Trabalhar com a mente é como tocar um instrumento. A escala musical é composta de sete notas básicas; a mente humana também tem sete atributos básicos. A melodia consiste na variação com que o compositor aplica esses sete tons e seus semitons; a fala humana deveria também ser produto da variação no emprego desses sete atributos e seus derivados.
Mas, o que acontece? Observem-se os oradores, os conferencistas, as teses de graduação: tudo é feito de memória; a memória é a primeira nota.
De nossa escala oral, os doutos se contentam em tocar seus instrumentos com apenas a primeira nota: desprezam os demais atributos: razão, inteligência, sabedoria, verdade, justiça e amor. Ficamos emperrados na memória...
Nas Universidades, o aluno não deve interpretar o texto. Basta situá-lo no seu contexto histórico, aliar esse contexto histórico aos dizeres do texto; omite-se assim a participação do observador; o observador é desmotivado na utilização da própria inteligência para relacionar a obra de arte com aspectos da própria vida.
Excelente maneira de bloquear a mente do estudioso...
O concertista, se apenas tocar o que o compositor escreveu, é um tocador; para que seja artista, precisa dar brilho às frases; elas precisam soar com outra sonoridade, aquela que venha de seu interior; além de modular o compasso, alterar o ritmo e tantas filigranas mais de acordo com sua sensibilidade.
Ao aluno de Letras esses avanços parecem negados.
Se o objeto analisado é uma obra de arte, ela emana da interioridade, ela vem de dentro para ser sintonizada pelo observador; o observador deve buscar, dentro de si, os ecos que a obra de arte lhe desperta; deve extrair das próprias entranhas um conteúdo que coloque a obra de arte em seu devido lugar de grandeza.
Um médico ante os resultados dos exames, tem uma gama enorme de opções para indicar certo remédio; mas ele indica um, de acordo com sua interpretação das circunstâncias; de acordo com sua experiência, sua formação e tantos outros aspectos pessoais que entram na deliberação de indicar uma receita.
Os formados em Letras estão vestidos com essa camisa de força; é rebentá-la que só encontra sentido no comodismo de quem só aprendeu a trabalhar com a memória.
É só ver como os conferencistas são memórias geniais; sabem tudo de memória, embora a memória seja um atributo de primeiro grau. Aí nós estamos emperrados! Um desastre!
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