quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Dor 1/2 (Em 25/05/2007)

A dor não adia prazo; pega a gente é no sutil da insinuação e vai ficando; quando se dá fé, ela já firmou pé, armou a barraca e se põe a jogar dúvidas na cara da gente. Eta bichinha atrevida, eta insistência dorida!

Quanto mais o tempo passa, mais ela cava terreno para levantar a bandeira e se declarar posseira daquele território de ninguém. Haja! Mas, como dói a dor! Que coisa mais incômoda!

A dor é grileira, posseira: vai tomando as terras vizinhas até que se apossa do território inteiro. Então vem o senhor das terras e ela, do alto de seu atrevimento: “se não posso ficar aqui, eu levo comigo o terreno” e corta a luz e, sem luz, tudo se reduz a nada.

Viu como a dor ganha corpo!

A dor existe para despertar; o sentido da dor não é o de intimidar, causar medo: nada disso! A dor é uma espécie de relógio despertador: toca quando é hora de despertar em algum aspecto. O sono nos tira da realidade que a dor procura corrigir.

Mas espere; se fosse assim, os místicos não teriam dor, porque eles são os mais despertos nessas madrugadas do espírito. Mas a dor do místico é diferente; o místico sofre dores decorrentes do excesso de energia; essas dores se instalam em lugar onde nenhum sinal existe. A dor fica ali pouco tempo e passa; depois vem outra e outra mais em lugares diferentes.

A dor comum, a nossa dor de cada dia é decorrente de um vazio que deveria ser preenchido pela energia liberada pela alma.

Explico-me: os vazios que se formam dentro de nós, quando são produtos de meditação, a alma os preenche com energia que vitaliza o corpo; se esses vazios são inconscientes, senão meditamos sobre a alma, a energia de fora, a energia do movimento ocupa aqueles espaços e, por ser de movimento, agita e causa dor, muita dor.

Como se formam esses espaços? Sobretudo quando você dorme preocupado, pensando em algum problema, você está puxando a energia do movimento para dentro de você; a energia do movimento entra e cria espaços; não conseguindo sair, porque entrou ali sem que você percebesse, ela causa lesão. Vem a dor; e como dói!

Camões atribuía à alma um tipo de dor; aquela do místico:

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