terça-feira, 15 de setembro de 2009

Diálogo (03/03/2006)

- mãe, por que nós temos essa corcova?

- para resistirmos às grandes estiagens no deserto, filho.

- e essas pernas longas, mãe?

- sem elas, ficaríamos atolados nos areais imensos

- mãe, e estes pelos compridos sobre nossos olhos, mãe?

- o vento é forte filho, e a poeira nos tornaria cegos.

- mãe, se nossa vida é no deserto, por que nós estamos num zoológico?

Mãe e filho afastados de suas origens; seus atributos estão “mortos”, sem utilidade.

A mãe se percebe desterrada de uma dimensão superior; uma região de silêncio; ela suscita no filho a consciência de suas fontes.

Também nós temos atributos “mortos”, por estarmos afastados do silêncio. Nosso deserto é no coração; o coração é logo ali; já chegamos de tão perto.

Mãe e filho têm os atributos visíveis, porém “mortos”; nossos atributos são invisíveis, mas nós dispomos da consciência para superarmos a distância e fazermos ressurgir esses atributos, quando o esforço é colocado acima da vontade.

Nenhum comentário: