segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ano Novo - 1/6 ( Em 02/01/2009 )

Vamos começar?

Um dois,
Feijão com arroz.
Três quatro,
Farinha no prato.
           
É um bom começo: que haja alimentos para todos.
            Vez por outra nossas frágeis estruturas balançam, algumas caem, mas nós permanecemos vivos para recomeçar.
            Hoje estamos vislumbrando o ano que passou e o que há de vir; estamos ainda no meio entre a turbulência do passado e a serenidade do futuro. É o que espero para cada um dos que privam comigo nessas reflexões.
            Então é possível inventar a continuação da quadrinha:
Cinco seis
Ninguém no xadrez.
            Se todos estiverem livres, haverá paz entre todos; haverá tempo para sermos mais dedicados, cada um a si mesmo; não só estaremos vivos; seremos mais irmãos e Deus povoará o coração de todos. Estejam em paz.

Carta a São Paulo - 2/6 ( Em 02/01/2009 )

São Paulo, meu querido, eu sempre tive implicância contra você pelo que você diz sobre a mulher; imaginava que você falava ao pé da letra e... Por que não dizer? Achava aquilo desprezível. Só mais tarde eu vim a compreender o que você diz e entendo ser de pura justiça: você se coloca do lado de cá e fala sobre as coisas do lado de lá, daquele mundo de onde veio a mulher. Parabéns Paulo! 
Há uma frase sua sobre Cristo que sempre me causou espécie; eu não encontrava uma linha de pensamento de que você se utilizara para chegar a essa afirmação. Você dizia de Cristo que queria "colocar os inimigos debaixo dos pés" 1 Cor 15,25.
Você percebe quanta dúvida há nessa afirmação? Primeiro que, sendo o Cristo puro amor, como poderia ter inimigos? Segundo que sendo Cristo perdão, como poderia alimentar tanta sede de vingança? Por que debaixo dos pés?
Mas veja como se estreitaram nossos caminhos: eu vivo insistindo sobre o inconsciente; as vozes que vêm do inconsciente atormentar nossa cabeça. Em uma dessas curvas dos caminhos descobri que esses inimigos que Cristo quer colocar debaixo dos pés são essas vozes causadas por nossos traumas; é preciso fazê-los escoar; como vieram da terra, devem voltar para a terra; a parte de nosso corpo que está em contato com a terra são os pés; elas devem ser escoadas pelos pés para a terra. Grande Paulo! Show de bola!
Ai, ai, ai meu querido! Se os terapeutas lerem isso vão me massacrar por ameaça de perderem sua clientela! Já pensou se isso pegasse! Seria por isso que você deixou tão velada aquela afirmação? Será? Deixou que eu a desvendasse!
É muita inteligência seu moço! Acho até que devo bater palmas pra você.
Sobre o que você diz da mulher, eu voltarei em outra oportunidade para mostrar-lhe que, ainda uma vez, eu saí perdendo nessa queda-de-braço com você.
Você é demais, hem Paulinho...

Por que você diz essas coisas? - 3/6 ( Em 02/01/209 )

- por que você diz essas coisas aí!

- eu vivo em reclusão; não falo com ninguém, como posso dizer?

- isso que você escreve!

- são dois os motivos

            a - abrir espaço para a consciência.

            b - tentativa de amenizar os transtornos do inconsciente.

- não entendi nada!

- os povos de alguns séculos adiante viverão o que eu digo.

- devo entender isso como pretensão ou como vaidade!

- quem lida com a consciência não pode estar pulando o muro.

- como você acha que seus textos terão durabilidade assim?

- eles tratam da interioridade humana e a interioridade humana não muda; será sempre a mesma todo sempre.

- só precisa esclarecer sobre ela!

- é preciso abrir caminho.

- você será pioneiro...

- eu serei eu; o julgamento que os homens fazem é dos homens.

- O que é inconsciente coletivo?

- dois aspectos:

            a - pela lei de causa e efeito, tudo retorna na mesma intensidade; ao longo   dos milênios, o mais forte subjugou o mais fraco e esse não pôde revidar  na mesma intensidade. O inconsciente coletivo é a soma dessas sobras de energia de violência, de trapaças e tantas coisas assim.
              
             b - a ignorância que temos sobre a consciência.

- então, o que é consciência?

- é o princípio de tudo; é o Pai de que falam as religiões. A consciência ocupa todo  espaço vazio; desde o interior de um átomo até os intervalos entre galáxias. A  Consciência já presidia o caos, quando tudo ainda eram trevas. Da consciência emanou  a mente, o Filho para pôr ordem no caos; pôr ordem na desordem dentro de nós mesmos.

- essas coisas têm de ser esclarecidas...

- essas coisas serão sempre as mesmas.

- e se amanhã alguém provar que não é assim como você diz?

- pelo menos, nós fomos o banquinho em que esse alguém subiu para enxergar além do muro...

Sabedoria prática - 4/6 ( Em 02/01/2009 )

Um ser humano pode ser culto, instruído; mas para ser sábio, é preciso ter descido às camadas profundas e de lá retornar trazendo uma visão com que atuar no mundo e aplicar o que traz dessas regiões de luz.
Quando se fala em luz, alcançar a luz, não se trata de algo como uma vela acesa, uma lâmpada; quando se fala de luz, a referência é à sabedoria, um contato íntimo com a consciência que ela abra as portas do saber. Luz é a luz do saber; por isso o saber exige uma descida às camadas onde a consciência faz aposento e dali trazer energias de iluminar as atividades com que ensinar os homens.
Sabedoria prática é essa de encontrar as soluções, de intuir os atalhos, de enxergar além e, sobretudo, estar sereno ante as aflições dos outros; por saber que precisa ser pólo de repouso, com que neutralizar a intensidade daquela agitação.
Aquele monge foi desafiado, xingado, humilhado por um cidadão qualquer. Depois de muitos impropérios, o fulano deixou o local; o monge era um covarde; não reagia. Vieram os discípulos.
- mestre, como o senhor suportou tanta difamação! Era só nos dar um sinal e nós...
- filhos, quando alguém traz um recado que não é para vocês, o que vocês fazem?
- não tomamos conhecimento porque não é dirigido a nós.
- o mesmo com esse moço; ele trazia um recado que não era dirigido a mim.
            Isso é sabedoria: saber distinguir e permanecer nos próprios limites. Isso é sabedoria prática: encontrar, na situação, um meio de dar aos outros uma lição de vida.

Pecado - 5/6 ( Em 02/01/2009 )

A palavra pecado, sem grandes incursões à etimologia, é particípio de pecar; pecar relacionada com a semente, o fruto, significa ficar peco, que não se desenvolveu, não amadureceu, enrijeceu.
Aplicada ao ser humano, a palavra pecado significa que em virtude de algo que eu fiz errado, de má fé, pela violência, a energia de minha intenção voltou e atrofiou alguma parte de meu corpo.
É um débito de mim para mim mesmo; nenhuma divindade está envolvida com meu "pecado".
Já afirmei que toda ação nossa é feita por emissão de energia; essa energia vai e volta com a mesma intensidade da emissão; se a intenção foi boa, volta boa: eu fico alegre, feliz sem saber porquê; se foi ruim, volta ruim e causa lesões das mais variadas espécies e na intensidade da energia que eu emiti, quando quis fazer o mal. 
Lembra que Cristo perdoava os pecados? Ele neutralizava a energia de retorno que estava atuando sobre o suplicante. Quando a coisa era muito feia, ele perguntava:
- O que tu queres que eu faça?
- Senhor, que eu veja,
- Então vê, segundo a tua fé; vai; teus pecados te são perdoados.
            A vontade do atual paciente tinha de se redimir do arremesso que fez contra alguém, em algum passado. 
            Toda intenção ruim que eu tenho contra alguém é pecado porque eu estou emitindo energia que voltará para mim mesmo e tornará peca alguma parte de mim.
            Quando ela volta, não volta vinculada à mesma intenção com que foi emitida; ela volta como rolo compressor e se esbate contra qualquer órgão de meu corpo.

Mundo externo; mundo interno - 6/6 ( 02/01/2009 )

O mundo externo é o dos órgãos dos sentidos: vemos, apalpamos cheiramos e o mais. O mundo interno é o da alma. Acontece que entre o mundo externo e o mundo interno está o inconsciente. O inconsciente impede qualquer comunicação entre o mundo externo e o mundo interno, por isso o inconsciente contém também o pecado original; já sabemos que vem de sermos  fecundados inconscientemente. 
Por desconhecermos a luta que temos de travar para dispormos dos atributos da alma, nós nos acomodamos com os atributos do mundo externo.
Os atributos do mundo externo são: memória, razão e inteligência. Com esses atributos nós imaginamos que conseguiremos tudo e não percebemos que estamos dispondo apenas de menos da metade de nossas potencialidades.
Trabalhando apenas pelo lado de fora de nós, fortalecemos sempre mais o inimigo que mora dentro, no inconsciente. Nossos inimigos se nutrem de nossa negligência; eles aproveitam para conduzir a mente a um estado quanto mais de fracasso.
Fomos condicionados a isso e nada fazemos por alterar esse estado de coisas.
Enquanto isso, o outro lado de nós, o mundo interno permanece inexplorado, esquecido, como se fosse algo do outro lado da rua, de algum vizinho em frente; não nos pertence.
Do lado de dentro, existe uma fonte de energia mais poderosa do que aquela de que nos servimos aqui, pelo lado de fora. 
O inimigo existe mais forte exatamente porque nós nunca utilizamos o mundo de dentro; deixamos que tome conta da casa. Pelo mundo de fora, você está em meio à energia de agitação, corre-corre. Pelo mundo de dentro, você precisa aproveitar os momentos em que não está correndo para pensar em seu coração. Chegar a ele sem pensamento, apenas pondo a mente a descansar no coração.
Então duas coisas acontecem:
- você está tirando o inimigo que fez morada em seu coração;
- quando sua mente volta, vem suprida das energias do repouso, com que neutralizar a pressão do
  movimento, aqui de fora.  
Quanto mais constantes forem suas visitas ao coração, mais as energias de fora e dentro vão se ajustando, você vai encontrando a paz.

Os próximos textos ( Em 23/12/2008 )

Por motivo de viagem, a próxima edição desses artigos sairá no dia 01/01/09, à tardinha.
O melhor de meus agradecimentos a você que tem me acompanhado nessa jornada. Não pouparei esforços para lhe mostrar o que existe melhor de você em você mesmo.
Peço-lhe apenas que mande assuntos para serem discutidos, sempre relacionados com a vida humana; eles são colocados numa ordem de chegada; quando saem, você recebe aviso.

Natal - 1/6 ( Em 23/12/2008 )

Muitos fazem do Natal o confraternizar-se? É deixá-los com seus costumes, suas bebidas importadas, seu faisão e amêndoas. Se essas coisas não são consumidas, não haverá trabalho para o lavrador, o operário. Tudo é uma cadeia, todos se ajudam. Em uma espécie de leque, em cujo eixo está o menino nascente.
Se os ricos não se confraternizarem como ricos, aumenta a pobreza: eles deixariam de comprar; se o rico não consome, o mais pobre não tem a quem fornecer sua produção.
Estou defendendo o rico! Não! Estou defendendo a mente que se esclareça; esse tipo de questionamento não constrói; se o natal me cria ensejo que fale mal dos outros, meu natal será hipócrita; não fica espaço em mim para a confraternização.
O importante é que todos, no Natal, estejam reunidos, participando, cada um com sua alegria e todos em torno da criança que nasce como incentivo à criança que precisa nascer em cada um de nós.
Nisso é que está o espírito do Natal: sermos solidários, na medida do possível: fornecer ao outro uma palavra que lhe desperte o sentido maior do Natal.
O Natal comporta tanto os pobres da manjedoura, quanto os ricos do oriente; quando se conciliam em torno do menino, paira sobre eles, uma estrela, o símbolo da luz que espero esteja em seus corações na confraternização de seu Natal.

Curvar-se ante os obstáculos - 2/6

Você, que se propôs a dar prosseguimento a esses artigos: meu endereço está bloqueado em seu computador; por isso você não recebe correspondência minha nem eu recebo correspondência sua. Tente novamente instalar o endereço abaixo: manoel.nery@uol.com.br  Curvar-se diante dos obstáculos é um exercício de paciência. 

Curvar-se não significa capitular, render-se. Curvar-se é respeitar os obstáculos; manter deles a devida distância, mas buscar outras vias de superação, sem se envolver com a intenção de quem tramou o entrave.
Os lutadores se saúdam por um curvar-se ante o outro; não quer dizer que vão desistir da luta. Curvar-se é isso: ser capaz de respeitar, de perdoar, sem perder a determinação de alcançar os próprios objetivos.
Por outro lado, os que não sabem curvar-se lembram aquele carvalho tombado pela ventania e lamentando-se:
- eu, uma árvore nobre aqui no chão e esses capins rasteiros me incomodando com seu barulho de conversa mole.
Os capins responderam:
- Caíste porque não sabes curvar-te.
Curvar-se é saber esperar; esperar com paciência.
Curvar-se é reconhecer o erro; é aceitar a opinião do outro, se for melhor; curvar-se é saber perder inclusive para o filho, para o aluno visando a que ele estimule as próprias virtualidades.
Quem sabe curvar-se chega primeiro a si mesmo.

Santo Daime - Respondo - 3/6 ( Em 23/12/2008 )

O Cauê quer saber qual é a impressão que se deve ter do Santo Daime. Eu tenho uma boa impressão deles sim, Cauê.
Não entro nos pormenores quanto às práticas, aos rituais, aos procedimentos, às atividades. Esses se modificam com o tempo; a religião não, se veio das raízes profundas do ser humano e passou pela experiência coletiva de diversas gerações antes de se firmar.
            O que eu sei sobre o Santo Daime é que é uma religião que veio dos costumes do povo e foi se sedimentando com o tempo, passou a ser norma não escrita entre os adeptos, até que alguém resolveu enquadrá-la num estatuto escrito. 
Pense na música; ela nasce na roça, nos gorgotões, entre os aldeões, chega à cidade e ganha forma escrita e alcança os salões. E, mesmo nos salões, não perde o cheiro da terra de onde veio. 
            Assim se dá com as verdadeiras religiões: elas têm de vir do povo, das crenças não escritas e vão se enraizando na mente coletiva.
            Sirvo-me de um documentário que vi há uns 25 anos e de que me emociono ainda.
Um cientista se perdeu numa região remota e foi capturado pelos nativos; viveu com eles quatro anos; alimentavam-se da pesca: os golfinhos empurravam os peixes para a praia e eles pescavam em abundância; certa vez os golfinhos deixaram de vir e o povo passava fome, muita fome; a fome matando a espécie.
E se faziam preces, altares de sacrifício, vidas sacrificadas, encontro entre eles; dois anos depois um avião circulou pela região; eles acenderam uma fogueira; foram vistos; do avião deu-se orientação a uma fragata; o cientista explicou o que acontecia; quis ficar entre os nativos. Sabedores do que ocorria, logo descobriram e orientaram um navio a demover a causa: certo dia, os pajés viram, na linha do horizonte, o sinal dos golfinhos na direção da praia e houve gritos de alegria e houve festa; os pais jogavam os filhos para o alto; outros se atiravam ao solo, ajoelhavam e oravam numa profunda profusão de felicidade. 
Perceba Cauê, para esses nativos, os golfinhos eram os deuses que lhes traziam a comida com que manter a tribo; quando o deus faltou, faltou a comida; os golfinhos estavam  embutidos na mente desde crianças como deuses do alimento; passaram a ser motivo de veneração de uma coletividade; todos identificados com a mesma verdade. 
Perceba ainda que o cientista ficou na mente deles como um anjo de luz, porque só por meio dele foi possível restabelecer a alimentação na comunidade.
O Santo Daime é uma religião nascida das experiências de um povo simples; veja esta expressão: "povo simples" é fundamental porque só os simples estão voltados sobre si mesmos de onde vêm essas inspirações e visões.  
As gerações seguintes crescem e sedimentam sua crença nos acontecimentos que os mais velhos lhes contam e os aceitam como verdade porque aquilo lhes desperta faculdades adormecidas. Em suas profundezas, todos se identificam com aquela verdade; daí para a prática é um instante apenas.
Com o tempo, aparece alguém e assume a incumbência de colocar no papel aqueles procedimentos de seu povo; oficializou-se a religião.
O Santo Daime vem dessas origens primitivas.

Ação refletida - 4/6 ( Em 23/12/2008 )

Uma ação sempre será refletida; quem impulsiona uma energia recebe-a de volta. A maneira como se dá essa reflexão é que depende da intenção com que essa energia foi liberada. 
Se a impulsão for de intenção negativa, o emissor vai receber a energia do impulso na mesma intensidade; ela vai causar perturbações, feridas cujas origens a vítima não tem a menor noção de que aquilo é produto de uma energia liberada por ele em algum momento.
Se a intenção for positiva, há duas considerações a fazer:
- o emissor agiu de boa intenção, mas de forma esporádica, não costumeira; chega um dado momento e ele se sente eufórico, feliz, irradiante, sem saber o motivo de seu elã.
- se o emissor constantemente está emitindo intenções positivas, de fazer o bem, de ajudar, paralelamente com as boas intenções, ele precisa fazer meditação: cavar um buraco no inconsciente por onde essas energias, quando voltarem, possam alcançar os planos de suas boas intenções. Se ele faz boas ações e não medita, aquelas energias de retorno dirigem-se para o inconsciente; o inconsciente tenta rejeitá-las por serem contrárias ao ambiente; elas não têm para onde ir e a confusão se torna maior ainda.
Não sei se você já ouviu falar sobre as crises que envolveram certos religiosos: eles praticam a caridade de forma tão intensa que não têm tempo para meditar. Recentemente saiu uma reportagem sobre as crises de Madre Teresa de Calcutá; eram nesse sentido; a luta interior vinha das próprias ações de caridade e não eram devidamente catalisadas; a madre se lembrava de todos e esquecia de si mesma.

Ordem ou caos? - 5/6 ( Em 15/12/2008 )

Ordem e caos. Se tudo se realiza pela conciliação dos contrários, não podemos optar por apenas pela ordem ou pelo caos.
Pode verificar: em você tudo são opostos, a começar por mente e consciência; as duas são opostas porque uma atua no movimento e outra no repouso.
Nós não podemos atuar com uma apenas, sem criarmos confusão em nós mesmos.
Optar pelo caos é trabalhar apenas com a mente, sujeito ao movimento; podemos adquirir progresso apenas material, concreto, com o qual não nos edificamos.
Optar pela ordem é trabalhar apenas com a consciência, afastado do mundo; também não é suficiente porque a mente tem de dar apoio em que a consciência se desenvolva.
Imaginemos dois exércitos em luta renhida; súbito, os generais se declaram cansados de lutar; dão-se as mãos, os soldados se abraçam. Dessa conciliação de contrários, surge um  terceiro elemento: a paz com que todos se beneficiam.
É preciso aprender a lidar com a ordem e com o caos; do contrário, não haverá edificação pessoal.
Se lidarmos apenas com a ordem, é como se dispuséssemos apenas de um fio, um pólo de energia. Com um pólo só, não se consegue luz; a escuridão permanece.
Assim era no princípio de tudo: era o caos, o repouso; só apareceu a luz quando a Consciência gerou a mente; a mente foi gerada para o movimento, para atuar.
No princípio era o repouso; só a ordem; um só pólo; como existia o caos, foi preciso gerar o movimento; no caos sem movimento, não poderia haver evolução.
Por outro lado, se vivermos só em movimento, não alcançamos a ordem, o repouso.
Se a correção do caos se fez por equilibrar os opostos, nós somos o princípio e temos dentro de nós um caos que é preciso equilibrar; desse equilíbrio, nascerá a luz com que prosseguirmos pelos caminhos de nosso destino.

Crônica - Essa angústia - 6/6 ( Em 23/12/2008 )

Essa angústia que você sente; esse peito entravado, esse olhar esbugalhado são sinais do espírito. Esse gosto amargo, esse cheiro estranho, essas mãos inseguras de deixar caírem as coisas são sinais de que você não está conseguindo captar a mensagem de dentro.
É a voz de dentro pedindo que você olhe pra dentro.
Esse medo de coisa nenhuma, esse ver o que não existe, esse aperto das mãos na cabeça, esse suor frio são chamados de dentro.
Coitado do espírito! Ele não tem voz; fala com uma linguagem que alcance seu corpo.
Dê uma oportunidade a ele.
Diga a ele algo assim:
Olá meu velho, cheguei. Estava viajando, o trem da alegria descarrilou e eu fui jogado fora, rolei pelo chão e vim parar aqui. Dê-me espaço que eu preciso juntar os cacarecos que trazia e vendê-los na praça. Desvencilhar-me deles que perderam a atualidade e já não têm mais sentido. Agora, em sua casa, quero tomar banho, pôr roupa limpa e me inteirar de como é seu mundo.
O meu eu já conheço; agora quero estar do lado de cá, onde a brisa parece ser  sempre mais fresca e a lua é luz do dia inteiro.
Puxa vida! Você vive bem hem!
Por que não me chamou antes?

Torre de Babel - 1/6 ( Em 15/12/2008 )

Um homem falava sobre a Torre de Babel; contava e repetia e recontava. Ficou-me a impressão de que aquele era um homem engajado; sabia o conteúdo do que falava, mas recuava por algum compromisso de fidelidade ao grupo e apenas acrescentou que "aquilo se repete a cada instante".
Um homem engajado está preso a alguma linha de pensamento e, nem tudo pode falar; torna-se submisso a ponto de sonegar o saber; deixar passar a oportunidade de esclarecer os outros; ali adiante será vítima de seu saber. Por que os grande sábios são conflituosos? Por que será heim! 
Sobre a Torre de Babel, reflete interesses de muitas espécies. Uns homens resolvem construir uma torre que alcance o céu; segundo o texto, Deus se aborreceu com a pretensão dos homens e pô-los a falar línguas diferentes. Gn 11,1-9. 
É essa a narrativa.
Os homens se organizam com os mesmos ideais; na medida em que se deparam com os interesses de cada um, a linguagem muda, cada um fala a linguagem de seu interesse. 
Pra que maior torre de Babel do que essa que estão os homens construindo sobre o aquecimento global? Marcam conferências, debates aqui, ali, lá; só que, quando cada um precisa ceder um pouco, ninguém quer abrir mão de seus privilégios.
E aquele país, o mais rico? Construiu, em torno de si, uma torre de orgulho e poder; vieram dois aviões com linguagens diferentes, derrubaram as torres; ali começou a derrocada: meteu-se numa guerra que o levou a recessão em que se encontra. E quantas línguas de interesses está falando aquele povo...
Um outro país distante apresentou-se como uma "potência emergente"; construiu sua torre no cimento de um PIB de fazer inveja; mas os interesses dos donos do dinheiro eram outros e adotaram uma linguagem de como derrubar aquela torre sem entrar lá.
Apertaram o controle remoto e o povo saiu correndo para as bolsas de valores; os donos do dinheiro fizeram o dólar flutuar para ninguém mais comprar os produtos de lá. Dizem que o desemprego naquela nação está em massa; hostes de trabalhadores voltando das cidades para o campo; começar tudo por lá; o país não tinha solidez de agüentar o tranco.
É claro que seus dirigentes ainda alimentam o orgulho de não deixar transparecer a recessão para a qual se encaminham.
E isso é torre de Babel.
A intenção com que um país forma seu congresso nacional é ótima; elevar o nível do povo; mas, quando aqueles homens se encontram, aí vêm os interesses e as linguagens se tornam extremamente confusas; os homens não se entendem.
            Uma família é uma torre de Babel; se o chefe morre, já viu a linguagem dos herdeiros? Santo Deus! Nem é bom pensar. Você já entendeu o que é a torre de Babel.
            Acumular o saber é também uma torre de Babel; chega um tempo em que esses saberes começam a falar as linguagens de suas origens; como estão retidos, abrem sulcos de traumas na psique do sonegador.

O que é agradável? - 2/6 ( Em 15/12/2008 )

Agradável é o que serena. Já vivemos num mundo de intenso movimento, se vamos buscar o agradável em uma montanha russa, isso não é agradável. É que, como vivemos na excitação, somos tendentes a buscar mais excitação; então pulamos de grandes alturas para o vazio e agrada a alguns ficar pendurados naquele vazio. Isso pode ser um ato de coragem; pode descarregar energias com a tensão, mas agradável é que não pode ser.
Agradável é o que desperta serenidade; uma alegria de se identificar com algo íntimo pessoal; o agradável não se faz pela força. Não é agradável entrar numa caverna se aquilo causa medo, insegurança. O agradável nasce da estabilidade; da distensão, da paz que vem de nossa intimidade. De tal modo que uma pessoa em meditação está vivendo momentos agradáveis, se aquilo é espontâneo; se brota de um coração sereno. Uma piada inteligente pode ser agradável se propicia ao ouvinte tirar de si mesmo os motivos da hilaridade que a situação cria no imediato.
A água nos pés é agradável, mas se é revolta, assusta, causa instabilidade, como temos visto pelas reportagens nos quatro cantos da terra.
Agradável é aquilo que nos tira do movimento e nos coloca em ambiente de interiorização, como a música, quando sabemos ouvi-la pelo lado de dentro de nós. A música é fator de nos puxar para dentro e dentro de nós tudo é agradável porque nos afastamos do  movimento.

A poesia é transgressora? - 3/6 ( Em 15/12/2008 )

Não. A poesia é desbravadora, linha de frente e quem está na linha de frente, comete atos que não são previstos pelas convenções. A poesia é manifestação de uma voz interior que se adianta no tempo e espaço; em busca de seu estro, o poeta entra em si mesmo e vislumbra os grandes painéis, quanto mais sensível for.
Nas entrelinhas da poesia, estão os traços de nosso ser; uma palavra, um encadeamento de palavras ou de sons é denunciador de estados de alma, estados de visão que fogem ao comum.
O poeta é um ser voltado sobre si mesmo.
Quando alguém classifica a poesia como transgressora, faz referência a seu aspecto externo porque a poesia se permite certas licenças que escapam à norma da gramática; mas isso é o aspecto externo.
É tão de profundidade a poesia que até a gramática permite quebras da norma em favor da expressão quanto mais apurada.
Afirmei alhures que, para que entendamos o texto, é preciso situar-se no momento histórico: quais foram os motivos que levaram o poeta a ver-se imbuído daquele assunto, naquele momento: político, religioso, econômico, psicológico, de saúde? Quais foram? Em que afetaram a biografia do autor.
Há ainda que considerar os sons, pela escolha das palavras; o tipo de estruturação, de pontuação. Esses são valores que denunciam estado de alma que não podem ser relegados sem prejuízo da análise. Junte-se ainda o assunto; por que o poeta se valeu daquele assunto para exprimir seu estado de alma? 
È comum ler-se de certos poetas que em momentos, estavam em estado de alucinação quando fizeram tal ou qual afirmação. Meu Deus do céu! Quem freqüentou o estado em que o poeta estava para ter certeza do que afirma?
Um poeta é capaz de alcançar, nele mesmo, visões de outras realidades que ele desconhecia em si mesmo.
E isso não é transgressão: é linha de frente; aponta aos pósteros que existe uma outra realidade dentro da caverna, mas ali só os homens livres de preconceitos podem penetrar e trazer de lá os estratos de sua psique.

Gostar das mesmas coisas - 4/6 ( Em 15/12/2008 )

Parece ser da Física a lei de que os semelhantes se atraem; uma alegria de se identificar com algo íntimo pessoal; o agradável não se faz pela força. Não é agradável entrar numa caverna se aquilo causa medo, insegurança. O agradável nasce da estabilidade; da distensão, da paz que vem de nossa intimidade. De tal modo que uma pessoa em meditação está vivendo momentos agradáveis, se aquilo é espontâneo; se brota de um coração sereno.
Uma piada inteligente pode ser agradável, se propicia ao ouvinte tirar de si mesmo os motivos da hilaridade que a situação cria no imediato.
A água nos pés é agradável, mas se é revolta, assusta, causa instabilidade, como temos visto por reportagens nos quatro cantos da terra.
Fala-se muito em "almas gêmeas" e se escrevem livros e mais livros, que a imaginação não tem limite. As almas são iguais quanto a sua origem; quanto aos atributos com que atuam; mas até aí, elas não se manifestaram ainda; logo, não há o que comparar, se são gêmeas ou não. As almas não atuam aqui do lado de fora; não vem delas gostar ou não das mesmas coisas. As almas atuam por intensidade de energia, conforme se vai lá dentro buscar essa energia; uma alma é como uma fonte: vai-se à fonte e retira a quantidade de água que quiser; também é assim com a alma.
Os espíritos sim: atuam aqui, do lado de fora e podem gostar das mesmas coisas; podem ser afins uns com os outros por vivências em ambientes semelhantes.
Gostar das mesmas coisas está relacionado com os espíritos que atuam no mundo e têm suas preferências.

Onde realmente vivemos? - 5/6 ( Em 15/12/2008 )

             Depende de onde pusermos a mente, ou melhor depende do que se vem fazendo com a mente. Neste tipo de análise, pouco importa o espaço; onde estivermos aí está nossa mente e é com ela que temos de nos haver.
            Acontece é que, no passado, cometemos deslizes cujos efeitos somente agora recaem sobre nós e nos sentimos, não raro, vivendo no inferno; não percebemos que, o que sofremos hoje é resultado do que fizemos ontem; isso realmente dificulta saber onde estamos vivendo.
           Essas conseqüências de ações passadas podem ser neutralizadas apenas e tão somente por um expediente; vejamos o mecanismo todo:

- lá atrás, eu cometi um ato de violência; 

- a energia daquele ato vai voltar para minha mente com a mesma pressão com que fui  violento;

- só há uma forma de eu escapar dessa energia:

- conduzir a mente para dentro de mim mesmo.

- como a energia que volta é de movimento, ela não pode entrar em nosso interior, que  é área do repouso.

- essa energia vai ficar rondando até me alcançar, se minha mente não estiver protegida.

           Olhamos em volta; o que vemos? O vazio, o nada. Se estamos cercados de nada, se o nada é nossa fronteira, por que nos apegarmos, se vamos nos integrar no nada? O monge Thomas Merton afirmou que nenhum homem é uma ilha; essa afirmação se aplica à exterioridade humana; do ponto de vista do espírito, todo homem é uma ilha porque a construção é individual; cada um seguido para o vazio. E pior aí ainda: o meu nada pode ser diferente do seu e isso me isola ainda mais no vazio.
             Vivemos um mundo em que precisamos nos adaptar a vivermos no vazio; o vazio é nosso destino.

Criar raízes profundas - 6/6 ( Em 15/12/2008 )

Para criar raiz, é preciso que a árvore penetre no solo; sem essa descida ao solo, a planta não tem sustentação; fica sujeita aos ventos, balança e cai.
Também nós; se quisermos criar raízes profundas, temos solo; não é preciso comprar o lote; basta cavar; a mente é a britadeira em nosso ser cavando passagens.
Em nós, há um rochedo a que damos o nome de inconsciente, mas é pedra cediça. Não resiste a nossa força de vontade. Tão logo as raízes passem pelo rochedo do inconsciente, a fonte de água viva é logo ali; o vapor já as alimenta, motivando-nos mais à descida até banharem-se nas águas cristalinas.
É comum dizer-se que o ser humano é extremamente complexo; é de fato assim pelo lado de fora em que o ser humano se dilata em facetas múltiplas e de infinitas variações; do lado de dentro é simples: um encaminhamento da mente, um obstáculo por superar e só. O resto vem por acréscimo. As raízes alcançaram a plenitude das profundezas, que ali a seiva é permanente e as árvores dão frutos o ano todo.

Crônica - uma mulher pobre - 1/6 ( Em 09/12/2008 )

Aquela mulher foi de uma espontaneidade impressionante, pela marcação ritmada de seus passos e pelo gingado que brotava de seu corpo esquálido.
Vi-me no centro da cidade grande; o povaréu pra lá e cá. Pois é. Ouvi, lá adiante, uma música na linha de meu percurso.
Um rapaz começou a tocar violão acompanhado por gravações em fita, cantava e o grande círculo foi se formando que a música era boa.
Chegaram os guardas municipais; gente arrogante; interromperam a apresentação sem a menor consideração com o povo ali em volta; o moço parou a música ao meio, sacou da papelada; foram-se. O show recomeçou.
Súbito, apareceu uma mulher mendiga; magra, vestida de preto, cabelo desgrenhado, sandálias havaianas e um ritmo frenético com que dançava, exprimindo-se em volteios como um vulto esvoaçando em esguios traços de uma serenidade encantada.
E me demorei em contemplar a cena: o povo ria, não de deboche, mas de uma certa alegria contida. Parecia que todos eram parte daqueles ossos flutuantes; o povo via naquela mulher a liberação de suas ansiedades e ria por se sentir incluído: alguém estava fazendo o que todos gostariam de fazer, naquele lugar àquela hora. Era a catarse. Aquela mulher fazia com todos uma catarse a céu aberto.
Sabe aqueles pulos que os jovens dão em shows de rock? Aquela mulher fazia tudo  com uma precisão matemática e uma plasticidade elegante que lhe permitia o corpo esguio.
Pude notar ali um par de opostos: de um lado, um farrapo humano chamejante; do outro o talento se exprimindo de em meio a escombros, porém com vivos sinais de elegância e encantamento. 
E saí dali convicto de ter ouvido um brilhante discurso de como de dentro da pobreza extrema a alma dá o ritmo para os pequenos e grandes acontecimentos.
Aquela mulher ficaria em minhas retinas como presença do sagrado nas ruas da cidade grande.

O que é o inferno? - 2/6 ( Em 09/12/2008 )

Costuma se dizer que o inferno é aqui; tudo bem, mas é preciso entender que esse aqui não é o nosso aqui geográfico; essa aqui é experimentado pelo espírito que voltou à terra, fora do corpo; como perdeu os órgãos dos sentidos na saída, não tem em que se apoiar. Isso é o inferno. Já sabemos sobre os dois planos: de movimento e repouso. Para atuar no plano do movimento, a mente dispõe dos órgãos dos sentidos: audição, visão, olfato, paladar e tato. Com a morte, a mente, transformada em espírito, perde os órgãos dos sentidos; perde os meios com que atuar.
Saímos do plano do movimento e vamos para um plano oposto ao movimento; vamos para o plano do repouso; lá é o vazio, o silêncio; para permanecermos lá, precisamos ter alguma experiência de como se permanece lá; se o mundo de lá é o do repouso, precisamos ter praticado exercícios de repouso aqui. 
Se o espírito não dispõe dessas experiências; fica sujeito a toda restrição. Ninguém o julga, ninguém o expulsa de lá; ele se percebe sem a mínima condição de viver naquele vazio, como um astronauta solto no espaço, à mercê do acaso.
            Os atletas se sentem muito mal quando vão jogar em cidades a três mil ou mais metros de altura: a bola lhes escapa; o impulso do chute foi muito mais do que o necessário, porque o ar é rarefeito; eles perdem a noção de seus impulsos.
            Comparado ao espírito fora deste plano, esse é apenas um dos problemas que ele tem de suportar no mundo do repouso, sem os órgãos dos sentidos.
Uma mente carregada dos costumes aqui e sem os órgãos dos sentidos, tem de se arrastar pela terra. Isso é o inferno para os espíritos.
Por isso a terra está envolvida por espíritos sem base para sair daqui e dispostos a qualquer expediente para encostar em alguém.
O inferno é uma condição de desequilíbrio entre os valores do espírito e os da alma; o espírito se percebe desprovido de todo meio de prosseguir e sofre toda espécie de restrição como asfixia, falta de chão onde pisar, falta de direção, falta da fala e tantas outras faltas mais. O inferno está na depuração de nossas negligências.

Respondo - "Cristo foi o primeiro feminista!" - 3/6 ( Em 09/12/2008 )

A senhora me pede que não cite seu nome, mas gostaria de ver comentada a afirmação de que "Cristo foi o primeiro feminista da história".
Eu estou com dificuldade de entender sua afirmação, porque a visão que Cristo tinha sobre a mulher era interior.
É preciso que estabeleçamos bem a diferença entre o nível em que a Senhora quer ver o assunto discutido e o nível em que Cristo se relacionava com as mulheres.
Na condição de feminista, nós precisaríamos ler pelo menos sobre uma atividade de Cristo com as mulheres valorizando-as nas praças, defendendo a causa delas, exaltando as atividades externas delas e sua atuação no lar. Isso não existe no Novo Testamento.
Do ponto de vista interno, Cristo sabia que a incumbência da mulher é igual à que ele veio pregar: conduzir o ser humano para dentro dele mesmo; diria que ele veio reforçar o trabalho dela. Reforçou da mulher a incumbência no difícil encargo de encaminhar o homem.
Foi por iniciativa da mulher a intuição de entrar em si mesma e possibilitar que ele viesse à Terra.
Costumamos pensar em Maria como Mãe de Deus; não pensamos em Maria menina, sem nenhum compromisso e sozinha, praticando exercícios de interiorização, contrários à lei vigente entre seu povo; sujeita a todo tipo de escárnio.
Há um momento em que Cristo se dirige às mulheres; no entanto, não era o momento de se pensar em idealismos de qualquer natureza: é quando, sob o peso da cruz, ele diz a elas: "Não choreis por mim; chorai sobre vós e sobre vossos filhos" Lc 23,28
Acredito Senhora, ter justificado minha dificuldade de aceitar sua afirmação de que Cristo foi o primeiro feminista, salvo se olharmos as aproximações entre Cristo e as mulheres apenas por seu aspecto de pura aproximação, mas nessa dimensão Cristo não esteve.
Considerando-se que o feminismo é valorização externa da mulher, Cristo não valorizou a mulher. Ele sabia qual o papel que cabe à mulher no mundo e se manteve em absoluto silêncio sobre o assunto.
É claro que essa convivência com as mulheres nos aparece como feminista e isso leva muitos a verem Cristo assim; mas a realidade dessa aproximação é que a mulher está no mesmo plano do trabalho que ele veio desenvolver.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Respondo - 4/6 ( Em 09/12/2008 )

            "Sabe no mundo em que vivemos, pessoas muito religiosas e muito ricas,pessoas muito pobres e muito religiosas.Por que existe esse tipo de coisa? Por que existem as pessoas mais ricas e as mais pobres,mesmo as duas sendo muito religiosas? Por que Deus faz isso?"
              Texto do Michel

A análise do tema de pobreza e riqueza exige uma visão do equilíbrio universal; como nos pratos de uma balança: o equilíbrio está no meio. Sem essa dupla visão, tendemos para o fanatismo, afirmações distorcidas, apaixonadas: Deus é culpado de nossos erros.
Pobres e ricos são os dois pratos da balança; se houver só rico, é o desequilíbrio; se houver só pobre, o desequilíbrio permanece. Você quer saber por que o prato da balança dos ricos está tão mais pesado.
Cada lado Michel, tem sua compensação: de um lado, os pobres se desenvolvem  espiritualmente; do outro, os ricos se embotam sempre mais com os bens da terra. O grau de espiritualidade se desenvolve entre os pobres porque estão acostumados a conduzir a mente para dentro de si mesmos, puxada pela fome, pela doença e tantas outras limitações que vivem a cada momento. Este é um itinerário pelo qual o rico tem de passar ainda; podem mudar as circunstâncias, os desvios dos caminhos; não muda o roteiro.
O rico, quando tem uma doença, tira a mente de si mesmo e se concentra no médico; o pobre quando tem uma doença mantém a mente fixa na parte doente. Economiza a energia que o rico desperdiça. Então veja que, do ponto de vista mental, o pobre está mais próximo da luz interior; o rico está apegado a sua riqueza e deseja aproveitar a vida; o pobre deseja a morte como libertação de seus sofrimentos. De maneira que, o que você vê como horror é, na realidade, o pobre se desenvolvendo naquilo de que o rico ainda está por percorrer.
Cada mente, cada pessoa é um espírito que precisa desenvolver-se; alcançar essa meta, o rico está mais distante. Daí a afirmação de que "é mais fácil a um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino do céu". O reino do céu é a consciência de cada um; o rico não quer saber de abdicar de seus bens e fazer exercícios de consciência.
Não significa que devemos deixar o pobre com sua pobreza para se elevar; ante um pobre, temos oportunidade de ajudar a nós mesmos, na medida que o ajudamos melhor.  Amenizar o sofrimento de um pobre é amenizar o próprio sofrimento ou prevenir-se contra ele, porque a energia com que o ajudarmos voltará pra nós; de maneira que ajudar um pobre é ajudar-nos.
Quanto a saber por que Deus permite tanta desigualdade; eu responderia pra você que Deus quer que todos sejam pobres, para que estejam mais perto dele.  Deus está no repouso de nosso coração; a mente está em meio ao movimento; se Deus ajudasse os pobres, todos seriam ricos e o desequilíbrio seria prejudicial ao desenvolvimento humano; ou por outra: Deus está em repouso, não pode sair para o movimento e defender uma ala da humanidade. Deus seria discriminador ao ajudar uns e não ter ajudado outros, ao longo da história.
E por isso que tenho insistido que Deus só pode ajudar a quem se abre interiormente. A ajuda de Deus é no sentido de que sejamos pobres quanto aos bens da terra, de que os ricos não querem abdicar.
Como Deus não intervém em nosso destino, deixou-nos os meios com que irmos de encontro a ele. Deus se torna mais forte em nós quanto mais fizermos o silêncio de dentro é o silêncio de dentro é contrário à riqueza da terra.

Amizade - 5/6 ( Em 09/12/2008)

 Amizade deriva de amor; o amor nada pede, nada quer para si. Esta é alinha da amizade; nada quer do amigo senão a felicidade dele; centra-se nele.
O amigo verdadeiro é aquele que se sente feliz com a felicidade do outro; a amizade é reciprocidade de sentimentos, de ações. Onde existe essa harmonia não há espaço para exploração, para egoísmo; não há injustiçado; se alguma dissensão houver o prejudicado  sabe ler a intenção do amigo e tudo se desfigura.
A amizade verdadeira toca a mesma nota em uníssono. Não faz dueto porque no dueto as vozes se separam; cada uma atende a própria tonalidade; o próprio ritmo; centrada em si mesma. As vozes em uníssono são iguais e se manifestam com a mesma intensidade.
Amizade é essa afinação de princípios, de manifestações que o tempo não desfaz.
A distância pode separar as vozes, mas o diapasão é o mesmo; os princípios éticos não se alteram na sintonia. Amizade é halo em que duas ou mais pessoas se confinam.
Muitos são os casais que buscam construir uma aura de amor; não o conseguem; separam-se e se mantêm em um elevado grau de amizade; um procura o outro não mais para intimidades, senão por saber de seu estado. Precisaram superar a fase dos interesses para que a amizade se consolidasse no espelho de cada um. 
Amizade é isso: amar o outro como reflexo de si mesmo.

Ajudar a evitar o erro - 6/6 ( Em 09/12/2008 )

                  Esta afirmação precisa de especificação: pretende-se ajudar a evitar o erro ou esclarecer que não se cometa o erro?
                  Se de fato, a idéia é de ajudar a não errar, isso é cerceamento, limitação, proteção; isso não desenvolve o ser a quem queremos ajudar.
                  O pai que ajuda o filho a evitar erro pode estar cerceando a iniciativa do filho; o professor que ajuda o aluno a não errar, não está caminhando com ele; é preciso deixá-lo errar e conduzi-lo a levantar-se; se o professor o protege, está levando o aluno pelo caminho do professor; mas o aluno não é o professor; se não errar, dificilmente aprende; não exercitou a aplicação; não desenvolveu a segurança em si mesmo. 
                 Se a idéia é de esclarecer, aí sim. A ajuda é fundamental; esclarecer que não erre e ajudar quando pedir ajuda; esse é o fundamento de qualquer didática. Se errou, ele já percorreu grande parte do percurso; já se dispôs ao acerto; logo o conseguirá com os próprios passos.
                Esclarecer sim, isso é tudo; se a pessoa erra em função daquele esclarecimento, ela está procurando o caminho com recursos seus; se interviermos ser-lhe-á o bloqueio do caminho; ela não o viu; enxergaram por ela. É conhecida a história da borboleta que lutava por se desvencilhar do casulo; um sujeito resolveu ajudá-la e fez pequeno corte na película; a borboleta se libertou; mas o ajudante percebeu que partes do corpo dela ficaram atrofiadas; não praticaram o esforço de se libertarem. Assim é com o ser humano; ele deve ser esclarecido para promover o desenvolvimento pessoal.
                 Os turistas viram indignados os elefantes em círculo; pegavam o recém-nascido pela tromba e o jogavam uns para os outros; aquilo era uma barbaridade; chamaram aos gritos e o encarregado do parque lhes respondeu: 
- se eles não fizerem assim, o filhote não desenvolve o pulmão e morre.
                Os elefantes apenas preveniam; cabia ao filhote desenvolver o próprio pulmão. Ajudar sim a quem chegou no limite de sua visão e quer avançar mais; aí é importante a ajuda pelo esclarecimento; a ajuda pura e simples pode ser bloqueio; o ajudado pode ficar inibido; não desenvolvido como aquela borboleta.

Dilúvio - 1/6 ( Em 02/12/2008 )

                                   Das casas o teto contemplava o céu revolto,
Um grito suplicante entre os destroços.
A salvação estava nos morros; era fugir.
Mas os morros correram com medo
E se abraçaram aos fugitivos numa ternura conivente de um silêncio manso...
E escaparam libertos e libertinos saqueando as casas; levando-as de roldão,
Entupiram as estradas e cortaram o humano o socorro.
Os sobreviventes esperavam que a fome, a sede completassem o cerco.
Vestidas de vampiros, elas rondavam os que já não tinham lágrimas.
As águas roeram o morro,
O povo no sem-socorro
Andando na contramão.
E tanta vida enterrada
À força, na compulsão.
Dos vivos sobrou a cada
Uma vida sem razão.
Quem disse que este povo não é grande?
Quem disse? Pois é.
Organizou a reação com tanta força que a natureza se enrubesceu do papelão.
Fosse acertar conta com aqueles que mexeram com ela.
Vingança barata e aleatória contra um povo indefeso e inocente!
Assim não! É covardia.
Mas a massa se muniu de armas, 
Encheu a barriga dos gafanhotos,
Nutriu as lagartas e lá se foi
Em defesa do que restou.
Um cenário de guerra estrangulou a terra.
Mas as providências vão chegando para aliviar tantas orfandades.
Por sobre um povo por que tanta sina,
Que o manto rasga a Santa Catarina?
 

Carta à Evanice - 2/6 ( Em 02/12/2008 )

            Minha querida Evanice, você escreveu uma mensagem extremamente culta, Moça! Que bonita você é! Parece que nos vimos; parece que nos conhecemos de longa data, mas isso é a grande afinidade de nossos pensamentos; nisso está o mais alto degrau do amor; acima do amor platônico que tem como base a contemplação física da amada e o ideal de conciliação dos dois em uma única pessoa.
Entre nós não; os dois não nos conhecemos; um não sabe onde mora o outro e a ausência de imagem contribui para mente se soltar ainda mais; é um ingrediente substancial para o amor sublime.
Como estou feliz com o tom de sua fala! Você não consegue aquilatar o quanto me sinto, vendo a outra face de você, erguendo-se, erguida. É muita alegria Evanice, só o amor, minha querida constrói esses diques.
Mas como eu vou fazer para compensar o tom lírico com que você escreveu? Cultura é isso Evanice: um chamado, um convite que o encontro se dê em outra dimensão; e isso se faz quando as mentes se esvaziam. Que a mente vazia se liberta e sai no sentido de sua origem; a alma não; a alma fica; a mente sai.
Se duas mentes se libertam por afinidade, encontram-se no Todo a que estão vinculadas. Os corações permanecem na empatia do afeto, mas as mentes se encontram num plano além e os esponsais são feitos na luz.
            Quando retornam, querem adotar a humanidade, na certeza de que são os filhos de sua união.
            Façamos o encontro, querida; esvazie a mente que era nessa direção o nosso itinerário; esvazie a mente; chegar ao topo, será um instante apenas e estaremos juntos, seremos um ao pé do supremo Todo, sob olhares de estrelas.
Abraços minha querida. Deus ilumine seu esforço. 

Religiões - 3/6 ( Em 02/12/2008 )

            Certo missivista me escreveu e utilizou meu nome como remetente e outra vez como destinatário. De maneira que eu passei a ser remetente de uma mensagem a mim mesmo.
Considero o expediente como carta anônima, a que não devemos importância; mas, como o missivista levanta um assunto de interesse geral, convém que se lhe esclareça.
Diz ele que “as religiões mancharam-se, cada uma em sua história, com muitos erros”. Essa afirmação veio entre aspas, portanto não é dele. Não citou a fonte. 
É muito fácil nós nos colocarmos hoje, com a visão que temos hoje e criticarmos atos que se verificaram, alguns há mil e oitocentos anos atrás, como se lê em certo livro que fez sucesso e já foi esquecido.
Do alto de nosso pedestal, decretamos que as religiões “erraram”, “mancharam-se”, sem se analisar sequer o momento em que os episódios aconteceram. 
Não estou autorizado a emitir opinião sobre nenhuma religião; coloco-me apenas em defesa da mente contra os que querem desacreditar a fé. 
As religiões atuavam conforme as leis da época em que os acontecimentos se verificaram. Para fazermos esse tipo de juízo é preciso termos a visão do momento histórico em que essas “manchas” se verificaram. Qual era o conceito que se tinha da vida humana. Se o tempo era de rei, o rei era a lei; mandava e tinha de ser obedecido.
Quanto mais se recua no tempo, mais se aproxima do tempo em que dominava a lei do mais forte, do olho por olho, dente por dente; esses costumes que vinham de milênios não foram eliminados assim com a facilidade que meu missivista imagina.
Não se trabalhava por desenvolver a mente como se faz hoje; esse esforço foi se enraizando lentamente, ao longos dos séculos.
Se meu missivista anônimo está tão melindrado com os feitos das religiões e que são contrários a seus escrúpulos, por que não critica algumas organizações de hoje que se dizem religiosas e se instalam no conforto das coletas compulsórias? E aquelas que simulam curas mirabolantes? Outras há que amarram bombas no corpo de seus adeptos, sob a promessa de um descanso feliz?
Em que esse tipo de crítica contribui para melhorar a mente humana?
Amigo, não critique; viva sua verdade em você mesmo; o que vale é o hoje, o passado não nos pertence; o que vale é você diante de você; prestando contas a você. Você tem feito isso?
Amigo, imaginemos que você foi nomeado para ser um chefe espiritual; você está preparado para a administração religiosa? Os homens da época a que você se refere tinham menos preparo do que você tem, porque você tem alguns séculos de experiência que a vida acumulou, a ponto de achar que aquilo era “mancha”.  
            Vamos lá amigo! Você é religioso? Você entrou na interioridade das religiões? Se está nas periferias, como pode criticar o centro, se não conhece o centro?
Ocorre-me o dito: “não vá o sapateiro além da chinela”
Talvez você quisesse referir-se aos homens que conduzem as religiões; aí você pode até encontrar falhas que eles também são humanos como nós.
 

Exprimir-se integralmente - 4/6 ( Em 02/12/2008 )

            A expressão parece vaga, mas existe um referencial que nos orienta nessa expressão integral de nós mesmos.
Trata-se de se viver conforme a verdade pessoal. Pela verdade pessoal, somos vigilantes de nós mesmos; pela verdade pessoal, atuamos em conformidade com nossa alma, de onde emana toda verdade.
Se a verdade nos é misteriosa e incompreensível, evitemos toda negligência, por mínima que seja; a ausência da negligência  é a prática da verdade e quem vive segundo a verdade pessoal, exprime-se totalmente onde quer que esteja
Se vivemos em sociedade ela tem suas leis; ao assumimos o compromisso de observar essas leis, pela vivência; qualquer transgressão é negligência.
A idéia de que não devemos nos vigiar, deixar correr livre é própria do libertino; o libertino é aquele que perdeu a noção de si mesmo e vive conforme os fluxos do inconsciente, mas o destino do homem é na direção da consciência.
Exprimir-se integralmente exige o concurso de todos os valores existentes em nós.  A verdade é seu carro-chefe; arrasta os demais e a expressão sai integral, sobretudo dotada daquela força com que a palavra se reveste para alcançar a consciência de todos.
 

Existe algo de misterioso - 5/6 ( Em 02/12/1008 )

            “Existe algo de misterioso e incompreensível que no entanto, não transcende o sobrenatural”.
Lembra daquela mulher que encontrei certa vez e me propôs um enigma? Parecia a Diotima de Sócrates, no Banquete. Lembra?
Voltou agora e jogou sobre mim esse emaranhado. Gritei que me desse pelo menos o  nome do autor; ela fez um gesto de descaso com a mão. Muito culta essa mulher! Se anda por essas profundidades, só pode ser alguém bem próximo da iluminação.
Iluminado é o que procura essas senhas; se jogou em mim, é porque quer conferir aquilo que já sabe. Esse “algo misterioso” é a alma humana; é incompreensível porque, como emanação da consciência, não é consciência por estar no homem; e, mesmo não sendo consciência, atua com os atributos da consciência. Daí o autor afirmar que “não é transcendente nem sobrenatural”; de fato, não é transcendente, é imanente da consciência; não é sobrenatural, é natural, conformada em nossa natureza.
Se hoje é possível desvendar esse pensamento é porque o tempo andou e nos empenhamos em discernir o que está por trás do que os eméritos pensadores nos deixaram.
Em matéria de mística, o privilegiado não é o que entrou, mas o que lutou por chegar.
O autor sentiu, em si mesmo, os assomos da alma; buscava traduzir seus estados e emoções, mas lhe faltava a experiência que o tempo nos trouxe, faltava-lhe a aluvião da comunicação que apesar das aparências de louca, traz em seu bojo, sinais de esperança.

O que é o respeito? - 6/6 ( Em 02/12/2008 )

             É a obediência a uma verdade interior. Nossa verdade interior reconhece no outro um carisma. O que se respeita não é o outro; é o carisma de que ele está imbuído. De maneira que o respeito resulta da sintonia entre os dois níveis de verdade.
A verdade não é diferente em essência, mas há diferenças em extensão; a verdade de um aluno pode não ter a mesma extensão da do professor; o que o aluno deve respeitar no professor é a verdade de que ele está imbuído; disso resulta um carisma, não raro, causado pela extensão de sua verdade.
Os pais estão investidos de uma lei que paira acima deles; os filhos devem cultuar nos pais essa lei que os permitiu alcançar o sagrado e trazê-los à luz em forma de vida.
Quanto mais os filhos se fixarem nesse ponto, mais se estabelece a harmonia na família; o respeito será uma conseqüência.
Um idoso é alguém que está tendo uma oportunidade de se auscultar; o que se deve se deve respeitar no idoso é essa entidade que o assiste, com poder de transformação. Um idoso é alguém que está na mesma linha do professor: puxando para a terra uma assistência sagrada. No professor, ela se estende a seus alunos; no idoso, ela abre caminho para o coração.
O respeito se dá pelas dotações de que alguns são investidos para serem exemplo aos demais.
Sabe-se que os animais, as plantas têm poder de identificar nossa verdade interior; isso é natural porque vivem em silêncio; a verdade também está em silêncio; dela emana o carisma com que atuamos no mundo. O respeito nasce do poder de sintonia com essas emanações.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Carta à amada - 1/6 ( Em 25/11/2008 )

            Eu imaginava que você soubesse avaliar as dimensões dos assuntos sobre os quais nos empenhávamos com denodo. Estava certo de que seus muito mais do que 12 anos de experiência em lidar com esses aspectos, mesmo em menor escala, tivessem sedimentado em você a consciência da extensão do que estávamos fazendo e as ciladas a que estávamos expostos.
Por isso estabelecemos como base o silêncio; que ninguém soubesse de nossas atividades; não que fosse segredo de nós dois; não. É que teríamos de trabalhar em outra dimensão, onde a palavra falada não existe e o pensamento se faz por sintonia; nós tínhamos estabelecida uma sintonia, mesmo a distância e sem nos conhecermos. Você é um exemplo de que ainda existem pessoas capazes de se aventurar pelos caminhos da fé.
Nisso seguíamos o Cristo: quando curava alguém, era taxativo: “vai e não contes a ninguém”. Mc 8,26  Lembra-se? Ele sabia o quanto de revide poderia ocorrer, se o beneficiado  falasse sobre sua cura; entre o falante e o ouvinte estavam, de espreita,  aqueles que tinham sido expulsos e, sabedores do ocorrido, providenciariam a resistência.
Há um outra passagem em que os discípulos não conseguem curar certo doente; o Cristo o cura; os discípulos lhe perguntam:
- por que nós não o conseguimos curar?
- esse tipo de doença só se cura pelo jejum e pela oração. Mt 17,18
      O jejum é o da palavra; não falar; o da oração é o de permanecer no coração e no coração não se fala.
O fato é querida, que alguma coisa escapou; e as forças que combatíamos ficaram sabedoras de nossos planos e diligenciaram obstruir a comunicação entre nós.
Sei que você não me culpou pelo acontecido; não é de minha índole deixar ao meio uma tarefa que comecei, sobretudo abandonar você sozinha no terreno minado em que caminhávamos.
Alimento a esperança de que nossa correspondência se restabeleça; você encontrará meu coração sempre aberto e distanciado de qualquer pretensão que não seja de servir.
O abraço de sempre.

            Em tempo: recebi, esta noite, uma mensagem sua pelo blog; excelente o expediente de que você se utilizou. Observei, por seus dizeres, que você está serena; pela meditação, você suprirá todas as dificuldades. E se nossa correspondência foi interrompida para que pratiquemos a comunicação pelo coração? Garanto que você está preparada para isso. A meditação é o caminho.

                                                                        Abraço, querida.