terça-feira, 4 de maio de 2010

Crônica da corte - 1/3 (Em 13/12/2007)

     Aconteceu que, tendo o rei deixado o trono, os herdeiros, em linhagem direta eram em número considerável, de maneira que se fez dever a escolha de um sucessor como convinha à causa. Pelos laços de sangue real seria a melhor forma de se dar continuidade ao zelo com que seu antecessor conduzira os interesses da Ré Pública. 
     O rei, apesar de resistir, sentiu-se constrangido porque muito se maldou a seu respeito, no tocante a uma aventura sub-reptícia, nos acolchoados da noite, em campo fora de seu mister familiar. 
Acresceram-se sobremaneira histórias sobre arvoredos que se destacaram do matagal rasteiro; esforços do nobre rei no plantio de sementes com que fecundara solo próprio, ao longo de sua égide.  
     Para uma sucessão criteriosa, os áulicos se perderam nos conchavos, nos acertos, nas artimanhas, nas urdiduras, enfim, naquilo que o primeiro ministro conhecia pelo nome de maracutaia; tinham de consenso os delineamentos de todos os trâmites de bastidores, de tal forma que tudo parecesse, aos olhos dos súditos, como assunto de inconteste sobriedade na escolha de outro representante singular na prática do ofício.  
Durante algum tempo o trono ficou em vacância a ponto de deixar, nos súditos, a impressão de que o cargo não era tão de premência como se fazia mister entender. 
     O respeito pelo trono vacante chegou a ponto de se transferirem os debates para os corredores da casa real e a eficiência nos trabalhos continuou com o mesmo padrão de qualidade em prol do bem estar dos áulicos.
     O primeiro ministro era mestre em frases de oitiva e nisso ganhava foro de audiências
entre os pouco afeitos às letras. No período de sua gestão, uma agremiação de suas afeições sofreu um duro revés e o ministro solidário com seus eleitores, sofreu com ela aquele golpe que o destino preparara a todos. Não menos retumbante foi a perda de prorrogar uma causa, sem que a causa que defendia encontrasse causa na causa de tanto burburinho em defender o solo geral e o desmatamento jogou por terra os alimentos com que se saciavam as aves de rapina.
     Estas linhas já estavam registradas nos anais da coroa quando um novo rei foi escolhido por maioria absoluta que, para isso, funcionavam os bastidores com a eficiência de zelarem pelas coesões subterrâneas de bem conduzirem negócios da madrugada. 
     Deus salve o rei e a nós também...

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