É um vazio dolorido, uma saudade de algo que se desfigurou no tempo, mas que permanece em minhas retinas... Pode ser também um meio de se promover o encontro com a realidade interior.
A solidão assume caráter de recurso quando me submeto ao isolamento, seja por um retiro, ou por abdicação de mim mesmo, em função de um ideal mais alto. Resulta de uma aspiração por encontrar as virtualidades internas, de maneira que a solidão passa a ser desejada e seu contato, quanto mais intenso, mais faz se aproximarem os arcanos da luz que residem no interior do ser humano.
A solidão vazia, essa é dor sem ferida; resulta de meu olhar constante para fora, para o passado; acontece que, olhar para o passado é afastar-me de minha realidade aqui; isso me torna vulnerável, sem perceber, eu alimento meus opressores; eles ganham corpo e formam, em torno de mim, um cinturão de desespero pontiagudo.
Procuro apoio em algo que me escapa; as amizades de outrora se diluem e eu permaneço isolado, sequioso de um afeto, de um olhar, da voz de quem não mais existe; se existe, mudou o foco de interesses e eu não acompanhei essa mudança por circunstâncias mil. Sinto a mente cansada, doída e amarga; o coração parece encolher-se ante um rol de saturações que tornam meus olhos vidrados; eu sou menos eu.
Penélope, a esposa de Ulisses, sediada pelos pretendentes, é bem a representação de nossa mente enclausurada pela falta de algo que eu perdi no tempo e que procuro reaver em vão; o marido da mente é o coração; se o coração não pode chegar à mente, a mente pode descer ao encontro do esposo; se descer, os dois se queimarão de amor. O verdadeiro amor que tudo une e tudo constrói é aquele que se verifica na câmara secreta de nosso coração; ali os pretendentes não conseguem penetrar, porque o silêncio de dentro os repulsa e eles se esfumam no nada de onde vieram.
Se a solidão de fora for conduzida ao coração, no coração está a solidão de dentro; as duas se fundirão numa vivência nova, emanante dessa região de luz
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