Eu sempre tive. Fica aí minha resposta: eu sempre disse que tenho medo das mulheres.
Não é um medo físico; no campo físico, há paralelismos em que a mulher é imbatível; não é daí que advém meu medo; o que causa assombro é uma aura de mistério com que a mulher adorna a própria perfeição; eu não consigo alcançar a origem da serenidade de que ela se reveste. Parece que todas elas são envoltas numa penumbra específica que se situa muito além do batom; a essa eu não tenho alcance; eu não subi ao nível de consciência e luz de onde vêm essas miríades.
- desça dessas alturas e explique por que o homem bate na mulher.
- o homem bate na mulher para se defender. Existe é uma diferença de linguagem que o homem não entende e se desespera. A mulher conhece o ser frágil que se esconde por trás daqueles músculos; é função dela orientá-lo, mas ele não aceita e projeta nela a única disponibilidade: a força de que ele também é vítima por não ter domínio sobre ela.
A mulher tem a chave do mistério que se esconde no interior do homem; não é fácil aceitar isso. Mas o homem se percebe desprovido de condições para divisar o que ela transmite pelos olhos, pelos gestos, a pele, o porte físico, os cabelos; tudo são códigos que ao homem é muito difícil de ler; seu olhar fica preso a uma das dimensões dela, sem sequer enxergar a outra margem, de onde os anjos zelam por ela.
O homem tem medo da mulher porque, quando ela fala com o homem, ela se dirige à mulher que está dentro do homem; é uma linguagem que está além da razão;
O homem tem medo da mulher porque ela lhe fala a nível de despertar a consciência e o homem tem a consciência embutida;
O homem tem medo da mulher porque ela lhe causa esses transtornos mentais que ele não consegue conter.
Por um outro aspecto, você já observou uma mulher pobre? Olhou nos olhos dela? Se olhar, é capaz de ver-lhe o brilho sereno e velado por trás da limitações? Cozida no sofrimento e temperada no fogo de suas angústias, vem daí o poder, a força. Uma mulher pobre causa medo: ela é dotada de muitos recônditos; fez cursos de fome e privação. Isso a graduou em planos superiores, longe de nossa imaginação.
- E a mulher do meio, aquela que trabalha e sofre constrangimentos de tantas faces?
- todas elas estão no meio; no ponto em que se conciliam os opostos; olhe a placidez de uma moça que segue do trabalho, a pele sutilmente aveludada, marcas de cansaço; essa não tem tempo de ser para si; então resplende de sua aura uma ternura de anjo; essa apenas é para o mundo um sopro de vida. A maioria assume encargos de dar cobertura a defasagens familiares. Essas apesar de sua pouca idade, vivem esquecidas de si; anulou-se-lhes a vaidade; elas se alimentam do sonho de se enfeitarem; pensam que se enfeitando, ficam mais bonitas e não percebem que sua beleza vem do anjo que lhes retoca o ser a cada instante.
- você acha que é assim mesmo? E as mulheres masculinizadas?
- despertaram o homem que dormitava dentro delas; se souberem retocar seu feminino, conciliam
os opostos; do contrário, rebaixaram sua natureza; terão de refazer o processo.
- quando você olha pra uma mulher, em que você se fixa?
- na região do coração; ali eu procuro a luz que me falta.
- vi certa vez esta pergunta: “o que você acha que uma mulher pode esperar de um homem”
- com certeza, a mulher há de esperar que o homem dê a ela uma oportunidade para que ela
mostre a ele a luz que está nele.
- entendo seu medo...
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