quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Perder a Alma (Em 01/12/2006)

Diversas vezes tenho comentado sobre o coração como lugar de encontro do espírito com a alma; vem um homem simples, lá do interior do Brasil e, por um ideal de fé, e abre uma nova perspectiva no mesmo assunto.

Ele se negou a submeter-se a um transplante de coração alegando “medo de perder a alma”. Nada mais simples; nada mais profundo: preferiu os percalços do sufoco sem respiração até a morte, a abdicar de seus princípios religiosos.

De onde vem esse tipo de pessoa? Seriam ets, alienígenas que nos visitam para nos incentivar nessa vida de tanta sabedoria sem rumo?

Acredito que nunca se viveu tanto excesso de cultura; fala-se sobre qualquer assunto e talvez nunca tenha havido tanta falta de uma liderança em que o mundo possa confiar. É uma apatia geral causada pelo excesso de memória; esse homem vem desafiar os sábios, se ainda houver.

Não sabe que a consciência ocupa todos os lugares vazios, onde quer que os haja; não sabe da alma como é consciência que ocupa o vazio criado por nossa intenção; a intenção de abdicar, de fazer o silêncio interior, de não deixar que o coração se feche nas provocações, não sabe, mas sabe captar a sintonia do cosmos e traduzir as linguagens pela linguagem de sua abdicação.

Se o fundamento é a intenção, o coração novo não alteraria a intenção; mas sua preferência pelo coração velho, fê-lo ampliar o espaço vazio de seu coração doente pela intenção de submeter-se a uma vida de tantas incertezas.

Talvez pela falta de modelo, esse homem assoma em nossa mente com a força de um ator da tragédia grega, entre luz e sombra, com vestimenta de um estranho peso e de mensagem que foge às limitações de nossa cultura; vem do fundo do palco e se dilui ante nossa incompreensão.

A alma que ele temeu perder dilatou-se pelo refreamento das negações que tentaram obstruir seu poder de sintonia com planos muito acima da compreensão humana.

Aquele homem ergueu uma bandeira e, em vez de nos pedir socorro, trouxe-nos o socorro

com essa aula magna de abdicação, de renúncia; pode descansar em paz que o coração, por doente que esteja, está bem aberto às manifestações da alma.

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