quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Arte (Em 07/04/2006)

A arte é a projeção da sabedoria em constante movimento nas profundezas humanas; a flor é apenas flor; se é bela, é porque motiva sintonia do ser humano com uma sabedoria que lhe é interior.

A arte tem raízes nos páramos do inconsciente humano, lá onde o artista se depara com o núcleo formador de suas aspirações e de onde procura trazer um valor que transcenda a realidade, buscando exprimi-lo com a força de seu talento.

Assim, extraída da intimidade, a arte é capaz de sensibilizar os mais variados níveis de consciência porque se origina de uma fonte comum; por isso ela se insinua na intimidade de cada pessoa, despertando identidades que o próprio observador ignorava em si mesmo.

Entende-se por que a arte possui força catártica: ao longo do tempo o observador esteve às voltas com inquietações em seu interior: a sabedoria desejosa de exprimir-se; súbito ele se depara com o halo de suas inquietações concretizado naquela realidade artística; a afinidade gera um certo impacto; é a catarse.

Já o artista é atraído por forças inconscientes, mas ele possui a prática de descer e, na medida em que mais desce em si mesmo, mais vai sintonizando a fonte emissora de suas aspirações; a catarse então é feita em duas etapas:

- extraindo do inconsciente os valores de sua inquietação artística;

- travando em seu interior, uma luta por dar forma elevada ao real de sua inspiração.

Não raro, ele olha sua obra de arte e só vê defeitos, naquilo que só vemos qualidades, exatamente porque permanecem nele aspectos inexprimíveis da realidade que lhe ia pela alma no momento criador.

A questão é: se o artista desce em si mesmo e o místico desce em si mesmo, por que o artista não é necessariamente um místico, já que muitos foram de vida desesperada? A diferença está no objetivo por que cada um desce; o artista é atraído pelas forças de inspiração; atraído pela fonte de onde promanam suas inquietações; o místico, por nenhum objetivo; atira-se no vazio de sua abdicação.

A arte é dom de colher no silêncio, porque só pelo silêncio se encontra a sintonia; mesmo quando o artista fala, a arte se expressa pelo que está por trás da palavra; de seu silêncio emana o gesto criador.

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