgãos do estômago a se dispersarem num vôo para lugar algum.

Estou só; os de fora não entendem a singularidade de minha apatia; ela cresce em descrença de tudo; por vezes me vem uma sombra, um desejo de antecipar o tempo, numa explosão vazia. Não faço isso enquanto houver unhas para roer, até que alguém me ridiculariza pelo estrago.

Bem que eu podia ficar sem essa; sinto-me ofendido e transfiro meu tédio para o ofensor; não conhece meu drama; centro nele meu asco amargo e me esqueço de mim mesmo... então percebo o início de uma mudança; foi tão simples; foi apenas um locomover da mente, uma alteração de foco. Passada a sexta-feira santa, eu já encaro a vida com olhos de sábado de aleluia. O que aconteceu comigo? Ah! Já sei: foi apenas o esquecer de mim mesmo; foi apenas um desvio da mente para outro lado.

Eu teria me livrado de tudo aquilo se tivesse feito convergência no coração, porque ali está a cura de todos males. Entendo agora aquela máxima, segundo a qual “o coração tem razões que a própria razão desconhece”

Complementação I (Em 17/03/2006)

Do alto de seus vinte anos, a filha reclamava de tudo; estava cansada de tanto enfado; o pai com ela na cozinha:

- ponha a cenoura, o ovo e o pó de café um em cada panela; a mesma quantidade de água, a mesma intensidade de fogo.

Ao fim da operação, a cenoura dura, saiu desfibrada, mole; o ovo mole por dentro, endureceu; o pó de café exalou um cheiro agradável.

Cada um passou pelas mesmas provações e cada um se manifestou diferentemente. Em qual temperamento você quer se enquadrar?

Você é como a cenoura? Ante a provação, abdica de si mesma, amolece, compreende, perde a mania de se imaginar vítima do mundo?

Você é como o ovo, fechado em si mesmo? As provações o tornam duro, intransigente, amargo? Outras virão até quebrar a casca e você ser exposto ao sol...

Você é como o pó de café que, na provação, perfumou o ambiente? Perfumamos o ambiente por um gesto de renúncia, uma palavra de esperança que o outro espera de nós.

O pó de café já tinha passado pela provação do pilão; na prova do pilão, ele não reagiu, não reclamou, por isso se tornou também bebida...

As provações nos depuram na proporção em que nós compreendemos a função delas; na medida em que buscamos por elas um sentido maior que elas nos apontam.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Carta (Em 10/03/2006)

Cecília querida, nossos filhos têm me protegido contra a saudade.

Há sinais de que você veio de um plano superior; sem essa procedência, é muito difícil à mulher idealizar estágios e guiar o iniciando pelos caminhos de dentro.

Num primeiro estágio, você me iniciou pelos órgãos dos sentidos: eu aprendi a ver, a ouvir, a ser cobrado e aceitar, para manter a estabilidade do casal.

Quando você percebeu que eu tinha superado a primeira fase, você me apontou outro caminho a seguir pelas vias estreitas da abdicação, da entrega, do zelo: você ficou doente; e me vi contido num destino fechado, envolto em tentáculos que se alimentavam de minha impotência, na luta contra o mal que a consumia implacável e irreversível. Meu Deus!

Quando você percebeu que eu tinha superado o estágio da abdicação, da trituração, era hora de você me deixar para que eu sozinho praticasse o exercício da solidão de que me alimento ainda.

Hoje vejo bem nítidas essas fases e, se falo de mim Cecília, é para exaltar a entrega com que você atuou nesses estágios; você foi se anulando até o esgotamento de suas forças; num dado momento, você parecia repetir o Cristo: é preciso que eu vá para que venha sobre ele o Paráclito. Ainda alimento a esperança de que ele venha para que eu possa passar a outros a consciência de uma Luz que orientou seu esforço até o final da jornada que você ultrapassou com a dignidade de seu anonimato.

O que é a Morte ? (Em 10/03/2006)

- Doutor, o que é a morte?

- Eu não sei!

- Mas o senhor estudou tanto e não sabe me explicar o que é...

Uns grunhidos e arranhados. O médico abriu a porta e o cachorro entrou pulando sobre o dono na maior efusão de alegria. Disse o médico:

- Veja: este cachorro nunca tinha entrado aqui; apenas pelo faro, sentiu que o dono estava do outro lado e entrou com a alegria que você está vendo.

A morte apenas abre a porta; do outro lado, a consciência é o dono; basta substituir a fé pelo faro, e a passagem será para um agradável encontro.


Escrito por nery às 10h38

Morte (Em 10/03/2006)

Em nosso corpo, temos pontos por onde a energia circula; entre esses pontos, dá-se destaque a sete como os principais.

A morte consiste na interrupção da energia que circula por esses pontos; a operação se verifica de baixo para cima, e o corpo vai perdendo o vigor de cada ponto, até o último, no alto da cabeça; por ali é a saída do espírito.

Saindo deste plano, o espírito atua pela consciência que adquiriu aqui; se a consciência que ele adquiriu aqui foi voltada para a terra, a tendência dele é de voltar para a terra. Antes de voltar para a terra, o espírito estabelece a si mesmo uma meta e um prazo; mas o contato com a terra, a matéria, o faz esquecer-se de tudo. Vencido o prazo, a alma pára de liberar energia.

Por desconhecer essas metas pré-estabelecidas, nossa razão se pergunta por que uma criança morre tão cedo, por que alguns chegam a mais de um século de vida.

A morte é uma só; nossos olhos a distinguem sob vários aspectos; dizemos que existe a morte prolongada, sofrida; ela é causada pelo apego em vida; o apego cria a resistência.

Do desapegado, a morte se aproxima e simplesmente encerra o estágio; é que o desapego já é um exercício de morte em vida.

A morte congela os méritos do espírito no tempo, como se os fixasse num grande mural; há os espíritos que buscam reviver as circunstâncias sintetizadas naquela imagem: desejam voltar; outros fazem dela o impulso para avançarem no sentido de seu destino; a morte os libertou.

O Aviador (Em 10/03/2006)

O avião em forte turbulência, objetos caindo, moças socorrendo, alvoroço geral, uma mulher invocando todos os santos; a seu lado um menininho folheava calmamente uma revista.

- você não tem medo, o avião trepidando deste jeito!

- não, senhora; o piloto é meu pai.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Diálogo (03/03/2006)

- mãe, por que nós temos essa corcova?

- para resistirmos às grandes estiagens no deserto, filho.

- e essas pernas longas, mãe?

- sem elas, ficaríamos atolados nos areais imensos

- mãe, e estes pelos compridos sobre nossos olhos, mãe?

- o vento é forte filho, e a poeira nos tornaria cegos.

- mãe, se nossa vida é no deserto, por que nós estamos num zoológico?

Mãe e filho afastados de suas origens; seus atributos estão “mortos”, sem utilidade.

A mãe se percebe desterrada de uma dimensão superior; uma região de silêncio; ela suscita no filho a consciência de suas fontes.

Também nós temos atributos “mortos”, por estarmos afastados do silêncio. Nosso deserto é no coração; o coração é logo ali; já chegamos de tão perto.

Mãe e filho têm os atributos visíveis, porém “mortos”; nossos atributos são invisíveis, mas nós dispomos da consciência para superarmos a distância e fazermos ressurgir esses atributos, quando o esforço é colocado acima da vontade.

Sensibilidade (Em 03/03/3006)

Precisamos desenvolver a sensibilidade; desenvolvemos a sensibilidade pelo silêncio interior; um silêncio que cale as vozes de dentro.

Pela sensibilidade, abdicamos de nós mesmos, lemos dentro das coisas e por trás delas;

Sensibilidade não é emoção; a emoção se manifesta ante um fato real, concreto; a sensibilidade vai além: conduz-nos à busca de uma repercussão no imo de nosso ser; ainda mais, ela é poder de sintonia com realidades de outras fontes.

Há que se distinguir a sensibilidade do artista; o artista exprime sua sensibilidade no concreto de sua obra de arte; a sensibilidade que nos convém alcançar é robustecida no silêncio interior; nossa busca é de uma sensibilidade que alcança sintonia com nossas origens.

Sensibilidade é a matriz da terceira visão; a terceira visão é isso: todo o corpo e mente empenhados na captação do que é sutil e que se encontra por trás da realidade concreta; a sensibilidade possibilita uma leitura pelo lado de dentro de tudo. Sensibilidade é sintonia resultante do vazio de qualquer pensamento; o vazio de qualquer pensamento forma espaços por onde um fio condutor alcança nossos estados de alma cada vez mais sintonizadores com a singularidade de nossa vida.

Vida Clandestina (24/02/2006)

Sabe um produto pirata? É reproduzido na clandestinidade, sem a participação do autor, entra contrabandeado.

Fazemos da vida uma cópia clandestina, sem a participação do autor; nossos filhos entram neste mundo como produtos fora da lei. Por isso eles são neuróticos, psicóticos, alérgicos medrosos, inseguros e portadores de doenças de fundo desconhecido. Nossos filhos são produtos de pirataria.

Como foi que o Criador fez o homem? Pegou o barro, modelou-o, corrigiu as arestas, soprou. Se são metáforas, não importa; o importante é ressaltar a atenção que o Criador dispensou a sua criatura, no ato de trazê-la à vida: pegou o barro, modelou-o, corrigiu as arestas, soprou.

Como é que nós fazemos um filho?

Ela se concentra nele para tirar o maior proveito do momento; ele se concentra nela para tirar o maior proveito do momento.

O filho que nasce de fecundação assim, nasce entre dois egoísmos, sem vínculo com o autor da vida; não se reproduziu a atenção do Criador dispensada à criatura.

Assim, a alma perde o vínculo com suas origens.

Todos os traumas, apontados na primeira parte deste texto, são decorrentes dessa desvinculação da alma com a Fonte.

Num ato de reprodução, ela deverá centrar-se no coração; ele centrado na mente, no cérebro, cada um dotando o filho com as energias de seus pólos respectivos; ali o Criador dispôs seus atributos. Queremos ser pais? Temos de abdicar de nós mesmos, em favor dos filhos.

Maria abdicou de si mesma: faça-se segundo a tua vontade; o Filho nasceu um luminar.

Etapas de crescimento (Em 24/02/2006)

O sagrado está dentro de nós, todavia nunca interfere em nossa vida; se interferisse, cometeria injustiça contra os menos dotados; como faz então? Ele coloca seus dons infinitos para que cada um se sirva quanto quiser. A vontade, a coragem, a fé são alguns deles.

A mente é um desses dons disponíveis de que o ser humano se utiliza para se desenvolver pelo próprio esforço; nosso esforço pela mente se verifica em três os estágios:

a - dos órgãos dos sentidos;

b - da vontade

c - do coração.

Pelos órgãos dos sentidos, atuamos sob o movimento: guerreando, utilizando-nos da palavra para esclarecer os homens, rezamos, manipulamos o bisturi e ouvimos os clássicos.

A segunda é a fase de atuarmos sobre nós mesmos; só pela vontade podemos vencer os monstros de dentro: língua solta, inveja, preguiça, ódio e outros; pela vontade, desenvolvemos uma considerável cultura direcionada aos diversos campos do saber.

A etapa de trabalharmos com o coração já nos é bastante conhecida: mente e coração sintonizados: atuação fora e dentro de nós mesmos.

- Não é o caso aqui, mas eu nunca li nada no Cristo que fizesse qualquer referência a esses assuntos sobre etapas da mente; você não estaria confundindo com o oriente!

- Lá como cá o ser humano é o mesmo: dotado de mente e coração; ambos precisam ser

exercitados com equilíbrio.

- Então eles lá também estão em desequilíbrio!

- Acostumados a lidar com o lado de dentro, têm de sair de si mesmos para enfrentar o mundo do movimento; a tecnologia está se impondo a seu silêncio.

- Então no ocidente nós temos modelos de nos apontar caminhos para dentro de nós mesmos!

- O caminho mais curto é o que vai da mente ao coração.

- Sonegar esse saber é prejudicial?

- Retarda o desenvolvimento mental humano e tumultua a interioridade do sonegador.

Experiência do jardineiro (Em 17/02/2006)

- Admiro seu hábito de plantar árvores; não entendo por que não costuma molhar o que plantou.

- Sabe moço, se eu molho, as raízes sobem e esperam a água de cima; mas elas precisam descer para alcançar a água no fundo; sem isso, elas não resistirão ao primeiro pé-de-vento.

Esse jardineiro é um filósofo; sua resposta é extensiva a todos nós.

Quando se trata de edificar o ser humano, há de se cuidar que as raízes desçam; cada um tem de acionar a própria vontade, mover-se pela fé em si mesmo, pela vivência pessoal para adquirir resistência aos temporais; as raízes de cada um têm de alcançar o mais fundo, até a fonte, para se alimentarem nos mananciais sagrados;

A alma é o mestre interior; o mestre interior deve ser alcançado pelas raízes da árvore que eu plantei; é deixá-las que desçam; eu rego minhas raízes quando eu não me vejo como vítima, quando aprendo a abdicar do que me é supérfluo; toda vez que eu perdôo com o coração, as raízes descem mais um pouco.

Se a tarefa é a de conduzir a mente a coração, é só isso que eu devo fazer, no silêncio de mim mesmo; para um contato com o coração, podemos vivenciá-lo por desenho, estudar suas partes por dentro, estabelecer a diferença entre a mecânica e a mística do coração. Isso é fincar as raízes na própria interioridade para que possamos descer à fonte de água viva e resistir aos temporais.

Deus (Em 17/02/2006)

- Deus não existe; esse negócio de Deus é conversa mole pra sacar dinheiro dos incautos.

- De que a consciência te acusa?

- Como me acusa! Eu tenho a consciência limpa; não venha com essa não!

- Se aceitas que tens consciência, Deus emanou da consciência.

- Pra falar dessas coisas precisa dessa linguagem sem pé nem cabeça!

- Referes-te à bíblia? A linguagem é figurada para que desenvolvas a inteligência na busca de sua compreensão. Vê este exemplo: havia um farmacêutico que dizia exatamente isso de Deus;um dia chegou um menino esbaforido, o pai muito mal; descreveu os sintomas; o farmacêutico entregou e indicou como usar certo remédio; o menino saiu na flecha que o tinha trazido; súbito, o farmacêutico percebeu que dera, por engano, uma mistura de alto poder corrosivo; o homem morreria em pouco tempo; onde morava? O desespero, a família, o sustento, a prisão, a negligência o acusava; na aflição, prostrou-se e suplicou por uma ajuda; estava assim quando lhe bateram no ombro; era o menino.

- moço, por favor, eu já estava perto de casa, caí e quebrei o vidro que você me deu; você pode

me dar outro?

- Ah! Isso foi coincidência!

- É prudente não contar com coincidência assim! Este cidadão precisou de um grande susto para entrar em si mesmo.

- O texto não fala de Deus, mas deixa perceber uma forte alusão a Deus.

- Assim são as narrativas da bíblia; a distância dos fatos narrados, a falta de convivência com a história de suas personagens não nos permitem estabelecer paralelismos.

- O defeito está em nós...

- Um espírito de luz interior não critica; sem luz interior, os textos sagrados são tinta desbotada.

- Dizem que os astronautas voltam de suas excursões interiorizados.

- Antes do vôo, eles se despojaram inclusive da vida; aquela imensidão vazia se insinuou dentro deles; o espírito se percebeu entre as duas dimensões das profundezas de Deus.

Os Opostos (Em 10/02/2006)

Tudo se equilibra em pares de opostos; são opostos apenas porque assumem direções diferentes, a fonte é a mesma; os opostos estão na raiz de nosso ser; compete a nós um esforço de trabalhar ambos que se equilibrem.

Quando os opostos se equilibram, dão origem a um terceiro elemento: o um.

Mente e coração são opostos por direcionamento; quando se relacionam, dão origem à luz, à consciência, à sabedoria; se o direcionamento é diferente, as energias são diferentes: a mente é regida pela energia do movimento, da força, de aceleração do pensamento; o coração é regido pela energia fina, atua no ambiente do sagrado; nele são despertadas nossas potencialidades internas.

Para isso é que as energias se encontram nele; o coração é o lugar do repouso; repouso não significa descanso, mas ausência de pensamento; no repouso habita a alma; a mente está em repouso quanto mais se esvazia.

Cristo diz: “eu e o Pai somos um”, e nós entendemos: o Filho se dirige ao Pai pela verdade; o Pai se identifica com essa verdade; dessa identidade oriunda do Filho, surge uma terceira entidade: a Luz; este terceiro elemento é o Espírito Santo, o UM.

Dessa idéia de opostos, fica-nos a orientação de que devemos deslocar a mente para o lado oposto a qualquer obstáculo; a dor por exemplo: se ponho a mente no lugar da dor, estou pressionando o lugar e causando mais dor. Se eu deslocar a mente, para outra parte isenta de dor, vai aparecer um terceiro elemento que não é nem dor nem pressão; é alívio; eis aí uma bela dica a ser experimentada na cadeira do dentista.

Desvio de Foco (Em 07/02/2006)

Nem todos os que alcançam a própria interioridade realizam-se interiormente.

Tudo depende da intenção que motivou a descida.

A arte é resultado de uma descida, mas é sabido que muitos dos grandes artistas não alcançaram a paz a que tanto aspiravam.

Quando a mente se esvazia e desce ao coração, é feita a limpeza de velhos traumas; no entanto, o artista não faz essa limpeza porque desce ao coração com um objetivo: encontrar um fluxo para sua arte; a intenção é de quem procura; não é de se esvaziar.

Assim, seus agentes psicossomáticos não são libertados e se agitam ainda mais porque sentiram aproximar-se uma libertação que não se verificou.

Não sei se me expresso bem, quero dizer que, ao longo de nossa vida, nós acumulamos traumas oriundos do mundo do movimento: frustrações, revezes, ódios e outros; eles levam o movimento para nosso lugar de repouso no coração; aí eles agitam o ambiente e se manifestam sobretudo pelos conflitos, os sonhos, as reações intempestivas, as doenças e outros; quando a mente se esvazia e desce ao coração, eles são liberados; como o artista desce objetivando sua arte, a mente dele não está vazia e os traumas não ganham liberdade.

Fica evidente a eficácia da descida ao coração: ou ela serve ao artista com fluxos transcendentes de inspiração, ou se serve àqueles que desejam encontrar a paz interior.

Fora de Foco (Em 07/02/2006)

- Este texto é contrário a tudo o você diz. Veja: “Não olhe acima nem baixo, olhe
dentro de si, onde se supõe que residam astúcia, vontade e poder, ferramentas de
que necessitará para progredir na vida”

- Desculpe. Eu não entendi; em que parte este texto se opõe, a quê?

- Você não tem dito que, dentro do homem, se encontra a luz, as virtualidades!

- Sim.

- Então, astúcia, desejo de poder são virtualidades!

- Seu texto manda olhar, mover os olhos; nosso empenho é de descer com a mente.

- Confundi! Mas por que essa distinção, por que os olhos não alcançam?

- Os olhos não são fonte de energia; não podem fazer pólo com o coração.

- É por isso que em vez de despertar potencialidades, surge a malícia!

- O coração desamparado é um depósito compulsório da soma de nossos traumas.

- Precisa de ajuda para ser desafogado...

- Você o disse.

A Alma (Em 03/02/2006)

- É a consciência atuando em todos os espaços vazios de nosso corpo.

- Você disse que a Consciência está também no vazio interior do átomo...

- A alma está no átomo.

- Se são milhões de átomos, nosso corpo é dotado de milhões almas!

- Diversos copos estão cheios; a água é uma só; independente dos recipientes.

- Se da Consciência emanam partículas mínimas, a alma também emite partículas mínimas?

- A alma é uma fonte emissora de partículas para nutrir a mente naquilo em que se ocupa.

- Mas... se a consciência está no átomo e o átomo está na pedra, homem e pedra são o mesmo!

- No ser humano está a alma; a alma ativa a inteligência; à pedra faltam esses atributos.

- É. Na pedra está o átomo; o átomo da pedra está sujeito ao movimento; pelo pensamento, o homem é capaz de opor a mente ao próprio movimento...

- A alma libera partículas de si mesma; compete ao homem se abrir à recepção dessas partículas.

- As partículas saem dos átomos; os átomos estão no homem, por que o homem não pode dispor dessas partículas quanto quiser?

- A água do lago está disponível; mas só chega à casa pela vontade de você abrir uma valeta.

- E quando o corpo morre, como fica a situação?

- A alma se liberta no espaço; o espírito se orienta pelas virtudes que praticou neste plano.

- Ocorre-me a idéia de uma sonda: aqui está apoiada no foguete; após o lançamento, o

foguete se desprende e a sonda segue só...

- Existem pequenos foguetes de correção da trajetória; no espaço, o espírito terá sua trajetória

orientada, corrigida pelas práticas de ações perenes; por elas, ele se comunica com a base...

- E as pessoas simples, os pobres, os desamparados... O que acontece em outro plano?

- A dor ou o estômago chama para dentro delas mesmas; o espírito sai daqui interiorizado.

- Mas eles não desenvolveram a inteligência!

- A relação que estabeleceram do espírito com a alma é um ato inteligente.

- Se os átomos formam o todo da alma, como se comunicam para que haja unidade?

- O silêncio é sua linguagem

Solidão (Em 03/02/2006)

É um vazio dolorido, uma saudade de algo que se desfigurou no tempo, mas que permanece em minhas retinas... Pode ser também um meio de se promover o encontro com a realidade interior.

A solidão assume caráter de recurso quando me submeto ao isolamento, seja por um retiro, ou por abdicação de mim mesmo, em função de um ideal mais alto. Resulta de uma aspiração por encontrar as virtualidades internas, de maneira que a solidão passa a ser desejada e seu contato, quanto mais intenso, mais faz se aproximarem os arcanos da luz que residem no interior do ser humano.

A solidão vazia, essa é dor sem ferida; resulta de meu olhar constante para fora, para o passado; acontece que, olhar para o passado é afastar-me de minha realidade aqui; isso me torna vulnerável, sem perceber, eu alimento meus opressores; eles ganham corpo e formam, em torno de mim, um cinturão de desespero pontiagudo.

Procuro apoio em algo que me escapa; as amizades de outrora se diluem e eu permaneço isolado, sequioso de um afeto, de um olhar, da voz de quem não mais existe; se existe, mudou o foco de interesses e eu não acompanhei essa mudança por circunstâncias mil. Sinto a mente cansada, doída e amarga; o coração parece encolher-se ante um rol de saturações que tornam meus olhos vidrados; eu sou menos eu.
Penélope, a esposa de Ulisses, sediada pelos pretendentes, é bem a representação de nossa mente enclausurada pela falta de algo que eu perdi no tempo e que procuro reaver em vão; o marido da mente é o coração; se o coração não pode chegar à mente, a mente pode descer ao encontro do esposo; se descer, os dois se queimarão de amor. O verdadeiro amor que tudo une e tudo constrói é aquele que se verifica na câmara secreta de nosso coração; ali os pretendentes não conseguem penetrar, porque o silêncio de dentro os repulsa e eles se esfumam no nada de onde vieram.

Se a solidão de fora for conduzida ao coração, no coração está a solidão de dentro; as duas se fundirão numa vivência nova, emanante dessa região de luz

Mente (Em 27/01/2006)

A mente é Deus em nós; Deus a nosso serviço submetido à vontade humana; são três as opções de direcionamento:

a – para fora do homem;

b – para dentro do homem;

c – alternando atuações fora e dentro do homem.

Dar preferência aos extremos a e b não atende à condição humana, porque é trabalhar apenas um dos pólos, não equilibra opostos. A mente humana tem de alternar suas atividades de dentro e fora do homem. Assim os atributos de fora se conciliam com os de dentro ou o Filho Deus se concilia com o Pai e surgem valores novos: sabedoria, verdade, amor e outras.

Quando a mente alcança o coração, ela se desestabiliza em novo espaço por dois motivos:

- encontra um ambiente agitado pelos componentes de nosso inconsciente; eles se agitam por sair.

- mesmo que haja quietude interior, a mente, oriunda do movimento, não se adapta tão facilmente ao silêncio de dentro.

Durante o tempo de nossa idade, ela esteve voltada para a dispersão; agora não lhe é tão simples adaptar-se; então ela deve ser amparada, acompanhada, mesmo que se desvie e, aos poucos, ser trazida de retorno à casa do Pai, porque a mente também é filha do silêncio.

Consciência (Em 27/01/2006)

A Consciência é o Pai, a origem de tudo; o Princípio. Ocupa todo espaço vazio, desde o interior do átomo até o intervalo entre galáxias. Da Consciência emanam partículas mínimas de que se compõe o universo; saídas de sua Matriz, nessas partículas se convervam, em estado latente, todos os atributos de sua origem.

Do alto do monte, olha-se para os vales e se vê aquela massa branca de névoa; é a figuração da Consciência, mas a névoa tem limite; a Consciência é ilimitada. Da névoa, são expelidas infinitas partículas; assim também emanam as partículas da Consciência: uma força as impele em sentido oposto à Matriz; quanto mais afastadas, mais perdem o impulso e se solidificam. Sem perderem os atributos de sua origem, elas se esquecem de onde vieram; são conduzidas ao léu pelo movimento; elas despertam lentamente a inteligência e passam a se mover ascendentemente; encetam a viagem de volta, pelos degraus da natureza: a pedra, o vegetal, o animal, o homem; não conta o tempo.

Da Consciência emanou a Mente, Deus, o Filho; tendo deixado a Consciência, Deus se percebeu dotado apenas de inteligência e razão; a Consciência se internou na interioridade de Deus; Deus estava só, em desequilíbrio por falta de seu oposto; então Deus se voltou para fora de si mesmo e organizou o universo apenas com seus dois atributos; desequilibrado, por falta de referencial, Deus se manifestou: arrogante e indiferente aos sofrimentos de Jó, Jó 39 - violento Ex 34,13 - Irado Nm 11,1 e 11,10 - Furioso Ez 38,19 - Vingativo - 2Rs 9,7. Dormitavam nele os atributos de humanidade.

Os profetas foram espelhos para que Deus visse como superar as vicissitudes com amor, com paciência; por eles, Deus despertou em si mesmo suas latências; Jó lhe foi exemplo de interiorização, abdicação, entrega de si mesmo, esvaziamento.

Deus desceu à terra, o lugar de onde procediam os estímulos com que passou a se identificar; Deus se humanizou em Cristo e se religou com o Pai; “Eu e o Pai somos um”. Jo 10,30.

Se se tornaram UM, é porque conciliaram seus opostos; de fato: Cristo Deus é a mente; a mente atua no mundo, na matéria, voltada para fora; o Pai atua no vazio, contido em si mesmo; quando se tornaram UM, conciliaram os opostos; opostos conciliados emanou uma terceira entidade: o Espírito Santo, a Luz.

Percebamos: o que aconteceu com Deus, acontece com todos os homens; a tarefa é de repetir o itinerário que Deus percorreu de fora para dentro de si mesmo. Precisamos saber essas coisas para que entendamos de onde vem o princípio que nos orienta a promovermos o encontro do Filho, a mente, com o Pai, a Consciência, no vazio de nossos pensamentos, para que a Luz se faça em nosso coração.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Maria Madalena (Em 20/01/2006)

“A mulher foi criada por causa do homem e não o homem por causa da mulher” (1). Entendamos: a mulher foi criada pela causa do homem, para defender a causa do homem e não o homem para defender a causa da mulher; por isso ela foi incumbida de “esmagar a cabeça da serpente”. (2)

Eva passou para a história como a sedutora, Adão, a vítima; a história quer nos incutir a idéia de que Maria Madalena era pecadora; não podia ficar entre os apóstolos.

Essas afirmações são falsas.

Eva estaria cumprindo o papel a que foi designada se tivesse seduzido Adão; o papel que Eva deveria desempenhar era o de gerar, dar à luz (2)

Maria Madalena era pecadora, mas o Cristo expulsou dela sete demônios (3). Então ou ela ficou limpa ou não ficou limpa; se não ficou limpa, o texto de Marcos não é verdadeiro! Como se explica que se tornou guardiã, confidente do Cristo? Se ficou limpa, por que se lhe conserva ainda a pecha de pecadora?

A causa é outra: os apóstolos não suportaram a idéia de serem orientados, conduzidos espiritualmente por uma mulher, de quem tinham tido ciúmes; ignoravam que o homem sempre será orientado por uma mulher.

Maria Madalena na condição de pecadora, não teria afinidades com o Cristo para expor a própria vida, permanecendo ao pé da cruz; Maria Madalena pecadora não poderia ter sido a primeira a ver o Cristo após a ressurreição. (4)

Maria Madalena era mística; faltam à história parâmetros para uma análise mística; a história permanece na periferia; até hoje Maria Madalena continua apóstola de Cristo: agora ela se serve para demonstrar o quanto os homens se apegam à história, vivendo num passado distante da própria realidade.

Maria Madalena foi reprimida porque estava acima do ambiente que tentou freqüentar e, embora fosse daquele grupo, “os seus não a receberam”.

(1) 1Cor 11,9 - (2) Gn 3,15-16 – (3) - Mc 16,9 – (4) – Lc 16,9

Diabete (Em 15/01/2006)

O pâncreas é um órgão catalisador de energias do movimento em nosso corpo; do movimento são as energias de força, destruição, assimiladas em traumas, revezes, e da energia do “inconsciente coletivo”; se essa energia assimilada não for liberada, acumula-se; quanto mais se acumula, mais o pâncreas tende a se desestruturar, tornar-se um agente de doenças físicas de origem desconhecida. Nisso está a causa do diabete.

Um pâncreas fora de seu ritmo irradia ondas de movimento para certo ponto do corpo; se esse ponto não der vazão à energia recebida, se esse ponto estiver “entupido”, ali a energia do movimento se acumula, dilata os tecidos e surgem as doenças sem causa aparente: no ovário, na próstata, nos rins, no estômago, coração, na tireóide, no cerebelo.

Uma das extremidades do pâncreas está próxima do umbigo; a outra está próxima dos rins. Pela concentração nessas extremidades, é possível fazer escoar a energia; saída a energia, o pâncreas se liberta da pressão a que estava submetido.

- respirar concentrando-se dois centímetros fora do umbigo;

- aspirar concentrado-se em dois centímetros nas costas, atrás dos rins;

- fazer isso alternando a entrada da energia, ora pelo umbigo, saindo pelos rins, ora pelos rins,saindo pelo umbigo

- com a prática, a energia flui horizontalmente e o pâncreas libera as energias retidas.

A energia do movimento está a serviço de nossa vontade; se desconhecemos qual o direcionamento a dar a essa energia, ela fica à mercê das circunstâncias e, por ser do movimento, onde parar, dilata o lugar; passamos a combater o efeito, sem que a causa seja levada em consideração.

Diabete é o efeito de uma causa decorrente de energias não canalizadas; cabe bem aqui a afirmação de que “águas paradas criam répteis”.

A chave é fazer concentrações com a mente quanto mais vazia de qualquer pensamento.

Depressão (Em 15/01/2006)

É causada por um alvoroço interno; algo que quer sair; não encontrando a porta, derrete-se dentro de mim e eu fico com aquele vapor quente em minha interioridade. Ninguém entende esta sopa de maus presságios porque ela é formada pelos ingredientes de minha vida.

Três são as causas principais:

a - algo que eu pretendia fazer, criar; ficou retido no fundo de minha psique;

b – um saber que eu soneguei a alguém;

c - uma intuição profunda de algo coletivo por acontecer e cuja significação me escapa;

Dois tipos de exercícios são de fundamental importância:

- manter os nervos da testa esticados para cima ou repuxar a sobrancelhas para trás, o mais tempo possível, sobretudo dormir nesse esforço;

- escrever o mais que puder, sobre meus dons que eu gostaria de ter desenvolvido, algo de minhas aptidões a que eu não me empenhei com afinco, uma injustiça ante a qual eu me calei.

Não é suficiente falar a alguém sobre isso; não é suficiente interpretar; é preciso escrever; quando eu escrevo sobre esses assuntos, eu desço ao local da ferida e puxo de lá o agente.

Quanto á segunda hipótese, é própria de pessoas sensíveis: a alma em sintonia com algo que lhes escapa. O melhor dos exercícios é conduzir a mente a entrar no templo de nosso coração e expulsar de lá os vendilhões que querem transformar minha casa num covil.

Se a depressão é uma doença que repercute na mente, é preciso retirar a mente do lugar onde ela se encontra doente; é preciso conduzi-la ao repouso no coração de onde a luz expulsará os males que me afligem.

Descida ao Coração (Em 13/01/2006)

1 - Buscai, portanto, em primeiro lugar, o Reino de Deus, e sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo – Mt 6,33

Se temos de buscar o Reino de Deus, é porque esse reino está a nosso alcance;

Se é reino, aí habita um Rei; como o reino é de Deus, Deus habita no reino que devemos buscar;

Os verbos indicam ação a partir do presente porém, atualmente Deus não fala aos homens.

Podemos deduzir que Deus habita um reino de silêncio.

O homem só pode alcançar o silêncio pela mente

No cérebro, a mente não pode fazer silêncio porque está sujeita à lei do movimento,

Logo, é preciso deslocar a mente e “buscar”

Já sabemos que, quando a mente se desloca, faz-se a luz;

Feita a luz, nossos traumas psicossomáticos fogem dela;

Com a ausência de nossos traumas, os atributos de Deus dentro de nós que se achavam bloqueados retomam seu lugar por herança;

Na libertação dos atributos de Deus em nós está a prática da justiça.

Esclarecer (Em13/01/2006)

Dou-vos um novo que vos ameis uns aos outros como eu vos amei Jo 13,34 – 15,12

Cristo nos amou esclarecendo-nos, tirando de si tudo o que fosse de útil à nossa consciência; ele mesmo afirma: ensinei-vos tudo o quanto ouvi de meu Pai Jo 15,15. Já se percebe que o Cristo se esvaziou de todo saber; também nós devemos passar adiante tudo o que sabemos; em outra parte, ele afirma: os pecados contra o Espírito Santo não serão perdoados

Lc 12,10.

Peca-se contra o Espírito Santo quando se:

- induz uma mente inocente;

- retarda o desenvolvimento mental do outro por sonegação do saber.

Esses pecados não perdoados obrigam o espírito a voltar à terra para devolver o que levou daqui.

Por fim, os Cristo adverte os doutores: ai de vós, Doutores que tomastes a chave da ciência, e vós mesmos não entrastes, e impedistes os que vinham para entrar Lc 11,52. Esta ciência é a sabedoria; bloquear a entrada dos outros é mais grave ainda.

Há um outro aspecto sobre o qual precisamos refletir: todo saber retido agita-se dentro de nós; atua como se fosse um trauma: esse saber foi assimilado de fora para dentro, do mundo do movimento para o mundo do repouso; no mundo do repouso, ele promove a agitação que traz de sua origem.

Amarmos uns aos outros é nos esforçarmos por acender uma luz em nós mesmos, a fim de que o outro possa encontrar um referencial para a própria iluminação.

Oração (Em 08/01/2006)

3 - “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, ora em segredo a teu Pai; e teu Pai, que vê o que se faz em segredo, recompensar-te-á” Mt 6.6

“Entra no teu quarto.”

O corpo humano tem três partes: cabeça – tronco – membros.

O quarto é o coração: quando quiseres orar, entra no coração e fica ali em silêncio.
Quando se faz silêncio no coração, afluem músicas sobretudo aprendidas na infância, afluem assuntos desagradáveis, desejos agudos e outros; é a faxina no coração; é só prosseguir com o silêncio.

“Teu Pai” é a Consciência de cada um, diferente em cada pessoa, proporcional ao silêncio, por abdicação que cada um fizer.

A oração, conforme o texto, consiste em entrarmos em sintonia com nossa Consciência pelo silêncio no coração. Só o ser humano pode criar espaços vazios que possibilitem a manifestação da Consciência Divina em nós.

O silêncio que nada pede é o silêncio que tudo alcança.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Espírito (Em 07/01/2009)

Meu espírito é o que eu sou; sabe o que eu sei; é minha imagem impressa na energia de que me utilizo; meu espírito sou eu. Não confundir com o Espírito de Deus nem com o Espírito Santo; esses atuam de cima para baixo; meu espírito atua de baixo para cima; cada entidade tem seu espírito; nós somos entidades com o espírito em formação; para tanto, precisamos saber que:

a – a luz, a sabedoria, a consciência emanam da alma para o espírito, quando este pratica ações com as quais ela se identifica: esvaziamento, verdade, o amor, justiça e outras.

b – todo saber assimilado por um espírito precisa ser passado a outras consciências; reter um saber que seria útil ao desenvolvimento espiritual de alguém é romper com a alma; o espírito terá de voltar a este plano para restabelecer o elo perdido.

c – as ações, boas ou más, de cada espírito impregnam a energia de que ele se utiliza; passando para o outro lado, ele terá de se haver com essa energia na qual estão impressas suas marcas.

e - quando um espírito encosta, ele esquece seu passado; permanecem apenas vínculos
inconscientes de suas experiências anteriores; elas se manifestam por: força, doenças,instintos; há outras manifestações por intuição; essas são tidas como dons.

f – essas idéias pretendem ater-se exclusivamente ao campo da orientação, apontar
Procedimentos que despertem no espírito a consciência de si mesmo.

Espírito que dorme (Em 07/01/2009)

Fala-se de espíritos em estado de dormência ; falta a eles a consciência de seu estado; perderam o ponto de referência em si mesmos. Uma história da Internet ilustra o assunto: o Cristo resolveu descer à terra; trabalhar num hospital público; uma longa fila; um único médico cansado, estafado. O Cristo se dispôs a substituí-lo.

- entre o próximo paciente!

Entrou um sujeito esquálido e torto, numa cadeira de rodas, movendo-a com extrema dificuldade.

- levanta, pega tua cadeira e vai para tua casa!

Levantou-se, pegou a cadeira saiu. Os da fila lhe perguntaram como era o novo médico.

- igualzinho aos outros; nem se levantou para me examinar!

Aquele espírito estava preso à tradição dos que só criticam; por falta de referencial interno, não se identificou com a verdade; é que a verdade possui um brilho que aprofunda o sono dos que estão dormindo como aquele que nem se percebeu curado.

Espírito desperto (Em 07/01/2006)

A professora passou tarefa para pesquisa sobre as sete maravilhas do mundo. No dia aprazado, sete grupos afinados nas exposições, fotos, cartazes: as pirâmides, a muralha, o canaltudo certinho, tudo recheado de história e memória.

Lá no fundo, a Ana Luisa, entre duas olheiras, esbanjava sensibilidade; uma corda de violino naquela confusão loquaz.

- E você Ana, não fez o trabalho!

- Fiz professora, mas acho que...

- ...deixe-me ver.

O caderno. Oito folhas de letra bem cuidada, requintes de ilustração: a professora folheou as páginas, sintonizou aquela sensibilidade exposta e leu para a classe: “as sete maravilhas do mundo são:”

ver – ouvir – sentir – provar – tocar – rir – amar.

A sala se pôs num silêncio grosso.

A menina estabeleceu uma progressão de fora para dentro:

1 - os órgãos dos sentidos, exteriores, de aplicação no mundo;

2 – o rir, é já uma expressão de dentro para fora;

3 – o amar que se realiza nos espíritos de estreita relação com a própria alma.

Os espíritos daqueles grupos se ativeram aos atributos exteriores: os sentidos e a

memória; tudo cópia; nada expuseram de si mesmos.

A Ana passou pelos sentidos e avançou para dentro de si mesma; um espírito versado no roteiro que devemos encetar, rumo ao mundo do coração, onde se encontram todas as maravilhas

O Homem (Em 03/01/2006)

O homem se edifica pelo que pensa; afirma-se que pensar é um ato de liberdade; mas o pensamento do homem ainda não explorou as duas dimensões do ser humano; o homem não foi orientado a descer a sua interioridade, não pode ser livre. Dentro dele gritam os conflitos de atuar com apenas metade de seu potencial.

Ao longo do tempo, ele vem sendo avaliado por seu poder de força, pelas decisões e bravuras, pelas resoluções rápidas; acontece que essas valorizações estimulam o homem sempre mais para o lado de fora e ele se distancia de sua interioridade.

A razão é outro fator de manter o homem afastado dele mesmo; a razão lida com fatos concretos, submete tudo à lei de causa e efeito; a razão limita o campo de atuação da mente humana porque quer respostas concretas e o concreto é exterior ao homem.

O homem não foi estimulado a descer com a mente a coração. Resulta disso que ele não sabe se verticalizar; precisa de ambiente propício ou de convivência duradoura com uma mulher: mãe, filha, irmã, esposa, ou outra.

Verticalizar-se é descer com a mente ao coração e aí auscultar a segunda dimensão de si mesmo; como o homem já atua no mundo do movimento, aquele que se verticaliza equilibra os pratos da balança; o homem procura a paz do lado de fora de si mesmo, mas a paz é interior.

O primeiro homem tinha acabado de sair das mãos do Criador; este lhe fez a advertência sobre não comer do fruto da árvore; a mulher não existia ainda!

A intenção do Criador era que, tendo acabado de ser feito, o homem ainda estava zero
quilômetro, ainda estava dentro do coração; a advertência foi para que ele não saísse do coração;

Leitura da bíblia (Em 02/01/2006)

Uma senhora de noventa e cinco anos levantou uma dúvida: “Por que, no meu tempo de colégio, as meninas, mesmo do colegial, não podíamos ler a bíblia”?

Considerações: Se as meninas não podiam ler a bíblia, é porque alguma coisa se esconde por trás das metáforas que a mulher, ao tempo da consulente, não deveria saber; ela poderia levantar questões de causar embaraços, dada a pouca abertura religiosa de então.

Resposta: diz a bíblia que primeiro veio o homem; a mulher veio depois; ela é está no meio entre Deus e o homem; está mais próxima de Deus; se a mulher se tornasse versada na leitura da bíblia, decerto ela:

- tomaria consciência de sua condição de intermediária, advogada do homem.

- perceberia sua inocência na trama que se estabeleceu contra ela, ao longo do tempo.

Isso aconteceu para amparar o homem; se a mulher soubesse dessas coisas, tê-lo-ia deixado de lado, em função do acentuado machismo e resistência masculina. É incumbência dela “esmagar a cabeça da serpente”; tirar o homem do sono e despertá-lo para as potencialidades do sopro que o Criador infundiu nele. A mulher fustiga o homem no lar para que ele aprenda a ouvir; seu machismo não o deixa comentar com os outros homens e ele se interioriza: vê sem reclamar; aprende a abdicar em favor da família; aprende a ceder pelo silêncio.

Muito do que se disse contra a mulher no velho e no novo testamentos foi no sentido de mantê-la afastada da ocupação religiosa, para que o homem não se percebesse menos dotado no exercício de lidar com o próprio espírito e praticar a doutrina que ela já tem dentro dela mesma.

Essas coisas tinham de ser veladas sobretudo ao feminino de um século atrás. Entende-se agora por que Maria Madalena não foi aceita entre os discípulos.

Objeção (Em 26/12/2005)

È proposta inicial que estes textos só discutam questões que se relacionarem com a interioridade humana; a objeção abaixo se relaciona com a interioridade humana; então a objeção abaixo deve ser discutida.

Objeção: - “O homem conta com a graça santificante; há homens que são iluminados pelo dom de Deus; não acredito que o homem possa conseguir a própria salvação, sem a ajuda de Deus.”

Resposta: - A graça está no vazio, no vácuo; o homem está em meio ao movimento; a graça não pode sair do vazio, entrar no movimento para “ajudar” o homem; o homem sim, precisa se esvaziar para que a graça preencha o vazio que ele fizer em si mesmo.

A graça está em disponibilidade como a água no copo; ela não vem até mim, sem minha adesão, sem meu esforço. Assim é a graça: ela está em disponibilidade e preenche qualquer espaço vazio; o vazio no homem se faz pela ausência de pensamentos, que acumulam desejos no coração.

Homens “iluminados pelo dom de Deus” são aqueles que encontraram Deus neles mesmos; Deus põe seus dons à causa de todos; se apenas alguns encontram esses dons, é injusto atribuir sutilmente discriminação a Deus, pelos dons que uns têm e outros não. A água do lago está em disponibilidade; se quero que ela venha até mim, tenho da abrir uma canaleta.

Deus não intervém em nossa vida; se Deus interviesse em nossa vida, teria intervindo na vida do Filho, num momento de suprema angústia e o Filho não precisaria ter dito: “Pai, por que me abandonaste”?

Pergunta sobre a luz (Em 26/12/2005)

“Se cada um tem sua própria luz por que a escuridão, se há a possibilidade de um clarão”?

A escuridão existe porque todos os homens trabalham com a atenção voltada apenas para as sombras, para um de seus lados; imagine você usando apenas o braço direito; o esquerdo tende a atrofiar; nosso lado de dentro está “atrofiado”; imagine uma balança; você põe peso apenas em um dos pratos; eles ficariam em desnível; nosso lado de dentro está em desnível; o homem dá primazia apenas ao lado de fora. São duas as correntes energéticas no homem; ele se utiliza apenas de uma: aquela da mente, a que circula pelo mundo; falta a outra corrente que flui pelo coração; sem a utilização das duas, não há equilíbrio; o interruptor de fazer que se encontrem as duas correntes é a vontade do homem; pela vontade, o homem une as correntes da mente e do coração e a luz se faz; a luz se manifesta pela sabedoria, visão, intuição, acuidade e outras.

Equilibrar mente e coração eis o requisito fundamental para que a luz se faça.

Este é o caminho; não há outro; pode haver nomenclaturas diferentes, estratégias diferentes, mas a realidade última está aí. Isso não é radicalismo; é valorização do homem porque só ele pode decidir sobre seu destino.

Pergunta sobre a bíblia (Em 26/12/2005)

“Quem mandou fazer a bíblia? Onde está a autorização de Deus?”

São duas perguntas, a segunda responde a primeira: se existe uma “autorização de Deus”, é porque Deus autorizou, então foi Deus que mandou fazer a bíblia; essa dedução, no entanto, é falsa: ninguém mandou fazer a bíblia. Homens que intuitivamente esvaziaram o próprio coração, entraram em sintonia com os planos superiores e sentiram a necessidade de exteriorizar o que se passava dentro deles.

É voz corrente que nós temos dentro de nós as leis, o saber, a luz, a verdade e outros, que são atributos da alma; quanto mais nos esvaziamos de nosso eu e de nosso meu, quanto mais intenso for nosso silêncio interior, mais esses atributos são liberados pela alma, para que o homem os exprima por visões, ou por uma intuição aguda.

Os textos bíblicos foram escritos por homens que libertaram a própria alma e alcançaram um estado avançado de consciência.

Os textos bíblicos são o produto do esforço humano, no tirar de si todos os resquícios psicossomáticos, para que a verdade fluísse livremente.

Deus orientou os passos do homem pelos caminhos do mundo; jamais Deus entrou no homem que não fosse como resposta ao esforço do homem; os textos bíblicos são resultados de vivência interior, por isso nos identificamos com as realidades de que tratam.

A vivência interior não pertence a um tempo, a um lugar; a vivência interior é condição humana; é condição humana exprimir a verdade quando borbota de um coração esvaziado.

Os textos bíblicos são reflexos das luzes de que os diversos autores estavam imbuídos e se dispuseram a preparar a mente dos homens para o que haveria de vir, numa dimensão muito mais avançada rumo ao coração humano; num coração vazio é possível encontrar a autorização que Deus deu ao homem pelo sopro.

Se por um homem entrou o pecado no mundo, pelo homem individual teria de vir a redenção; os textos bíblicos refletem a busca inconsciente dessa redenção que seus autores já pressentiam anunciada pelo Cristo

Silêncio interior I (Em 19/12/2005)

Silêncio interior I

Foi desafio descobrir-se algo que apontasse a direção para o silêncio de dentro; foi desafio trabalhar a mente que se aquietasse; uma mente quieta nada quer, nada pede; dentro de nós não há o que desejar; agora temos o ponto de apoio que Arquimedes procurava: o ponto de apoio é o coração, conduzir a mente ao coração; aquietar a mente e fazê-la permanecer assim; aí está a senha. Quando a mente se aquieta, quando fica em silêncio, no silêncio do coração, a alma tem oportunidade de sintonizar suas origens.

Silêncio interior II (em 19/12/2005)

Se fizermos o silêncio interior, vêm à tona muitos de nossos traumas psicológicos contraídos sobretudo na infância. Dentro de nós, eles se manifestam por: ódio, insegurança, nervosismo, doenças de fundo desconhecido; esses males entraram em nós pelo movimento, e levam o movimento para nosso lugar de repouso: o inconsciente; quando a mente se aquieta, eles perdem o ponto de apoio e se retiram, escapam ao silêncio, quanto maior for a intensidade de nossa concentração; somente assim a alma desperta nela mesma a sabedoria com que alimentar o nosso espírito.

Duvidas (Em 19/12/2005)

- desculpe a pergunta, mas seus textos chamando as pessoas para delas mesmas não
induzem ao egoísmo?

- não é esta a intenção. Egoísmo é apego; o sujeito valorizando em si mesmo qualidades que tem ou que imagina ter.

- mas, por exemplo: eu não gosto que mexam nas minhas coisas!

- ainda não é aí o egoísmo; isso pode ser prevenção: que não modifiquem a ordem de suas coisas; não desvendem segredos pessoais ou coisas assim.

- percebo. O egoísta se enche de pensamentos, ilusões; o intimista se esvazia de pensamento visando a alcançar o zero.

- egoísmo é exaltação de mim mesmo; é insensibilidade ante o desesperado; é a retenção mesquinha do que me excede.

- outra pergunta me surge: essas idéias não são apropriadas para monges?

- elas não distinguem classes e podem ser aplicadas desde o chão batido até o carpete.

- como surge o egoísmo?

- todos nós sofremos revezes que se acumulam em nosso inconsciente,ao longo da vida;
aquilo é um caldeirão fervendo; cada um deles se manifesta pela raiz com que foi plantado.

- sei. Se algum egoísta feriu meu inconsciente, essa ferida se manifesta com a mesma
qualidade e intensidade do ferimento.

- a prática viceja outras raízes.