Acredito que não seja idéia minha, quantos teriam pensado assim! O fato é que me ocorreu certa vez a idéia de haver, no inconsciente coletivo, um depósito onde estão armazenadas as grandes idéias que sustentam a História. A esses registros só o espírito tem acesso.
Afirmava ainda o fato de o espírito se esquecer de tudo a que veio quando entra na matéria e que só por ressonância de seus hábitos antigos, ele vai despertando em si mesmo suas aptidões com que atua no mundo.
Assim é.
Essas idéias me voltam quando sei daquele homem. Sim, um homem que, apesar de seus 86 anos, está cursando o segundo ano de um curso oficial correspondente ao nosso Primário. Nesses dois anos, não faltou a uma aula, faz longo percurso a pé, já aprendeu a ler e paralelamente estuda inglês.
A imprensa lhe foi ao encalço.
- eu pretendo fazer a faculdade e ajudar minha família.
Oitenta e seis anos! Tanta edificação assim não dá IBOPE...
De onde vem que esse homem despertou em si essas faculdades?
Seria ele depositário de um ou mais desses pilares da História? Teria a idade amolecido aqueles diques do esquecimento a que veio e que não está podendo conter jatos de sabedoria por se exprimir?
Meu Deus!
Dizem que, durante um ano e meio ele ia constantemente à escola por uma vaga e a conseguiu pelo cansaço da direção.
Essa persistência já nos edifica, mas ele quer mais quer ajudar a família!
Do ponto de vista da idade, é possível entender esses predicados assim tão vivos ainda, ou é preferível ver nele a luz de um saber que pede espaço; quer começar pelo berço, só que no outro extremo, mostrar que, para Deus, não existe o tempo?
Na reportagem, ele canta com as crianças em cujo meio está um neto seu. Nessa idade, quantos já não têm domínio de seus músculos, quantos?
Nele se impõe uma intenção de ser; como a flor que nasce no alto da montanha: quer apenas exprimir-se como um coração aberto; mas é tanta efusão dessa abertura que a notícia se espalha pelo mundo e chega até nós dos confins com a mesma singeleza da flor.
Espíritos assim são em si mesmos grandes luzeiros que vêm a este mundo e não fazem milagres porque eles são o milagre; discurso? Esse faz: “quero ajudar minha família”. Quer expansão de si mesmo, partilhar; e a vontade de assistir os seus nos assiste com seus exemplos; a intenção de servir lhe escapa o controle em borbotões sobre o mundo e sobre nós, como exemplo.
O espírito desse homem esperou que a idade tornasse vulneráveis as paredes do esquecimento; agora pede passagem; queira Deus que irrompa com o firme propósito de ser luzeiro sobre este mundo de tantos apagões.
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