terça-feira, 27 de abril de 2010

Bílis Negra - 3/3 (Em 01/11/2007)

A senhora Hérika teve a gentileza de apontar uma causa para essa tendência de as pessoas negligenciarem atenções mínimas a outras, mesmo que sejam estranhas. D. Hérika se baseou em meu artigo sobre gestos.

Não seria isso resultante de um sofrimento embutido, um “sofrer da bílis negra, não será essa a tendência do mundo após o renascimento”?

Percebamos dois aspectos no questionamento da senhora Hérika:

- ela não situa o tempo em que teria começado a tal “bílis negra”;

- ela aponta um tempo inicial em que essa tendência se introjetou na psique humana: após o

Renascimento.

Sobre a bílis negra, já se encontram referências em Hipócrates (377 a.c), como elemento desequilibrador no comportamento das pessoas.

Fiquemos apenas com as possíveis causas e os respectivos efeitos que essa doença causa quando se aloja na pessoa humana.

Há uma certa lógica na pergunta porque, até o renascimento, a crença humana era teocêntrica, Deus como centro de tudo; veio o renascimento e, com ele, o humanismo; o homem como centro de tudo; o conflito foi tão grande que deu início a uma nova tendência nas artes: surgiu o barroco que é a exteriorização desse conflito.

Isso realmente mexeu com a cabeça de muitos; tanto que o período seguinte é o neoclassicismo: os sábios procuravam viver no campo para fugir do burburinho da cidade; em seguida começa o cientificismo e a idéia de Deus ficou relegada.

É natural que essas opções tenham causado uma certa fleuma, na medida em que mais os ideais da cultura se afastavam de Deus; é natural que algo tenha se incrustado como ferida, mesmo que seja na psique, no inconsciente e de que tenha resultado esse centrar em nós mesmos, indiferentes aos demais.

Outro aspecto não menos relevante é que essa bílis negra se aloja no baço; o baço se situa no meio entre dois pontos de luz; se não forem ativados, no estômago e no coração, não há como neutralizar as manifestações desse humor. O ponto do estômago se relaciona com a trituração; o ponto do coração se relaciona com a intuição. Desses dois pontos não ativados, surge, uma certa melancolia, indiferença, nostalgia, saudade de algo indefinido que repercute em nosso comportamento sempre voltado para nós mesmos, indiferentes aos circunstantes e às circunstâncias.

Estou tentando apontar uma causa; não estou justificando um defeito que estamos no dever de corrigir em benefício de uma vida melhor no convívio de nossos semelhantes.

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