sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Carta - 1/3 (Em 23/08/2007)

Aqui tudo se faz por sintonia, já que não existe o pensamento. Os que trazem o pensamento, não estão em condições de ficar aqui; precisam voltar: faltou-lhes o enxoval para habitar estas paragens.

Você decerto se lembra que o pensamento se realiza apenas no mundo do movimento; já lhe disse que, do lado de cá, tudo é repouso, sem pensamento e tudo se realiza na interioridade de cada um, conforme seu grau de desenvolvimento.

Uma questão há de lhe surgir: se onde estou não há pensamento, como posso pensar para lhe escrever? Eu assumi o pensamento para dar testemunho da importância que seu trabalho aí. O objetivo foi de confirmar a importância do trabalho que você vem realizando aí e que aplicou em mim; quero lhe manifestar o quanto ele tem repercutido neste plano de cá, pelas confirmações que tenho verificado em mim mesmo das coisas de que falávamos.

Imaginemos que por aqui passassem pessoas desorientadas; nós assumiríamos o pensamento para ajudá-las, para esclarecê-las.

Saiba que aqui só aplicamos o que trazemos daí, plantado em nossa interioridade.

Na falta de gravidade, não se pende para a direita, nem para a esquerda, senão para o centro de nós mesmos. O centro neste ambiente está em cada um.

Somente quando cheguei aqui pude experimentar que a vida interior é falta de gravidade; não se têm pendores para qualquer direção, senão para dentro de si mesmo.

Aqui muitos cantam e seus cantos são ouvidos dentro de nossa mente; se não quisermos ouvir, é só desligar-mos e nos colocarmos em uma espécie de mar da serenidade. O alimento aqui é a meditação; o objetivo é a luz que sentimos como meta em nossa consciência.

Você me dirá: - mas se vocês têm consciência, têm alma e você disse anteriormente que a alma não nos acompanha; verdade. Assim foi, mas é preciso lembrar que a alma a que eu me referia era emissora de partículas como se fossem partículas quânticas; digamos assim que a alma daí ainda é uma alma que se estabelece no princípio; aqui, num grau já saído do mundo da matéria, a alma ganha dimensões de insinuadora dentro de nós e nos orientamos por ela.

Sinto-me progredindo, minha querida, progredir aqui é avançar por milímetro e andei fazendo certo exercício de isolamento que me parece somou alguma coisa de que não tenho consciência, mas cujo resultado eu percebo. Chego a imaginar que um plano superior, dentro de mim, determinou-me certo estágio e já me sinto separado dos demais. Nosso mestre é essa consciência, ou essa alma que nos fala do mais íntimo para o íntimo.

Se não lhe escrever mais, fique em você a certeza de que estou feliz pelo quanto me orientou; você foi decisiva na visão com que embelezou meus dias.

Não tenho vontade de lhe dizer adeus, não por apego, mas por uma profunda gratidão pelo quanto você me preparou para esses páramos; espero ainda poder demonstrar-lhe o quanto sou feliz por mérito seu.

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