quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Verdade (Em 30/06/2006)

A verdade se situa na estrita obediência às normas que eu estabeleço para mim mesmo.

Qualquer negligência com essas normas é contrária a minha verdade: minhas normas podem ir desde as coisas simples: se estabeleço como norma arrumar a cama e deixo de o fazer por negligência, isso é contrário a minha verdade; se, por comodismo, adio um compromisso, deixo meus livros em desordem, isso é contrário a minha verdade; por esses poucos exemplos, é possível extrair dezenas de outros que se opõem a minha verdade, até a aula que ministro com negligência ou se sonego o saber porque a turma não alcança minha “cultura”, isso é contrário a minha verdade.

A sonegação do saber não é apenas o fato de eu não ensinar ao outro o que eu sei; sonegação do saber atualmente está dentro da escola, caracterizada pela excessiva memorização de tudo. Eis aqui. Nada se cobra no sentido de desenvolver a mente discente e isso é contrário à verdade. Muitos são os cursos que adotam a memorização sistemática como preenchimento de currículo. Acontece que a memória é raciocínio de primeiro grau; ela tira o estudioso de si mesmo e o projeta no passado; a mente não se desenvolve fora de si mesma; ela precisa ser utilizada nos três estágios de seu desenvolvimento. Outras situações são livros e mais livros que o aluno tem de compilar para citar nas apresentações; por ser essa situação dominante, isso é contrário à verdade.

Já vimos que contrária à verdade é a sonegação do saber; já vimos também que um saber retido se transforma em uma espécie de trauma, uma bolha que incha sem explodir; o saber é oriundo do mundo do movimento, ele se agita e agita o mundo do repouso.

A verdade se situa também entre o que eu penso e o que eu digo; um outro grande mal entre o que eu penso e o que eu digo é causado pelas vozes internas; elas nos estimulam à mentira; elas nos conduzem a todo desvio de personalidade, porque segredam sempre idéias de negação e isso é contrário à verdade. Verdade não é apenas eu mostrar onde o outro errou; verdade é acima de tudo eu me mostrar onde errei e cometer o esforço de evitar meu erro.

Poderia ainda dividir níveis de verdade: a dos outros, a das leis, a divina. Pareceu-me que o primeiro passo é cultivar a verdade em mim mesmo; a verdade nutrida em mim mesmo há de se identificar com qualquer outra.

Nenhum comentário: