quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Desamparo de Cada Dia I (Em 16/02/2007)

Você viu? A violência arrastou o menino; o horror grita em nossa sensibilidade e vemos a cena se arrastando pelo itinerário do demônio. Alguém perguntou: por que Deus deixa acontecerem essas coisas?

Nossa concepção de Deus é de um Deus do lado de fora de nós, como um árbitro, controlador de nossas ações.

Deus não está do lado de fora; do lado de fora é o movimento; no movimento estão dois atributos de Deus; Deus está no repouso; o repouso se verifica dentro do ser humano; não se atribua a Deus a condição de vigia para nos corrigir; Deus estava na criança arrastada; na criança arrastada estava o repouso; Deus também era vítima daquelas atrocidades.

E aí a pergunta se altera: - se Deus está em nós, está também nos bandidos que arrastaram a criança. Que Deus é esse!

Lembra-se daquele índio? Ele dizia que dentro dele havia dois cachorros; um era bonzinho, quietinho; o outro, violento; mesmo assim, os dois se enfrentavam; viviam sempre brigando. Um dia alguém lhe perguntou:

- qual dos dois vencerá?

- aquele que eu alimentar mais.

Esses rapazes alimentaram mais o cachorro raivoso, feroz e este expulsou o outro. Não foi uma bem uma expulsão: o outro continua nas dependências daquelas criaturas de trevas, só que está abafado, impedido, pela violência do movimento. Isso acontece porque temos inteligência para optar e damos preferência ao cachorro violento; ele engorda dentro de nós e nos surpreende com absurdos assim.

Digo que Deus está dentro de nós; este verbo “está” indica transitoriedade, instabilidade; não indica permanência exatamente porque há a possibilidade de nós pormos o cachorro feroz a subordinar o outro a seus caprichos; foi o que aconteceu. Deus continua lá, mas em latência.

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