quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Queda do avião 1/2 (Em 20/07/2007)

Pois é, o avião caiu e nos arrastou com ele; pareceu morrer alguma coisa em nós, talvez pela proximidade do acontecimento. A dor da situação se insinua em nós como verruma.

Paralelamente à dor de tantas perdas, uma outra dor nos aflige: a dor de flagrarmos a esperteza, a ganância apontada, a prevaricação que parecem estar por trás dessa cena de horror.

Na ausência do piloto que se defenda, vão dizer que ele errou, o pneu da esquerda furou e assim se montará mais uma farsa com que se acobertarão os verdadeiros responsáveis por essa comoção.

A situação será abafada com o passar de mãos na cabeça uns dos outros, tapinhas nas costas, olhares furtivos e tudo será lançado a débito da pizzaria; as famílias serão indenizadas, que calem a boca e tudo dentro dos conformes tais que tais. É difícil pensar de outro jeito, em face do que vemos em atividades nas hierarquias constituídas.

Bem, estava falando do acidente; por ele, você percebe o que é o movimento, a força de destruição, quando em desequilíbrio e mal orientado, entra em nossa casa, como entra em nosso corpo, explode e mata a doença e mata a saúde, mata-nos. Quantos morreram? E quantos dos que ficaram estão morrendo na dor de seus perdidos! O movimento é isso: domina-nos por fora e por dentro, comete esse tipo de violência, sem que percebamos; dentro de nós, até o movimento faz silêncio, sem perder sua característica de devastação.

Os que morreram estão livres de ver o que estamos vendo como se faz a pizza: um acusa o outro, o outro o um, reuniões daqui e dali; a culpa é da extensão da pista ou da neblina que não havia; tudo se cria, tudo se inventa, nada se faz.

A morte é uma só; não existe diferença na morte; nós do lado de cá é que a vemos com nossos juízos de comoção, paixão ou indiferença; o Iraque vê a morte com raiva, aviltado em seus domínios.

Os que nos deixaram são heróis por nossa causa; deram a própria vida para, quem sabe, alertar contra a demência, a inércia com que nos anestesiaram.

Os que morreram não viram a morte; despertaram em outro plano inocentes de nossa perversidade; somos perversos sem cura; o mal grassa em todas as camadas a ponto de darmos mais atenção ao criminoso; quanto mais bandido, mais avião o espera com escolta, enquanto o trabalhador expira nos corredores do SUS.

Os que morreram estão no repouso e que assim permaneçam. Não somos nós que devemos orar por eles; eles estão fora dessas tribulações por que passamos neste plano; eles que orem por nós e nos alcancem sermos inseridos no descanso fora daqui ou dentro de nós mesmos, na paz que eles estão vivenciando por mérito, expulsos que foram por negligência nossa.

Senhor, tende piedade de nós!

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