sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Artesão - 1/3 (Em 11/10/2007)

Numa cidadezinha do interior, a Ana olhava umas peças de artesanato; segredei-lhe que comprasse alguma coisa para ajudar. O artesão percebeu:

- muito obrigado pela compreensão; o senhor não sabe o quanto é difícil viver disso.

Conversamos sobre arte por instantes e me despedi.

Mal sabia ele que eu também sou artesão; ofereço idéias por preço nenhum e poucos, muito poucos são os que se interessam por meus produtos. Creio que me faltam as habilidades daquele homem.

Agora encontrei um forte aliado no Rodrigo, lá em Manaus; ele tem difundido o blog e o número de consulentes subiu bem. Obrigado Rodrigo.

O Carlos Drummond de Andrade já dizia que “lutar com palavras é a coisa mais vã,” sobretudo quando essa palavra é dotada de um conteúdo que a poucos interessa: não ensina a vender, não promete lucro nem faz benzedura. Aí fica difícil. E então percebo que ser artesão de bijuteria não é tão difícil quanto difundir idéias, sobretudo relacionadas com a interioridade humana.

Que vocação é esta que nos leva por esses corredores escuros! É trilhar em falso e aí aparecerão os críticos, munidos de idéias pré-fabricadas e nos exporão sob seu crivo, apesar de que esse negócio de interioridade humana é um assunto que interessa a poucos.

Talvez meu grande defeito é que eu vivo de fábulas e as fábulas são mentiras adocicadas. Sabe daquela? Deram um quebra-cabeça a uma criança que consistia em armar o mapa do mundo; sem entender de geografia, de imediato a criança devolveu o problema resolvido; quando lhe perguntaram como conseguira com tanta rapidez, ela respondeu:

- do outro lado, havia o retrato de um homem; eu juntei os pedaços do homem e o mundo

ficou certo.

Percebo a minha pretensão: quero juntar os pedaços do homem e não consigo sequer juntar os meus pedaços; isso porque me falta a simplicidade daquele homem da praça; a da criança, nem se fala!

Você sabe que, na criança, ainda habitam juntas mente e consciência; é por isso que ela tem insights: perguntas agudas e respostas desconcertantes?

Você percebeu como é o processo de escrever? Como se faz uma crônica? Uma idéia puxa a outra e a outra, outra mais e vai se formando o texto. Como estou no final do texto, é bom retomar à idéia com que comecei e a coisa fica assim:

Do encontro com aquele artesão ficou-me um desejo de ser melhor; não melhor do que ele; melhor sim do que eu mesmo.

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