Comentei, em outra parte, o quanto essa energia retida causa de doenças; uma outra atividade dela é a de acelerar um metabolismo particular, de acordo com o estimulante externo. A energia retida, quando se agita, pode intumescer a tireóide; a pessoa perde, por segundos, a respiração e, afogada, na rapidez de um relâmpago, é capaz de cometer os mais desvairados tipos de agressão. Resulta daí a expressão ”eu não sei por que fiz isso”.
Há também os casais apaixonados; eles estão sob o impulso da mesma energia, porém, instintivamente desviam o foco: a energia se concentra no pólo de suas sensações; ali ela se manifesta por uma espécie de queimação que os torna incontroláveis, na busca de fazer cessar o elã. Nessas situações, a razão se distancia das conseqüências.
Por ser decorrente de um impulso, um casal apaixonado tende à separação porque, cessada a paixão, não há algo mais sólido que sustente a convivência; da paixão resta a solidão.
Muitos são os que costumam se dizer “apaixonados” por música, cinema, futebol, literatura e outras; mas esse tipo de “paixão” é continuo, duradouro; a palavra “apaixonado” aqui é utilizada como força de expressão; apenas quer dar ênfase a um entusiasmo, colocá-lo num grau acima da afinidade. Uma das características da paixão é a impulsividade; é ser momentânea; sem seqüência; a paixão é como uma bolha: incha, explode e se desfaz, como se buscasse consumir a si mesma.
Esse traço de consumir a si mesma permite a alguns comparar a paixão com a serpente oroboros, aquela serpente que se alimenta do próprio rabo; mas alimentar-se é preservar e a paixão não preserva; só se aquieta quando destrói. Os estragos que a paixão faz não são alimentadores porque ela deixa de existir.
No auge de uma paixão, alguém pode ficar tão vulnerável a ponto de receber encosto; aí a paixão dá lugar à danação; essa aparência de paixão sim, pode ser duradoura pela força maior que está atuando sobre a consciência do outro e reluta em se retirar.
A Paixão de Cristo adquire característica diferente porque o ofendido não revida; mesmo assim, a palavra “paixão” não perde a significação de: mudança, passagem da materialização para a transcendentalidade.
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