- Querem desviar parte do Rio São Francisco; o que você acha disso?
- Se você me pergunta o que eu acho, você está afirmando que eu acho; resta saber o quê.
- Então eu reformulo a pergunta: esta alteração no curso do Rio São Francisco é correta?
- São duas considerações a fazer:
a – do ponto de vista ecológico, ela só tem a acrescentar; vai leva água a terras distantes.
b – do ponto de vista humano, ela vai atender os esquecidos nos buracos do anonimato.
- Eu não vejo que ela vá ajudar ninguém, senão os magnatas, os latifundiários; engordar os ricos com o dinheiro do povo.
- O que acontece com os sem-terra? O governo dá a terra, e os beneficiados nada têm feito com a terra que receberam.
- Vendem por falta de infra-estrutura.
- Também com a água seria o mesmo.
- Não é justo entregar aos ricos?
- Penso também assim; mas é a forma mais próxima do ideal, porque o rico vai montar ali a fábrica, dar emprego para os da região; os ricos vão segurar os nativos no lugar, criar estradas para escoamento de seus produtos.
- Então por que o bispo não queria?
- As águas a serem desviadas serão apenas de 10% do volume do rio.
- Você está do lado do governo!
- Eu estou do lado da justiça.
- Então por que o bispo não queria?
- A usina de Paulo Afonso nada sofrerá com o desvio porque a água é excedente. Só vejo vantagens nesse desvio. É preciso lembrar aquele poema de Joaquim Cardoso:
“Ser tão sem
Sem ser tão
Tão sem ser”.
- Ich! Se deixar, você vai apresentar mil maneiras de analisar isso.
- Relacionar o poema com o abandono em que vivem os da região
- Ta, desamarre então sua verborréia!
- O “ser” percorre oblíquo, torto de uma extremidade a outra do sertão.
- E este “sem” tem larga extensão, não?
- Sem ser participante, sem ser notado, sem comida sem assistência, sem água.
- E por que o bispo não queria?
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