Tenho idéia fixa sobre a interioridade humana; meus textos não se cansam de repisar o que já foi sovado, espremido e de que se retirou o suco. Eu, com certeza, não consigo enxergar além desses limites. Não tenho noção de onde queira chegar nem se é para chegar com esses textos; sei apenas que não posso me omitir; sou prisioneiro dessa idéia; a minha roda do tempo parou, em que lugar? Que região é esta? Qual dos animais é o guia, o que puxa a carruagem? Ele deve ser contido ou estimulado a correr? Fato é que eu fiquei para trás, há muito eu via a paisagem, mas agora ela se exibe apenas nas duas dimensões de mim mesmo, onde o tempo gira e onde o tempo parou. Sim, o tempo não circula por dentro de mim; que dentro de mim é a eternidade.
Estaria eu louco! Sofrendo de alguma obsessão! Verdade é que este mundo me embriaga; aqui tudo se dissipa; tudo flutua na ausência da gravidade que ficou lá fora.
Lembro-me de Sísifo subindo a montanha, empurrando a grande pedra que, a cada passo, ameaça o retorno compulsório. E aquele homem, aquele que quer tomar o ônibus e o ônibus não vem, o metrô está em greve, as lotações não alcançam seu bolso! Ele precisa chegar ao trabalho e se lança a pé sabe Deus a quantos quilômetros! Também ele não é Sísifo! Sísifo talvez empurre um peso inútil; o problema é apenas entre Sísifo e sua pedra; já com nosso homem, o problema é de tantas bocas por alimentar e ele empurrando preocupações de ser dispensado por atraso; é o pelicano de Baudelaire, as asas encharcadas o impedem de voar.
Tenho idéia fixa.
Estaria eu louco! Um homem tem direito de ficar louco!
Minhas recomendações aos que encontraram minha sanidade.
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