quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Graça - 1/2 (Em 22/06/2007)

A graça é a manifestação dos atributos de Deus acionados em uma pessoa; como esses atributos são de grande força, o agraciado passa a agir com uma vitalidade fora do comum, no sentido de se alinhar com a intenção divina.

A graça pode ser de dias naturezas:

- Deus escolhe um eleito;

- Um iniciando firma a intenção de buscar a graça nele mesmo.

Alguém busca a graça de Deus em si mesmo pela abdicação de tudo, pelo silêncio interior,

com que faz a limpeza do coração.

A graça em Agostinho é um dom Deus. Agostinho é um desses escolhidos porque, apesar da vida libertina quando jovem, intempestivo como bispo, Deus o agraciou ele se tornou combatente incansável dos costumes heréticos de seu tempo.

Já se percebe que a escolha por Deus não supõe que o escolhido seja perfeito. A perfeição é exigida daquele que buscou a graça em si mesmo pela iluminação.

A biografia de Santo Agostinho nos aponta o quanto ele aprontou de transgressão em tantas áreas de ação e pensamento; nele nada havia de perfeito e mesmo assim, ele foi um escolhido: postou-se como centro irradiador do Cristianismo no ocidente.

O escolhido não sabe que foi escolhido, apenas se atira, movido por forças de dentro.

Em Agostinho a graça se torna mais evidente pela oposição de uma vida pautada por acontecimentos inusitados, a ponto de ele mesmo pedir a Deus que lhe desse castidade “mas não já!” A palavra “castidade” não se restringe apenas ao sexo; ele quer ser casto também em seus combates retóricos, em sua fúria pela causa divina e cita nas Confissões: pg. 239 “irai-vos mas não queirais pecar” Ef 4,26

A turbulência do homem com a dádiva divina teriam de se conciliar por oposição; chega o momento em que ele concilia seus opostos e passa a intuir a beleza de Deus: ”ò beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei” (ib. pg. 295). Na própria afirmação já se percebe o par de opostos: “beleza antiga e nova”; antiga porque é de todo o sempre; nova porque só agora ele tomou consciência dela.

Para Deus não existe o tempo e a palavra “tarde” quer significar o quanto de tempo ele se esbateu pelo lado de fora de si mesmo, como um peixe fora da água; disso resultaram seus choros convulsivos por se sentir a ausente de Deus e Deus ali tão dentro dele; o quanto chorou por si mesmo “como se estivesse morto, porém morto destinado à ressurreição” (ib. 140)

Aqui o par de opostos realça o poder da graça pela relação do homem com Deus: o homem como morto, envolvido no pecado, mas a graça lhe promove à ressurreição.

Percebe-se também a diferença entre graça e perfeição: na perfeição, o iniciado se ilumina por um esforço pessoal de fora para dentro no sentido de alcançar o silêncio do coração, pela renúncia de tudo, inclusive da vida; no silêncio do coração manifesta-se a luz da sabedoria.

A graça por escolha divina é Deus atuando diretamente de dentro para fora no escolhido; é a graça que está em Agostinho agitado e agitando na direção da intenção divina. A graça se faz por provas e ele se submeteu a elas porque, com elas, estava em busca da própria verdade.

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