O mito normalmente é representado por forças que se agitam dentro de nosso inconsciente; figuras de seres meio terra meio celeste; uma personagem que atua no plano humano e no etéreo; nosso espírito, embora atue apenas no plano humano, tem vínculo com os planos superiores; o mito serve exatamente como parâmetro para que nosso espírito perceba a existência de algo além do plano humano, e se motive a fazer despertarem seus vínculos com suas origens.
Quando se afirma que tal pessoa é um mito, deseja se afirmar isso: que aquela pessoa é um parâmetro de vida para o espírito de seus seguidores.
Percebe-se que o mito se instala num jogo de atuações opostas, sem força para promover a própria conciliação; já o espírito humano, se lhe for concedido um parâmetro, pode conciliar seus opostos e alcançar a luz.
O mito nasce de uma esperança coletiva que se consolidou no tempo. É a história daquele cientista que se perdeu em uma floresta e foi recolhido por nativos; ele descreve a miséria extrema em que vivia aquela gente, porque os golfinhos tinham deixado de trazer o peixe à praia e era disso que viviam; sem o peixe, faltou o alimento, faltou o leite das mães, crianças esquálidas e a fome grassava, e iam à praia, em devoção, invocar os golfinhos como salvadores de seus males, mas apenas o nada era tudo.
Muito tempo depois, passou por ali um avião e viu, do alto, o aceno; fez a curva, voltou e leu o S.O. S. que o cientista escrevera na areia. Dias mais tarde, chegou ao local uma expedição, inteirou-se da situação e alertou as bases sobre a penúria em que viviam os sobreviventes. O cientista optou por permanecer ali em meio àquela miséria bem nutrida e presenciou cenas de muita luz: não demorou e o resto faminto divisou uma linha branca na linha do horizonte, e o instinto sentiu os golfinhos de volta e foi uma alegria nervosa e a cantoria renasceu naqueles esqueletos ambulantes e a fartura restabeleceu o ambiente; construíram ali, na rusticidade local, um templo de adoração aos golfinhos.
E as lendas povoaram a mente daquele povo e os golfinhos ocuparam o lugar de um deus que socorre nos tempos de aflição.
A desnutrição tinha quebrado a resistência daquele povo; quebrada a resistência, os golfinhos se instalaram no mais profundo de seu inconsciente, como o único poder capaz de trazer a alimentação; quando a alimentação chegou, a resistência se fechou e a imagem dos golfinhos ficou no inconsciente de cada um.
Assim se forma o mito.
Aquele cientista colaborou para a consolidação do mito porque suas providências levaram barcos a dispersar as baleias que, há tanto tempo, impediam a passagem dos golfinhos . O mito é resultante da convergência de fatores que contribuem para que uma aspiração coletiva seja concretizada com força capaz de alcançar o inconsciente; nessa força oculta repousará o mito para se fazer presente quando as forças do homem parecem desfalecidas.
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