segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Conto de natal (Em 12/01/2007)

Um promotor público entrou em um presídio feminino; espaço para 32, lá estavam 110; entre elas uma grávida naquele aperto.

O Promotor não teve dúvida: redigiu uma petição em nome do feto: este se declarava inocente dos acontecimentos a seu redor e reivindicava um lugar e tratamento mais digno para seu desenvolvimento e para sua pessoa.

Acredite: ganhou a causa. Pena que a justiça entre nós anda nas costas de tartaruga e a mãe só foi beneficiada no final da gravidez.

O parecer na sentença dizia mais ou menos que, embora um feto não tenha personalidade jurídica, já tem condição humana e portanto com todos os direitos que a lei prevê aos humanos.

Aqui termina o conto.

Se não foi assim, foi essa a intenção e sobre ela paira um alo de grandeza, de nobreza que ultrapassa a condição dos impetrantes para ganhar foro alto no catálogo de grandes feitos entre os homens.

A justiça nos limites; a justiça é um dos atributos da alma e a alma, do fundo de seu repouso, teve força de atuar sobre a mente do Promotor e dos envolvidos nessa causa nobre.

Deus os abençoe.

Essa criança que já nasceu com ares de ser, por abrir caminho para tantas outras causas que surgirão da semelhança e todas terão veredicto favorável, em virtude dessa abertura; e então a ação do Promotor não será um fato isolado.

O feito desse Promotor servirá para destruir um norma consuetudinária, enraizada nos costumes; é um avanço positivo sem dúvida; uma dinamite deslocando a pedreira com que sedimentar mais ainda a consciência do valor humano.

“Minha mãe disse que Deus é como o açúcar que eu ponho na xícara de café com leite. Ninguém vê o açúcar, mas ele está lá; se tirar o açúcar, o café fica sem gosto”

Deus está nas leis. Quando se tira Deus das leis fica o gosto de mensalão acobertado; quando se tira Deus das leis, todos os culpados se escondem sob a capa de uma conivência vergonhosa.

Deus está nas leis por isso, de quando em quando aparecem atos assim, de enobrecer o ofício e de se vestir com elasticidade que alcance o coração humano.

O velho Sócrates já dizia que “as leis humanas são cópia das leis divinas”. De quando em quando aparece um sacerdote para fazer das leis incenso com que prestar tributo à divindade, no altar da Consciência, pela causa dos inocentes.

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