Os assuntos discorridos nestes textos procuram enfocar sempre os opostos, dando ênfase ao equilíbrio que os pares devem manter entre si: espírito x alma, mente x coração, fora x dentro, movimento x repouso.
A Ciência não se desenvolve em função de seu oposto: versa sobre o que acontece apenas de um lado, do lado de fora; atua no mundo do movimento, sem considerar o repouso. A Ciência não busca equilibrar-se com seu contrário; assim, de um modo geral, ela se torna efeito sem causa.
Não é intenção dessas linhas desmerecer a Ciência, o quanto tem de esforço no sentido de preservar a vida, de promover o conhecimento humano; é que ela pesquisa e experimenta se aquilo é bom; nisso repete o que Deus fazia; acontece que Deus é Filho; um Filho em comunhão com o Pai; a Ciência é conduzida como se bastasse a si mesma.
Claro que a Ciência em si nada tem a ver com o apego ao imediatismo; isso é próprio do homem; o homem quer resposta pronta, concreta, demonstrável. O homem se recusa a se servir da Ciência para alcançar a Consciência; a Consciência se situa na margem oposta do rio da vida. Sem esse esforço, de freqüentar as partes ambas, a Ciência não consegue se estabelecer numa linha de equilíbrio; o homem sabe disso, mas se nega ao que não consegue demonstrar.
Qualquer que seja a linha científica, ela se utiliza de três atributos: memória, razão e inteligência; esses atributos não alcançam a interioridade, não entram no campo do repouso porque no repouso cessa o movimento.
Considerados separadamente, esses três atributos são exteriores ao homem: pela memória, o homem sai de si mesmo e se fixa num tempo e num espaço fora da sua realidade; por exemplo: se quisermos comentar o julgamento de Sócrates, temos de sair de nós até a Grécia Antiga e ocuparmos um dos lugares, ao lado, quem sabe, de quem o caluniava.
A razão quer demonstração, comprovação por números ou pela lógica; a razão se apóia sobretudo nos órgãos dos sentidos; esses são valores voltados para fora; os valores da razão adquirem mais consistência se forem de consenso geral; se são de consenso geral, são exteriores a nós.
A inteligência pára os objetos e os coloca em confronto de identificar o que eles têm de comum; quando ela libera o objeto que prendeu, ele já perdeu a atualidade.
O Huble, o telescópio da Nasa, ilustra bem este aspecto da inteligência: ele nos envia belíssimas fotos de fenômenos cósmicos; mas esses fenômenos podem ter deixado de existir há milênios; as fotos nos chegam num tempo fora do tempo da realidade que elas representam.
Se a Ciência precisa parar o objeto, o homem deveria convergi-la para a interiorização, porque no interior dele está o repouso, a ausência de movimento; o homem então se manifesta como “paradoxo ambulante”, no dizer de Teilhard Chardin.
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