“Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá. Ao que, por outra ainda um exemplo lhe dou. O que há, que se diz e se faz – que qualquer um vira brabo corajoso, se puder comer cru o coração de uma onça pintada. É, mas, a onça, a pessoa mesma é quem carece de matar; mas matar à mão curta à ponta de faca”. Grande Sertão:Veredas.
Estaria na mente de Guimarães Rosa esse requinte de crueldade em matar o animal! Seria esta a intenção de comer cru o coração!
Percebamos a Semântica em nós rejeitando essa idéia de perversidade.
O texto é fechado, pouco convincente se não pedirmos socorro à Semântica; por ela, percebemos que Guimarães Rosa tinha a intenção voltada para algo interior a nós.
Tinha a intenção voltada para os obstáculos com que temos de lutar em nossa interioridade; ali habitam os monstros dos impulsos cegos, os desejos de vingança, e tantas outras onças; precisamos descer por dentro de nós mesmos e enfrentá-los de perto, “à mão curta”; matá-los com a faca de nossa persistência, intenção. Por isso, o texto começa afirmando que o senhor precisa ter experiência nesses assuntos; “não sabendo”, não poderá entendê-lo.
A Semântica nos apontou a intenção, mas o autor se refere a algo mais fundo do que a intenção; precisamos de convívio com a verdade interior para que o texto se revele com essa dimensão de grandeza para a qual a Semântica nos encaminha.
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