sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Poesia - Complemento (Em 21/07/2006)

Em uma biblioteca pública, todo o seu acervo está em disponibilidade, sem distinção; mas a biblioteca não vem até nós; precisamos de algumas providências para dispor de seu acervo: sair de casa, o percurso, o credenciamento para entrar, a consulta no fichário, não raro com o auxílio de uma bibliotecária, a solicitação do livro. Ainda é preciso procurar a página onde está o assunto; só então alcançamos os conhecimentos que desejamos expandir.

É o que acontece para alcançarmos um ou mais dos valores dentro de nós: eles estão disponíveis, todavia não vêm à tona; nós é que temos de tomar as providências de percorrer os caminhos de dentro para alcançá-los: a intuição é a bibliotecária que pode nos conduzir à estante da alma e aí nos apropriarmos de seus atributos.

O estro poético está disponível a nós, mas precisamos nos esforçar por sua aquisição.

Pedi e abrir-se-vos-á, este “pedi” não é pedir com a boca! O coração precisa estar com as marcas de nosso esforço; quem dá o aval de nosso pedido é o coração, pelas marcas de nossa dedicação. Pedir com a boca é se voltar para fora de nós; ficamos de costas para quem pode nos atender no pedido.

Não raro nós pedimos uma coisa e aparece o seu contrário para que nos exercitemos no administrar o pedido, quando vier; como aquele náufrago que, sozinho em praia deserta, conseguiu angariar pedaços de madeira e fazer um barraco; certa vez, ao voltar de suas caçadas, todo o seu esforço tinha se consumido pelo fogo; lamentava a própria sorte; horas depois, percebeu que um navio se aproximava da praia, com um bote; foram resgatá-lo; após os agradecimentos, a pergunta:

– como vocês perceberam que eu estava aqui?

- nós vimos a fumaça; nesse lugar tão deserto, só poderia ser pedido de socorro.

Não raro nossos obstáculos são formas de aprendermos a nos preparar para recebermos os benefícios que mais esperamos. Em qualquer situação, só pelo esforço pessoal, pela abdicação adquirimos a consciência de como se chega às disponibilidades de nossa alma e aos recônditos da poesia.

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