quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pergunta - Como você achou seu estilo? (Em 15/09/2006)

Se você acha que eu tenho algum, eu o encontrei extraindo leite de pedra; não tenho facilidade para escrever, talvez por mania de exigir de mim mais de minhas disponibilidades; o fato é que eu sou capaz de ficar dias à procura de uma palavra, de como remendar uma frase; o texto me testa a perseverança.

O estilo se caracteriza pelo encadeamento sonoro; para isso, não basta que a palavra procurada atenda ao conteúdo semântico; ela precisa contribuir para que a seqüência sonora se mantenha ao longo da frase ou do texto; esses aspectos sonoros são provenientes de camadas profundas do escritor e o denunciam face à análise de texto; não menos importante é a jeito de abordagem de um assunto: explorar os recursos de ordem, seqüência e clareza; essas coisas fazem o escritor.

Escrever pra mim é exercício de paciência porque, é eu pegar um caderno ou sentar-me ante à tela do computador, as exigências já se aguçam e começam a se exibir, e não se cansam de me exporem suas intimidades.

Não vou enumerar os quantos como eu sentiam essa dificuldade; só que eles eram escritores; eu sou apenas um curioso das palavras, por profissão.

Discorrer sobre o próprio estilo, explicar de verdade como seja, envolve psicologia, em dois níveis: pessoal e relacionada com o momento histórico.

O momento histórico motiva o assunto; o momento histórico expõe as raízes daquilo sobre o qual se deseja escrever. Se escrevo sobre a dualidade humana, é porque é chegado o momento de se abrirem as consciências à formação física e metafísica de cada um de nós.

De um ponto de vista mais amplo, o momento histórico é de expectativa: algo está por acontecer porque, não me consta que, em qualquer tempo, a humanidade tenha se colocado diante de tanta evidência de como os contrários lutam por se equilibrarem: de um lado, o fio do movimento segue em seus estertores, alimentando a violência nos quatro cantos do mundo; do outro o fio do repouso se mantém escondido, mas atuante; é possível se observar isso pelas iniciativas de pequenos e numerosos grupos de arte, de filosofia, de ajuda que não deve ser só no Brasil; o mundo todo está precisando de ajuda.

Quanto à psicologia pessoal, determinadora de um estilo, creio que a solidão em que sempre vivi foi formando em mim um bojo, ajuntando pedaços de experiências que se agruparam lá dentro e hoje atuam como caixa de ressonância, quando eu entro em contato com essas fontes, pelas vias de descer com a mente à procura de alguma sobra, elas se apresentam quais vestais gregas, revestidas de mistério; não dizem a que vieram; simplesmente se postam diante de mim; eu devo explorar alguma coisa de seu silêncio, enquanto elas se dissipam na voracidade do tempo.

Se é que posso falar, meu método é intuitivo e você já o percebe provindo de camadas além da razão; é mania de interiorizar tudo, de buscar dentro de mim as correspondências do que o dia-a-dia vai forjando.

Talvez não lhe tenha passado despercebido que dificilmente cito autores; a causa é essa: um método que não encontra respaldo senão no interior dele mesmo.

Meu estilo sou eu, exposto a quem quiser me ver por minhas idéias.


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