Muitos debates políticos são verdadeiras aulas para alunos de Letras, Direito, Itamarati e paralelos.
Ainda sou do tempo em que os professores aconselhavam os alunos que ouvissem discursos de políticos loquazes, em função de sua versatilidade na arte de exporem as idéias, como argumentar, como aludir e tantas outras orientações que recebíamos, também de ouvir camelôs para assimilarmos a forma de eles conduzirem os assuntos, visando a vender seus produtos; nossos professores nos introduziam assim para a técnica de “vendermos” nossas idéias. Estavam corretos porque a prática era ao vivo, sem retoque.
O debate valeu pelos níveis de linguagem de que se utilizaram os contendores: de um lado, a frase feita, sem conteúdo, sem inspiração porque lhe faltavam os fundamentos; do outro a lógica, a argumentação, a escola, a facilidade de expressão estribada numa fundamentação irretocável. Lindo, lindo.
De um lado a busca de convencer pela emoção, pela frase raquítica, surrada e gasta ao longo das lides de muitos anos na área de vencer pelo casuísmo; do outro, o texto maciço, acusador, retórico e acadêmico.
A lona caiu sobre o remendo e obstruiu os desvãos por onde a retórica não pôde dar os ares de sua graça; um dos opostos avançou pela área do outro e desequilibrou a balança. Mas a importância do debate se firmou na distinção dos níveis de linguagem.
Mostrar aos alunos como se dizem frases ocas, produto de um despreparo arrogante, de alguém que nem sabe que nada sabe ou como se dar força à expressão, encaixando a palavra em espaços certos como peças de xadrez.
Foi possível observar um nível de colóquio, de frase feita, de frase vazia, de frase que fingia ser séria pelo jogo das aparências; esse texto se aproximaria do ideal se pudesse demonstrar, dar exemplos com as falas de cada um, mas há o interesse de evitar identificação.
No outro nível, num nível bem acima quanto à linguagem: a frase redonda escorreita, estatística, livre de qualquer distorção nas concordâncias e regências, regia também a batuta dos acordes recheados sobretudo de verdade que o outro não podia refutar.
É comum que, em debates assim os opostos oscilem um puxando o outro para seu terreno como cabos de guerra, mas o que se viu ali foi tráfego de mão única
O debate se verificou praticamente a nível de memória, com incursões à razão e à inteligência com que se faziam as relações entre os fatos; só que um dos dois se emperrou e nem pela memória conseguiu livrar-se do anzol do outro encoberto por iscas irresistíveis.
A linguagem é assim: flexível à capacidade de cada um. É claro que seres premidos pelas preocupações de não se exporem perdem o fluxo da linguagem, sobretudo quando têm pouco a dizer. Ate nisso o debate sai proveitoso a futuros oradores.
Foi o que vi.