Coragem é isenção; o sujeito ausente de si mesmo, por uma causa. Num ato corajoso, o confronto se verifica, em primeiro lugar, no íntimo do próprio sujeito; ele como que passa por cima de todas as cogitações que lhe vierem à mente e se fixa no objetivo a alcançar.
Imaginemos que alguém vise a alcançar um ponto e tenha que descer por um promontório, atravessar o rio, subir pela encosta do outro lado até o alvo. O corajoso não pensa no rio, tem a mente fixa no alcançar seu destino e é nisso que ele se supera.
Há casos em que o corajoso, além de não conhecer sua coragem, encontrar-se diante do imprevisto; o instante abre suas comportas latentes e ele toma atitudes que ultrapassam, não raro, os limites humanos; então assume gestos de leão, cobra ou tigre, põe-se em defesa de um ideal mais alto que se lhe insinuou.
Essa é, no entanto, a coragem de um instante; na literatura clássica fala-se de um herói que se muniu de coragem e fez história de si mesmo, como Ulisses ou por seu povo como Prometeus e o ato ousado de trazer a luz à terra. São dotados de coragem em que se consomem, numa espécie holocausto.
Modernamente uma outra espécie de coragem aflora e retorna à consciência humana; o herói moderno é aquele que venceu a si mesmo, sem espaço nem tempo, em sua interioridade; muniu-se de coragem para descer ao centro de si mesmo e se deparou com o vazio, o nada; mas esse é o verdadeiro “nada que é tudo”; quando volta dessas aventuras de luz, deixa-nos a trajetória que percorramos sob seus passos. Um exemplo do herói moderno, apesar de pouco trabalhado, já aparece em “Vidas Secas”: o Fabiano lutando contra as intempéries e alimentando um sonho sempre adiado pelos insucessos. Já um herói moderno pincelado, com todo requinte de perfeição é o Riobaldo
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