segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Debate Político (Em13/10/2006)

Muitos debates políticos são verdadeiras aulas para alunos de Letras, Direito, Itamarati e paralelos.

Ainda sou do tempo em que os professores aconselhavam os alunos que ouvissem discursos de políticos loquazes, em função de sua versatilidade na arte de exporem as idéias, como argumentar, como aludir e tantas outras orientações que recebíamos, também de ouvir camelôs para assimilarmos a forma de eles conduzirem os assuntos, visando a vender seus produtos; nossos professores nos introduziam assim para a técnica de “vendermos” nossas idéias. Estavam corretos porque a prática era ao vivo, sem retoque.

O debate valeu pelos níveis de linguagem de que se utilizaram os contendores: de um lado, a frase feita, sem conteúdo, sem inspiração porque lhe faltavam os fundamentos; do outro a lógica, a argumentação, a escola, a facilidade de expressão estribada numa fundamentação irretocável. Lindo, lindo.

De um lado a busca de convencer pela emoção, pela frase raquítica, surrada e gasta ao longo das lides de muitos anos na área de vencer pelo casuísmo; do outro, o texto maciço, acusador, retórico e acadêmico.

A lona caiu sobre o remendo e obstruiu os desvãos por onde a retórica não pôde dar os ares de sua graça; um dos opostos avançou pela área do outro e desequilibrou a balança. Mas a importância do debate se firmou na distinção dos níveis de linguagem.

Mostrar aos alunos como se dizem frases ocas, produto de um despreparo arrogante, de alguém que nem sabe que nada sabe ou como se dar força à expressão, encaixando a palavra em espaços certos como peças de xadrez.

Foi possível observar um nível de colóquio, de frase feita, de frase vazia, de frase que fingia ser séria pelo jogo das aparências; esse texto se aproximaria do ideal se pudesse demonstrar, dar exemplos com as falas de cada um, mas há o interesse de evitar identificação.

No outro nível, num nível bem acima quanto à linguagem: a frase redonda escorreita, estatística, livre de qualquer distorção nas concordâncias e regências, regia também a batuta dos acordes recheados sobretudo de verdade que o outro não podia refutar.

É comum que, em debates assim os opostos oscilem um puxando o outro para seu terreno como cabos de guerra, mas o que se viu ali foi tráfego de mão única

O debate se verificou praticamente a nível de memória, com incursões à razão e à inteligência com que se faziam as relações entre os fatos; só que um dos dois se emperrou e nem pela memória conseguiu livrar-se do anzol do outro encoberto por iscas irresistíveis.

A linguagem é assim: flexível à capacidade de cada um. É claro que seres premidos pelas preocupações de não se exporem perdem o fluxo da linguagem, sobretudo quando têm pouco a dizer. Ate nisso o debate sai proveitoso a futuros oradores.

Foi o que vi.


Debate Político I (Em13/10/2006)

Um conferencista foi convidado para falar a uns monges; subiu ao púlpito cheio de si e passou a desenvolver um tema árido e desinteressante de tal modo que logo afugentou o auditório. Ao final, apenas uns rostos complacentes; um fiasco total.

Desceu, perguntou ao amigo: o que aconteceu?

- Se você tivesse subido como desceu, você teria descido como subiu.

Você desceu humilhado porque subiu orgulhoso; se tivesse subido com humildade, teria descido consagrado.

Um Lance Genial (Em 07/10/2006)

- Hoje quero mostrar a vocês que Deus não existe. Essa idéia de Deus é balela. Querem ver?

Joãozinho saia da sala e fique lá fora na direção desta janela. O que você vê daí?

- Vejo a árvore, as flores do jardim, os pássaros cantam.

- Olhe para os lados, o céu. Você vê Deus?

- Não. Não vejo Deus não, fessora!

- Eu não disse a vocês que Deus não existe! Fica provado que Deus não existe.

Lá no fundo da sala o menininho levantou a mão.

- Professora, posso fazer umas perguntas pro Joãozinho?

- Pode. Claro que pode!

- Joãozinho, você pode vir até aqui? Agora, por favor, me responda: o que você vê daqui?

- Vejo os colegas, a professora, o quadro, as janelas.

- Ótimo. Joãozinho! Me diga uma coisa: daqui você vê o cérebro da professora?

- Não. Não vejo não!

- Fica provado que o cérebro da professora não existe.

Eis aqui um exemplo ideal de como o professor deve saber perder em função de seus alunos; se a professora não tivesse abdicado de si mesma, a idéia de Deus não ficaria tão fortalecida.

A professora soube contou com um lampejo de uma delas para canalizar bem o potencial dos alunos para tratar de um assunto difícil com a lucidez de mestra.

Não adianta procurar Deus no universo; o universo foi formado apenas com dois dos atributos da mente de Deus.

Os atributos com que Deus criou o universo foram: razão e inteligência.

Se olharmos para uma mulher, por mais bela que ela seja, ali estão quatro dos sete atributos sagrados.

Este “olhar” pode se estender a qualquer pesquisa, em qualquer nível; a visão será sempre parcial.

A mente sozinha não alça vôo porque depende dos impulsos energéticos que emanam da consciência.

É elementar, querermos alcançar Deus pelos órgãos dos sentidos, é incompleto querer alcançar Deus pelos atributos da mente; é correto querer alcançar Deus pelos atributos da consciência; eles em si, também são insuficientes, mas como estamos atuando com os atributos da mente, eles se somam aos atributos da consciência e totalizam o homem.

Aí fica fácil a sintonia com Deus.

Deus está na mente; a consciência está no coração; o meio entre a mente e o coração e a vontade. Pela vontade juntamos a imagem com a semelhança de Deus.

Um pai de família passa a ser parte de si mesmo quando isolado dos seus; a totalidade dele só se completa junto aos seus; também Deus só se realizará quando todos os homens se totalizarem cada um em si mesmo. Deus abdicou de seus atributos por nós; por isso está em cada um de nós, do mesmo modo que o pai de família abdica de si mesmo por amor aos seus e está em cada um deles.

Um Lance Genial - Complemento (Em 07/10/2006)

Deram certa vez a uma criança um quebra-cabeça que consistia em armar o mapa do mundo; sem entender de geografia, de imediato a criança devolveu o problema solucionado; quando lhe perguntaram como conseguira, ela respondeu:

- do outro lado, havia o retrato de um homem; eu juntei os pedaços do homem e o mundo ficou

certo.

Viu? Bastou juntar os “pedaços do homem”; os “pedaços” do homem são seus atributos internos e externos; quando se juntam, o perfil do homem aparece por trás do universo.

O homem é mais, conforme esses “pedaços” são guardados no coração.

O Vazio (Em 29/09/2006)

É ausência, mas é uma ausência consciente; abre-se para que a presença esteja em toda parte; o vazio é o Grande Ser. Seu peso tem de manter equilíbrio com o peso dos corpos do universo; por aí se pode imaginar a extensão, a dimensão de espaço que ele ocupa.

O vazio é nossa casa porque é onde encontramos repouso; é para onde nos recolhemos. Fazemos uma casa e moramos nela, mas o que vale é o vazio que ela disponibiliza. O vazio é que dá sentido à vida: por ele o vento circula, respiramos o ar; sem o vazio, os raios do sol não chegariam até nós. O movimento é para o vazio como se alguém lhe alisasse os cabelos.

Se o vazio é tão importante, por que não procuramos criar espaços vazios dentro de nós? Ali ele ganharia expansão. Mas, como podemos abrir espaços em nós? O entrave está na forma de nossos pensamentos: se observarmos bem, nossos pensamentos, sonhos e desejos são sobre assuntos ligados a nós; mesmo quando oramos, oramos sempre em função de alcançar algo, praticamente oramos para pedir e assim nos entupimos de interesses contrários ao vazio.

Que tal se nós, em vez de tantos anseios, nós nos colocássemos no vazio, igual a esse vazio que nos circunda, sem palavra, sem afeto, sem rogo; apenas sendo no vazio: Que tal?

Sabe onde está o vazio absoluto? O vazio absoluto está no agora; neste centésimo de segundo que está passando.

Tenho para mim que, quando alcançamos esse vazio, o tempo pára; esse espaço de tempo que permanecermos no vazio é sem tempo, não conta em nossa vida, estávamos na eternidade.

Existe até uma certa lógica na adoção do vazio: se os corpos celestes se deslocam, estão sujeitos ao movimento; o ser humano está sujeito ao movimento mas, diferentemente dos corpos celestes, o ser humano tem atributos de migrar do movimento.

Outra linha de lógica seria assim: se existe movimento, existe também o seu oposto; o oposto do movimento é o repouso; atuando no movimento, o destino do homem é seguir na direção do repouso.

Mais ainda: todo vazio é ocupado pela consciência universal; o ser humano pode criar espaço vazio na mente e no coração; a consciência universal pode ocupar o vazio criado pelo ser humano na mente e no coração.

Só o ser humano pode criar espaço o vazio na matéria de seu corpo; como a consciência está no vazio, só o ser humano pode abrigar a consciência na matéria de seu corpo.

Afirmei que o vazio é consciência. Sim, porque a consciência preenche todos os es paços vazios desde o interior de um átomo até os intervalos entre galáxias.

O vazio primordial é a consciência; a consciência liberta de todos os eus e de todos os meus; o vazio é primordial; nos tempos primordiais não existiam os eus e os meus;

O vazio é a libertação.


O Vazio - Complemento (Em 29/09/2006)

A águia, cria os filhotes nos penhascos, entre as pedras; num dado momento, ela os arremessa lá de cima para baixo; eles precisam se lançar ao vôo.

Os filhotes estavam em uma dimensão inferior: uma dimensão de dependência. No vazio, as potencialidades se manifestaram neles; no vazio, os filhotes tiraram de si mesmos os meios com que alcançar uma segunda dimensão: a dimensão do vôo.

Também conosco é assim: a primeira dimensão é racional; na dependência dos órgãos dos sentidos: precisarmos ver, apalpar as coisas; as coisas precisam ser comprovadas pela razão.

Quando nos lançamos no vazio, todas as exigências da razão desaparecem e temos a oportunidade de sermos nós mesmos, porque a liberdade suprema está na ausência de tudo.


Atrás das Grades (Em 22/09/2006)

Pois é. Ela entrou em certa residência e matou dois gatos; a dona das vítimas foi à delegacia e abriu um processo; a juíza mandou recolher o animal a uma cela da delegacia; ali aguarda julgamento.

Há algo de vazio de desalentador neste episódio; uma certa dose de ingenuidade preside essa cena de marionetes.

Nivelar o animal à condição humana, além de inusitado, é folclórico; mas a juíza alega que, na cidade, não há canil e pediu que o processo seja agilizado.

É esperar pra ver.

Pensando bem, quem está errado sou eu; eu me corrijo: todos têm razão; essa cachorra deve ter aprendido com Lavoisier sobre a sobrevivência do mais forte e a juíza não pôde relaxar um processo por estar na boca do povo.

Muitos quererão linchar a assassina por invasão de domicílio; e os guardas se porão de prontidão, em alerta máximo, baionetas em punho. Quem sabe não seria melhor culpar a professora? Ela não ensinou geografia, direitos e deveres de cada um, controle de instintos entre os animais.

Foi dizer isso e um alvoroço geral ganhou corpo e o povo se plantou diante da escola e se levantaram os filhos do povo em defesa da ilustre educadora. Então todos se recolheram a suas trincheiras, buscando um bode expiatório. Não demorou e outros avolumaram a culpa sobre o delegado no aceitar uma queixa tão esdrúxula; mas, como resistir aos ímpetos de uma mulher irada? Como deixá-la sair com as mãos ainda sujas do sangue inocente? Sabe lá Deus com que encantos essa mulher foi à delegacia!

Lances paralelos de tanto folclore vão se somando à confusão geral, por exemplo: a quem o oficial de justiça vai entregar a intimação? Será preciso nomear um promotor, um advogado de defesa e a coisa vai se espichando.

No dia do julgamento, auditório acotovelado; grandes lances de retórica; peças oratórias de grande força e, por fim, o fecho emocionado com arrebatamento de encaminhar a sentença para a pena de morte..., dada a gravidade do fato que alcançou limites acima da Constituição.

Em meio à animosidade dos causídicos, a juíza interromperia os lampejos e se proporia a assumir a adoção do réu. (aplausos, muitos aplausos)

O julgamento seria suspenso e a repercussão na cidade levantaria foguetório. Assim se fecharia o círculo, e um episódio que começou com sangue, terminaria com festas no coreto da pracinha.

Um orador do lugar, no embalo de arroubo oratório tomaria emprestada a frase de Machado de Assis: “Deus, querendo superar Deus, criou dona Evarista”; a Doutora Juíza, superando-se a si mesma decidiu-se pela preservação da vida. Sua Excelência surge como aurora nos céus desta cidade a iluminar nossas consciências num momento de angústias, com um gesto de tamanha grandeza.

E a senhora desceria do palanque conduzindo seu troféu a que ensinaria boas maneiras e teria uma discípula aplicada e obediente até que lhe acendesse o instinto de matar o próximo bichano.

Ué! Será que eu fiquei louco!

Atrás das Grades - Complemento I (Em 22/09/2006)

- por favor, eu queria saber como está o paciente do quarto 320.

- um momento por favor, que eu vou chamar o médico de plantão. (espera)

- alô, plantão, às suas ordens.

- doutor, eu queria saber sobre o paciente do quarto 320, qual é a situação real dele?

- deixe pegar a ficha, um momento. (espera). Olhe, aqui pela ficha ele deverá ter alta hoje

à tarde ou amanhã de manhã. O estado dele é bom, só que precisa complementar o tratamento

em casa. Quem está falando?

- é o paciente do quarto 320; é que eu estou aqui há quase um mês, vocês vêm aqui e não me

dizem uma palavra sobre minha situação, como se eu fosse um estranho a minha doença.

Atrás das Grades - Complemento II (Em 22/09/2006)

Dá pra você perceber essas pessoas tentando se fixar em alguma coisa pelo lado de fora? Dá pra você perceber como é confuso o lado de fora? Dá pra você perceber como as coisas se perdem no vazio, não se chega a lugar nenhum? Assim é nossa vida pelo lado de fora: esses desencontros nem sempre são visíveis, mas tudo é desencontro, tudo é alienação, fora do compasso, porque estamos tentando nos equilibrar em um só prato da balança. Quantos por cento da humanidade você acha que estão em um só prato?

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pergunta - Como você achou seu estilo? (Em 15/09/2006)

Se você acha que eu tenho algum, eu o encontrei extraindo leite de pedra; não tenho facilidade para escrever, talvez por mania de exigir de mim mais de minhas disponibilidades; o fato é que eu sou capaz de ficar dias à procura de uma palavra, de como remendar uma frase; o texto me testa a perseverança.

O estilo se caracteriza pelo encadeamento sonoro; para isso, não basta que a palavra procurada atenda ao conteúdo semântico; ela precisa contribuir para que a seqüência sonora se mantenha ao longo da frase ou do texto; esses aspectos sonoros são provenientes de camadas profundas do escritor e o denunciam face à análise de texto; não menos importante é a jeito de abordagem de um assunto: explorar os recursos de ordem, seqüência e clareza; essas coisas fazem o escritor.

Escrever pra mim é exercício de paciência porque, é eu pegar um caderno ou sentar-me ante à tela do computador, as exigências já se aguçam e começam a se exibir, e não se cansam de me exporem suas intimidades.

Não vou enumerar os quantos como eu sentiam essa dificuldade; só que eles eram escritores; eu sou apenas um curioso das palavras, por profissão.

Discorrer sobre o próprio estilo, explicar de verdade como seja, envolve psicologia, em dois níveis: pessoal e relacionada com o momento histórico.

O momento histórico motiva o assunto; o momento histórico expõe as raízes daquilo sobre o qual se deseja escrever. Se escrevo sobre a dualidade humana, é porque é chegado o momento de se abrirem as consciências à formação física e metafísica de cada um de nós.

De um ponto de vista mais amplo, o momento histórico é de expectativa: algo está por acontecer porque, não me consta que, em qualquer tempo, a humanidade tenha se colocado diante de tanta evidência de como os contrários lutam por se equilibrarem: de um lado, o fio do movimento segue em seus estertores, alimentando a violência nos quatro cantos do mundo; do outro o fio do repouso se mantém escondido, mas atuante; é possível se observar isso pelas iniciativas de pequenos e numerosos grupos de arte, de filosofia, de ajuda que não deve ser só no Brasil; o mundo todo está precisando de ajuda.

Quanto à psicologia pessoal, determinadora de um estilo, creio que a solidão em que sempre vivi foi formando em mim um bojo, ajuntando pedaços de experiências que se agruparam lá dentro e hoje atuam como caixa de ressonância, quando eu entro em contato com essas fontes, pelas vias de descer com a mente à procura de alguma sobra, elas se apresentam quais vestais gregas, revestidas de mistério; não dizem a que vieram; simplesmente se postam diante de mim; eu devo explorar alguma coisa de seu silêncio, enquanto elas se dissipam na voracidade do tempo.

Se é que posso falar, meu método é intuitivo e você já o percebe provindo de camadas além da razão; é mania de interiorizar tudo, de buscar dentro de mim as correspondências do que o dia-a-dia vai forjando.

Talvez não lhe tenha passado despercebido que dificilmente cito autores; a causa é essa: um método que não encontra respaldo senão no interior dele mesmo.

Meu estilo sou eu, exposto a quem quiser me ver por minhas idéias.


Darwin e os Homens Cultos (08/09/2006)

Está em andamento uma discussão velada em torno da teoria da evolução; ela seria contrária ao que é descrito na Bíblia sobre a criação do mundo.

Pelo que sei, Darwin teria dito que as espécies obedecem à lei da seleção natural e à lei do acaso; mesmo que Darwin tivesse dito que punham fim a qualquer crença em Deus, Deus não seria o Criador do universo, a visão de Darwin era científica, racional e a razão não alcança os valores metafísicos que são de outra dimensão: não são lógicos: alcançamo-los pela intuição; meu Deus, será isso tão difícil de entender assim!

Eu estou na praia; de frente para o mar; eu vejo ondas, pessoas brincando, barcos a distância, aves; e mar é só o que eu vejo, ou existe mais mar além do que eu vejo?

Darwin teorizou sobre aquilo que viu, sobre o que experimentou cientificamente, mas o que Darwin viu, experimentou é o todo ou existe algo por trás do que Darwin viu?

Darwin viu um processo em andamento e não me consta que tenha questionado a origem desse

processo; ele foi até onde a razão lhe permitiu e nisso foi honesto.

Meu Deus, será que eu estou errado! É verdade que não existem opostos!

Não seria mais consentâneo abordar o assunto com base no movimento e repouso? Darwin viu o processo em andamento, no movimento; Darwin não contestou o repouso com base

em suas teorias, ou contestou? Bem que você poderia me ajudar, indicando-me onde estou errado; ou será que estou fazendo mau juízo de pessoas tão cultas, gente de tantos diplomas discutindo o assunto; se eu tivesse acesso a essa gente, eu lhes contaria a história daquela professorinha procurando uma idéia sobre Deus; pesquisou muito, em vão: livros, mestres, universidades, conferências; certo dia, em aula, ela perguntou a seus aluninhos; diversos repetiram lugares comuns, até que um deles levantou a mãozinha: “sabe fessora, a minha mãe me disse que Deus é como o açúcar no meu leite que ela faz todas as manhãs, eu não vejo o açúcar que está dentro da caneca no meio do leite, mas se ela tira, fica sem sabor. Deus existe, e está sempre no meio de nós, só que não O vemos, mas se Ele sair de perto, nossa vida fica...sem sabor.”

Essas discussões nos deixam a idéia de que pessoas tão cultas estão fazendo força para mostrar o açúcar dentro da caneca; mas açúcar não é para ser visto; é para ser degustado, saboreado, só se manifesta do lado de dentro de nós; aí a presença dele se faz mais ativa do que o leite. Ou estou enganado? Bem que você poderia me ajudar...


Darwin Complemento (Em 01/09/2006)


Não sei se já contei aquela do índio que tinha dois cachorros;

Um, enorme fanfarrão, brigão;

O outro pequenino, sempre na dele.

Dizia o índio que eles viviam sempre brigando porque o grande provocava o pequeno.

Um belo dia alguém perguntou:

- qual dos dois vencerá?

- aquele que eu alimentar mais.

Esses dois cachorros representam a Mente e a Consciência.

A preocupação com um deles é a ponto de não se perceber que o outro pode sofrer de inanição e “morrer” dentro de nós.

Pergunta - O século 20 foi um grande cemitério? (Em 01/09/2006)

Se a entendermos ao pé da letra, estamos vendo que o século 21 talvez já tenha dizimado metade dos corpos que se enterraram, em conflitos, ao longo do século 20.

Parece-me, no entanto, que a pergunta se refere à mente humana: o século 20 enterrou a mente humana? Eu lhe diria que não.

Os atributos da mente precisam ser utilizados um em função do outro e não como vimos fazendo até agora, dando ênfase à utilização maciça da memória, sobretudo num século que pretende ser avançado como este nosso.

Foi possível que a humanidade sobrevivesse pela memória até o século de Descartes, quando teve início o racionalismo. O racionalismo culminou com o cientificismo do século 19.

Se no século 20 tivemos a bomba atômica, Chernobil, que enterraram tanta gente, elas causaram uma profunda comoção no sentido de se encontrarem caminhos para uma certa transcendência, que se espera tenham repercussão neste século.

Dessa busca incessante, é possível destacarmos dois nomes de filósofos que, no século 20, buscaram as relações de suas ciências com realidade interior do ser humano.

Henry Bérgson, para quem o método dos métodos é a intuição:

Pierre Teilhard Cardin que conduz suas pesquisas científicas com a visão direcionada para um ponto ômega, no espaço aberto.

Se eu aceitasse que o século 20 foi um cemitério, teria de creditar ao século 21 a fase da ressurreição. Acontece que nós ainda precisamos dar impulso à ciência na busca de encontrar relações com nossa realidade interior; aí a ciência se iluminará pela conciliação dos opostos.

Acredito sim que estamos iniciando uma “corrida” para a interiorização; a inquietação e paradoxal, condição de precisarmos nos proteger por atrás das grades em nossa própria casa é o prenúncio de que, por trás disso, está a luz. Quem sabe assim confinados, nós tenhamos tempo de refletir sobre nossa condição e encontrar os caminhos que aqueles filósofos buscaram apoiados em suas ciências.

A inversão de culturas que se verifica atualmente entre o Oriente e o Ocidente teve início no século 20. O Oriente está de mudanças para o Ocidente; o Ocidente instalando suas tralhas no Oriente; isso nos indica que estamos fincando o pé no chão para iniciarmos a “corrida” para dentro de nós mesmos, nem que seja sob a influência de olhos oblongos.

Outro aspecto de vivificação do século 20 foi o advento da comunicação a distância, a alta tecnologia foram produtos do esforço humano no sentido de vivificar o século vinte que, sob este aspecto, foi comparado ao século das grandes navegações.

Pergunta...O século 20....(Em 01/09/2006)

Um sujeito correndo de um urso, caiu numa ribanceira e se agarrou a um galho de árvore; acima o urso querendo devorá-lo; embaixo um par de onças esperava para o banquete. Nisso ele viu um morango madurinho; com o esforço de um braço só, conseguiu pegar o morango e o pôs na boca, que doçura, que delícia!

- e as onças? E o urso?

- ah! Não importa o tempo futuro; o que vale é o agora; agora na delícia do momento.

A memória oscila entre o passado e o futuro; passado e futuro um já não nos pertence, o outro está por nos pertencer, na brevidade do instante. A memória foge do presente, porque o presente é luz e a memória gosta das sombras, de onde pode nos assustar com seus fantasmas.

O futuro é hoje, a felicidade é agora, o amor é aqui.

Ante lembranças do horror, ouvi recentemente um clamor assim: “Por que Deus deixou chegar a esse estado? Onde estava Deus quando isso aconteceu?”

Deus só está a serviço do homem dentro do homem; fora do homem, existem apenas dois atributos de Deus: razão e inteligência; essas regem o universo.

A memória, essa sim cria paroxismos, perplexidades, acusações que podem comover as massas, todavia nada são do que reflexos pálidos de uma realidade que se encontra irreversível, fora de nosso alcance, perdida no tempo.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Os Homens tem medo das Mulheres? (Em 25/08/2006)

Eu sempre tive. Fica aí minha resposta: eu sempre disse que tenho medo das mulheres.

Não é um medo físico; no campo físico, há paralelismos em que a mulher é imbatível; não é daí que advém meu medo; o que causa assombro é uma aura de mistério com que a mulher adorna a própria perfeição; eu não consigo alcançar a origem da serenidade de que ela se reveste. Parece que todas elas são envoltas numa penumbra específica que se situa muito além do batom; a essa eu não tenho alcance; eu não subi ao nível de consciência e luz de onde vêm essas miríades.

- desça dessas alturas e explique por que o homem bate na mulher.

- o homem bate na mulher para se defender. Existe é uma diferença de linguagem que o homem não entende e se desespera. A mulher conhece o ser frágil que se esconde por trás daqueles músculos; é função dela orientá-lo, mas ele não aceita e projeta nela a única disponibilidade: a força de que ele também é vítima por não ter domínio sobre ela.

A mulher tem a chave do mistério que se esconde no interior do homem; não é fácil aceitar isso. Mas o homem se percebe desprovido de condições para divisar o que ela transmite pelos olhos, pelos gestos, a pele, o porte físico, os cabelos; tudo são códigos que ao homem é muito difícil de ler; seu olhar fica preso a uma das dimensões dela, sem sequer enxergar a outra margem, de onde os anjos zelam por ela.

O homem tem medo da mulher porque, quando ela fala com o homem, ela se dirige à mulher que está dentro do homem; é uma linguagem que está além da razão;

O homem tem medo da mulher porque ela lhe fala a nível de despertar a consciência e o homem tem a consciência embutida;

O homem tem medo da mulher porque ela lhe causa esses transtornos mentais que ele não consegue conter.

Por um outro aspecto, você já observou uma mulher pobre? Olhou nos olhos dela? Se olhar, é capaz de ver-lhe o brilho sereno e velado por trás da limitações? Cozida no sofrimento e temperada no fogo de suas angústias, vem daí o poder, a força. Uma mulher pobre causa medo: ela é dotada de muitos recônditos; fez cursos de fome e privação. Isso a graduou em planos superiores, longe de nossa imaginação.

- E a mulher do meio, aquela que trabalha e sofre constrangimentos de tantas faces?

- todas elas estão no meio; no ponto em que se conciliam os opostos; olhe a placidez de uma moça que segue do trabalho, a pele sutilmente aveludada, marcas de cansaço; essa não tem tempo de ser para si; então resplende de sua aura uma ternura de anjo; essa apenas é para o mundo um sopro de vida. A maioria assume encargos de dar cobertura a defasagens familiares. Essas apesar de sua pouca idade, vivem esquecidas de si; anulou-se-lhes a vaidade; elas se alimentam do sonho de se enfeitarem; pensam que se enfeitando, ficam mais bonitas e não percebem que sua beleza vem do anjo que lhes retoca o ser a cada instante.

- você acha que é assim mesmo? E as mulheres masculinizadas?

- despertaram o homem que dormitava dentro delas; se souberem retocar seu feminino, conciliam

os opostos; do contrário, rebaixaram sua natureza; terão de refazer o processo.

- quando você olha pra uma mulher, em que você se fixa?

- na região do coração; ali eu procuro a luz que me falta.

- vi certa vez esta pergunta: “o que você acha que uma mulher pode esperar de um homem”

- com certeza, a mulher há de esperar que o homem dê a ela uma oportunidade para que ela

mostre a ele a luz que está nele.

- entendo seu medo...


Pergunta... Os Homens tem ... (Em 25/08/2006)

No fundo do rio, viviam os arbustos agarrando-se às pedras ou fincando as raízes na terra dura do leito. Um deles reclamava de ter de viver naquela situação e ameaçava soltar-se; os outros se apoiavam na tradição: há milhares de anos viviam assim, não era ele que iria mudar. Um dia ele se soltou e foi elevado à flor das águas que o conduziam rio abaixo; passava pelos lugares e os de baixo atônitos diziam:

- eis ali o nosso salvador, ele veio para nos salvar.

Ao que ele respondia:

- eu não sou salvador de ninguém; eu sou apenas um que se soltou. (Internet)

A mulher tem em si essa dotação: saber se colocar acima dos obstáculos; ela parece puxada por uma força superior que a faz sempre flutuar sobre as águas, por mais turvas que estejam.

A mulher se solta para nos dar a mão na correnteza.

Desvio de Foco ( Em 17/08/2006)

Os que lêem sobre Cristo, o que fez na terra, percebem o quanto ele nos colocou sempre como centro da vida dele. Nós como centro de suas realizações, de suas falas. Ele queria que nós desenvolvêssemos a própria consciência, pela interiorização.

Cristo se retirou, Cristo se foi de nós e nós colocamos Cristo como centro de nossa vida. Invertemos o foco que Cristo estabelecera: em vez de olharmos para nós, passamos a olhar para Cristo; esquecemos de nos desenvolver interiormente.

Não tendo agido assim, não expandimos o nível de nossa consciência.

A doutrina de Cristo, vista por este ângulo, é completa porque suas normas se aplicam umas pelo lado de fora, outras pelo lado de dentro de nós mesmos. Avança do mundo do movimento para o mundo do repouso; o mal é que até agora continuamos patinando pelo lado de fora, sem encontrarmos a porta para a entrada.

Não percebemos que a entrada é apenas conduzir a mente para o coração e aí permanecer o mais que pudermos. Nisso é que consiste o desvio de foco: em vez de procurarmos trabalhar nossa interioridade, ficamos presos aos fatos pela memória, mesmo sabendo que esses fatos se verificaram num tempo e espaço distanciados de nossa realidade.

Horizontalidade é: mente x fatos; fatos x mente; temos de dar um jeito de sair desse pingue-pongue.

Cristo nos dá um exemplo com a parábola das dez virgens Mt 25,1 Saíram, com suas lanternas para uma festa de casamento; à espera do noivo, puseram-se a dormir; quando o noivo veio, já era tarde da noite e cinco delas acenderam suas lâmpadas; foram convidadas a participar da festa; às outras não tinham providenciado azeite para acenderem suas lanternas; pediam emprestado, sem que ninguém lhes atendesse; ficaram do lado de fora; não conseguiram entrar.

Parece meio sem sentido esta parábola mas, se observarmos bem, ela se refere aos mundos do movimento e do repouso; lados de fora e de dentro de nós mesmos; todas eram virgens, portanto, já tinham o coração limpo de qualquer desejo; já tinham trabalhado seu lado interno; todavia, as cinco não tinham experiência de lidar com o lado externo de si mesmas; faltou-lhes a experiência com o mundo de fora; faltou-lhes planejamento; elas não foram previdentes; não

Conseguiram conciliar o lado de dentro com o lado de fora; dessa conciliação, nasceria a luz para suas lamparinas; elas não alcançaram iluminação com um lado apenas de seu desenvolvimento.

Um outro aspecto desta parábola é que, quando se trata da espiritualidade, ninguém pode nos emprestar, porque ninguém consegue transferir um grau de desenvolvimento para o interior do interior do outro; o desenvolvimento é individual; cada um tem de alcançar o seu; alguém pode me mostrar o caminho, mas só eu posso percorrê-lo.

Eis por que afirmei que a doutrina de Cristo é completa; porque, como no caso dessas virgens, um lado só de desenvolvimento não é suficiente e o cristianismo orienta nosso desenvolvimento pelo lado de fora e possui um manancial de doutrina capaz de nos conduzir para dentro de nós mesmos, no sentido de nossa iluminação; é só ler os textos sem preconceito.


Desvio de Foco - Complemento (Em 17/08/2006)

Um homem viu o escorpião se afogando; tentou salvá-lo; o escorpião o picou; o bicho

ia se afogando de novo; nova tentativa de ajudá-lo; nova picada. Alguém observou:

- você não percebe que o escorpião vai picar você toda vez que você o pegar?

- a natureza do escorpião é picar; a natureza do homem é ajudar.

Com um pequeno galho conseguiu salvá-lo.

O foco é isso: ajudar o que está se afogando;

O desvio de foco é isso: a memória de experiências passadas fez o observador concentrar-se na picada que tomaria, enquanto o afogado se debatia pela sobrevivência;

Sair do âmbito da memória é isso: já que por sua natureza esse escorpião vai me picar, eu procurarei outra forma de salvá-lo.

O uso exclusivo da memória nos torna omissos, insensíveis, inseguros, donos da verdade, teóricos e coisas assim vazias.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Professor (Em 11/08/2006)

Professor é profissional dotado de um estado de um saber que precisa passar adiante de geração em geração. Sua característica principal é o saber perder; perder por abdicação; perder por doação de si mesmo; ele se conscientiza dessa condição de se esvaziar para que seu aluno cresça em sabedoria.

Os obstáculos que o Professor tem de superar são alimentados por ele mesmo: uma insatisfação por não ser melhor em sua profissão; não que se compare, a luta é pessoal e paradoxal porque, enquanto os alunos o reconhecem como sábio, douto no trato humano, ele tenta administrar uma vontade incontida de ser mais diante de si mesmo. Nessa luta interior entre o que ele julga ideal e o alcançar esse ideal, reside a marca do grande Professor. E ele filtra em si mesmo uma consciência aguda do papel que precisa desempenhar para se insinuar em mentes sequiosas de saber.

As horas de sono mal dormidas são decorrentes de inquietações por uma docência aprimorada no transmitir de suas idéias. Assim, a consciência do Professor se desenvolve pela abdicação; cresce quanto mais ele abdica de seu tempo em função de outras consciências.

O verdadeiro Professor tem como lema aquela afirmação de João Batista sobre Cristo:

importa que ele cresça e que eu diminua Jo 3,30; no entanto, quanto mais o Professor pensa que diminui ensinando, mais se agiganta em força e jeito que vêm de além da própria condição; lucros de quem se aplica ao desenvolvimento humano.

Mas há um momento em que a experiência o leva a ler intenções que se instalam dentro de certas mentes tortuosas; ele então se imbui de energia com que se impor à situação; não se indispõe com o aluno; senão pelo aluno, convicto de sua leitura nos bastidores da psique de cada um.

O Professor possui certos padrões de ética de que não se desvia, no trato com paralelismos; ele traz em mente aquela cena do dízimo: os ricos depositavam seus excessos; veio a mulher pobre e ali depositou uma fatia de sua pobreza e diz o Cristo aos discípulos: - esta mulher pobre deu mais do que todos porque retirou a dádiva de suas limitações Mc 12, 41. Também o aluno pouco dotado o Professor avalia pelo esforço de esticar a mão para alcançar o que os outros já pegaram.

Desta forma, o Professor, tornando-se mestre de si mesmo, expande sua aura de competência na mente e no coração de seus alunos.


O Professor - Complemento (Em 11/08/2006)

As mentes tortuosas? O Professor acumulou estratégias de lidar com elas, na riqueza de suas experiências. Eram quatro os alunos: quinta-feira, saída da aula. Festa em Barretos;

- vamos?

- temos prova amanha!

- segunda-feira pensamos nisso.

Foram; fim de semana orgíaco. Na segunda:

- professor! Lamentamos a perda de sua prova, trabalho de botânica num sítio, pneu furado, aro

entortado, mecânico e não chegamos a tempo de...

- não se preocupem. Vocês farão a prova na quarta-feira; tragam o livro adotado.

No dia aprazado, o professor distribuiu os faltosos cada um em sala diferente; envelope fechado para cada um; tocou o sinal, os quatro, ao mesmo tempo, abriram os envelopes. Prova igual:

Questão 1: comente o momento histórico que motivou o autor fazer tal consideração na página x –

valor da questão 3 pontos.

Questão 2 – de que lado o pneu furou? - Valor da questão 7 pontos.

Sem comunicação entre si, pode se imaginar a discrepância das respostas e o pânico na cabeça de cada um.

Fica evidente a isenção de ânimo com que o professor atendeu os alunos, como resolveu a pendência sem se envolver em discussões inúteis e como inteligentemente ele devolveu o problema para cada um.

Memória (Em 04/08/2006)

A Mente possui três atributos: memória, razão e inteligência; a memória é atributo de primeiro grau; a razão, do segundo grau; a inteligência de terceiro. Inteligir significa interligar, interpretar, relacionar.

Atualmente se aplica maciçamente a memória, sobretudo no terceiro grau; no terceiro grau, o estudante deveria ser orientado a relacionar os assuntos de suas leituras com os valores de nossa vida, de nossa interioridade; não se faz isso: ele é avaliado pelo grau de memória que tem.

No começo de um módulo, são-lhe indicados diversos livros para leitura; ao longo dos debates, as interferências dele devem ser sempre fundamentadas nas leituras indicadas; no dia da apresentação, ele desenvolve uma tese em função daqueles livros; assim, ele se coloca do lado de fora da própria apresentação; torna-se um estranho ao próprio estudo.

Não há por que se possa condenar um atributo sagrado; mas o uso abusivo que fazemos da memória é condenável, porque com o uso predominante da memória, tornamo-nos:insensíveis, intransigentes, obtusos. Não percebemos que a mente não se desenvolve apenas por um atributo,ainda mais quando esse atributo atua num tempo e espaço fora de nossa realidade. Sim porque a memória está sempre distante de nós; voltada para trás; a memória tira-nos de nossa realidade presente para vivermos uma realidade fora de nosso tempo e espaço.

Se a memória se desloca, a mente fica dividida; a mente não pode se desenvolver por repartição de seus atributos.

Memória - Complemento (Em 04/08/2006)

Uma ilustração de como a memória alimenta nosso inconsciente coletivo é a historinha a seguir: Cristo resolveu descer à terra; optou pela condição de médico; viu uma fila enorme, doentes de toda espécie; entrou na sala onde apenas um médico atendia com aspecto de cansado.

- vai descansar; deixa que eu prossigo.

O médico saiu e o Cristo chamou o próximo da fila; entrou um sujeito com as pernas atrofiadas, empurrando a própria cadeira. E disse o Cristo:

- levanta, pega tua cadeira e vai para tua casa.

O homem se levantou e ia saindo quando os da fila lhe perguntaram:

- como é esse novo médico?

Ao que o outro respondeu:

- igualzinho aos outros; nem se levantou pra me examinar.

Preso à memória de atendimentos anteriores, ele nem se percebeu curado. A memória é isso: ficamos presos ao passado e nos embotamos de perceber o quanto as coisas mudam e nós permanecemos num tempo que já não existe.

Pergunta - Para que serve o Mito? (Em 28/07/2006)

O mito normalmente é representado por forças que se agitam dentro de nosso inconsciente; figuras de seres meio terra meio celeste; uma personagem que atua no plano humano e no etéreo; nosso espírito, embora atue apenas no plano humano, tem vínculo com os planos superiores; o mito serve exatamente como parâmetro para que nosso espírito perceba a existência de algo além do plano humano, e se motive a fazer despertarem seus vínculos com suas origens.

Quando se afirma que tal pessoa é um mito, deseja se afirmar isso: que aquela pessoa é um parâmetro de vida para o espírito de seus seguidores.

Percebe-se que o mito se instala num jogo de atuações opostas, sem força para promover a própria conciliação; já o espírito humano, se lhe for concedido um parâmetro, pode conciliar seus opostos e alcançar a luz.

O mito nasce de uma esperança coletiva que se consolidou no tempo. É a história daquele cientista que se perdeu em uma floresta e foi recolhido por nativos; ele descreve a miséria extrema em que vivia aquela gente, porque os golfinhos tinham deixado de trazer o peixe à praia e era disso que viviam; sem o peixe, faltou o alimento, faltou o leite das mães, crianças esquálidas e a fome grassava, e iam à praia, em devoção, invocar os golfinhos como salvadores de seus males, mas apenas o nada era tudo.

Muito tempo depois, passou por ali um avião e viu, do alto, o aceno; fez a curva, voltou e leu o S.O. S. que o cientista escrevera na areia. Dias mais tarde, chegou ao local uma expedição, inteirou-se da situação e alertou as bases sobre a penúria em que viviam os sobreviventes. O cientista optou por permanecer ali em meio àquela miséria bem nutrida e presenciou cenas de muita luz: não demorou e o resto faminto divisou uma linha branca na linha do horizonte, e o instinto sentiu os golfinhos de volta e foi uma alegria nervosa e a cantoria renasceu naqueles esqueletos ambulantes e a fartura restabeleceu o ambiente; construíram ali, na rusticidade local, um templo de adoração aos golfinhos.

E as lendas povoaram a mente daquele povo e os golfinhos ocuparam o lugar de um deus que socorre nos tempos de aflição.

A desnutrição tinha quebrado a resistência daquele povo; quebrada a resistência, os golfinhos se instalaram no mais profundo de seu inconsciente, como o único poder capaz de trazer a alimentação; quando a alimentação chegou, a resistência se fechou e a imagem dos golfinhos ficou no inconsciente de cada um.

Assim se forma o mito.

Aquele cientista colaborou para a consolidação do mito porque suas providências levaram barcos a dispersar as baleias que, há tanto tempo, impediam a passagem dos golfinhos . O mito é resultante da convergência de fatores que contribuem para que uma aspiração coletiva seja concretizada com força capaz de alcançar o inconsciente; nessa força oculta repousará o mito para se fazer presente quando as forças do homem parecem desfalecidas.


Mito - Complemento (Em 28/07/2006)

- A ressurreição de Cristo é uma farsa; nada disso existiu; sou um especialista no assunto e

questionei estudiosos de todo o mundo e todos nada sabem responder.

- Doutor, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta, disse o homem de cabelos brancos; tirou da

sacola e comia calmamente uma maçã. Os assistentes aguardavam; ele comia calmamente.

Quando terminou, fez a pergunta:

- O senhor poderia me dizer qual o paladar que tem a maçã que eu acabei de comer?

- Como eu posso saber? Eu não provei sua maçã!

- E o senhor provou o meu Jesus?

Os mitos foram predominantes quando ainda não havia imagens, de santos, por exemplo; o tempo foi sedimentando e elas adquiriram poder de se instalarem em nosso inconsciente.

Esse homem se refere a “meu Jesus”, permitindo perceber-se o quanto Jesus se instalou na intimidade dele em algum momento de abertura de seus registros, ao longo de sua vida.

O mito vem de regiões abissais e se sobrepõe a nossa lógica com o vigor de suas origens.

Poesia (Em 21/07/2006)

Poesia são fluxos sensíveis que o poeta extrai de si mesmo e os transforma em mensagens expressas por uma linguagem artística com poder de sintonia com o leitor. É a mais completa das manifestações literárias, porque procede de estados profundos da psique.

Além do inconsciente, os fluxos dormitam em uma espécie de berço no mais profundo de nós mesmos; o poeta desce a esses recantos de si, com o objetivo de alcançar certas gavetas; ali onde estão os conteúdos de que precisa para sua expressão artística. Dali ele os retira e se retira em silêncio; já do lado de fora, busca a palavra com que exprimir a sensibilidade que traz de seus páramos.

Como manifestação de arte, a poesia desperta identidade no leitor por ser procedente de um mundo comum, terra de todos e freqüência de poucos.

A poesia agrada sempre sob dois aspectos:

- o leitor se identifica com a mensagem

- o encadeamento é decorrente da harmonia com que o poeta engloba as cores de seus versos.

A interioridade humana é como um salão onde tudo existe para todos, mas a descida do poeta a essas regiões é feita com um objetivo claro: buscar o encontro com valores de exprimir seus estados de alma.

Sem interiorização, a poesia se torna endurecida, racional, lógica, perde em encadeamento sonoro; perde pela ausência de manifestação sensível que denuncia a força interior do poeta.

A poesia é também produto de bom gosto pela utilização das figuras bem urdidas, pela disposição das palavras, pelas licenças poéticas, sem direito de escapar das leis que a regem.

Tudo isso são contributos de fazer pairar acima de nós uma aura de mistério que nutre a poesia com o sentido da vida e onde cada um vai buscar uma identidade com seus ideais profundos que povoam nossas aspirações sutis.

Poesia - Complemento (Em 21/07/2006)

Em uma biblioteca pública, todo o seu acervo está em disponibilidade, sem distinção; mas a biblioteca não vem até nós; precisamos de algumas providências para dispor de seu acervo: sair de casa, o percurso, o credenciamento para entrar, a consulta no fichário, não raro com o auxílio de uma bibliotecária, a solicitação do livro. Ainda é preciso procurar a página onde está o assunto; só então alcançamos os conhecimentos que desejamos expandir.

É o que acontece para alcançarmos um ou mais dos valores dentro de nós: eles estão disponíveis, todavia não vêm à tona; nós é que temos de tomar as providências de percorrer os caminhos de dentro para alcançá-los: a intuição é a bibliotecária que pode nos conduzir à estante da alma e aí nos apropriarmos de seus atributos.

O estro poético está disponível a nós, mas precisamos nos esforçar por sua aquisição.

Pedi e abrir-se-vos-á, este “pedi” não é pedir com a boca! O coração precisa estar com as marcas de nosso esforço; quem dá o aval de nosso pedido é o coração, pelas marcas de nossa dedicação. Pedir com a boca é se voltar para fora de nós; ficamos de costas para quem pode nos atender no pedido.

Não raro nós pedimos uma coisa e aparece o seu contrário para que nos exercitemos no administrar o pedido, quando vier; como aquele náufrago que, sozinho em praia deserta, conseguiu angariar pedaços de madeira e fazer um barraco; certa vez, ao voltar de suas caçadas, todo o seu esforço tinha se consumido pelo fogo; lamentava a própria sorte; horas depois, percebeu que um navio se aproximava da praia, com um bote; foram resgatá-lo; após os agradecimentos, a pergunta:

– como vocês perceberam que eu estava aqui?

- nós vimos a fumaça; nesse lugar tão deserto, só poderia ser pedido de socorro.

Não raro nossos obstáculos são formas de aprendermos a nos preparar para recebermos os benefícios que mais esperamos. Em qualquer situação, só pelo esforço pessoal, pela abdicação adquirimos a consciência de como se chega às disponibilidades de nossa alma e aos recônditos da poesia.