Minha querida, minha amada,
Você teve a gentileza de me mandar uma mensagem extraída de jornal de cuja leitura se espantou por ver esta afirmação: “Como Buda dizia, a única realidade deste mundo é sua vacuidade, sua impermanência, a eterna mudança.”
Concordo com sua indignação; Buda jamais teria misturado vacuidade com impermanência, movimento com repouso. Vacuidade e permanência são valores contrários.
Buda se referia à vacuidade no coração; num coração vazio está a paz, a liberdade, o amor, a paciência e outros. A isso Buda se refere. O coração de uma criança é vazio; por isso ela tem verdadeiros lampejos; aos poucos vai se integrando no mundo e atendendo aos convites que a vida lhe impõe; ela vai saindo da vacuidade e se integrando no movimento.
Quanto à impermanência, à eterna mudança isso se realiza no movimento. O avião que acaba de cair em Congonhas voava no campo da impermanência, da eterna mudança por isso, tudo mudou para ele e nele; o que restou das vidas que carregava? Essa é a característica da impermanência: uma sucessão de mudanças.
De Buda é apenas a primeira parte: “a única realidade deste mundo é sua vacuidade”.
a vacuidade corresponde ao zero, à ausência de qualquer movimento; um corpo no vácuo fica à deriva, flutua sem orientação; é o que acontece quando um foguete sai da atmosfera da terra e ainda não entrou na atração do planeta de seu destino; ele fica num vazio; não encontraria sua rota, se não fosse orientado por pequenos foguetes de correção, mas a mente no vácuo fica sob a luz e na luz está o sentido de seu destino..
Mas qual é o interesse de Buda afirmar isso? Buda sabe que, no vazio está a consciência e o que perdura é a consciência; o resto muda; a única realidade do mundo é a consciência; a consciência está no interior de todos nós.
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