quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Encaixar-se no tempo – 6/6 ( Em 05/05/2009 )

Encaixar-se no tempo é viver o presente: o momento presente.
Viver o passado é estar fora de seu tempo, preso a uma realidade que já não existe mais. Quem se prende ao futuro, vive prevendo; mas o futuro não tem forma. De maneira que encaixar-se no tempo é viver o agora onde estamos. Onde estamos, estamos com nós mesmos.
            Para vivermos o tempo presente, será preciso aplicar a atenção: segurar a mente que não escape, sobretudo quando queremos nos concentrar em nossas atividades de cada dia. Já vimos que uma das formas de segurar a mente é a de trazermos os sons para dentro de nossos ouvidos; como em toda parte há sons; este é um excelente exercício de como segurar a mente. De dentro ouvidos, assimilar a aula, ouvir o conferencista, distinguir o barulho: dos carros, do avião, das crianças brincando na rua.
É costume nosso que saiamos de nós para sentir o barulho onde ele se origina, mas quando alcançamos a fonte do som, ele já é passado; já saiu da fonte; o melhor é esperarmos que ele chegue a nós e o ouçamos concentrados no interior de nossa audição; aí ele será sempre presente. Já fiz referência ao ato de ouvir música: que ele se realiza dentro de nós, mesmo quando estamos vendo a orquestra.
A arte moderna quer encaixar-se no tempo, mas esquece o homem; vale a simetria; tenho observado que até para à música clássica, barroca inventaram uma forma de fazê-la moderna: aceleram-lhe o andamento e não sobra tempo de vermos o homem, o autor, seu tempo sua história, sua sensibilidade. Isso parece incoerência?  Não. Porque a música clássica, barroca é como uma tela: deve ser apreciada em seus contornos, em suas linhas melódicas originais. Ela foi pintada num tempo; deve ser fiel a seu tempo; querer vesti-la com roupagem de nosso tempo, aí é que está a distorção.
Se não podemos retocar um quadro de Michelangelo, como nos sentimos no direito de alterar o andamento de um texto de Handell, Bach, Purcell, Vivaldi e tantos outros, só para sermos “modernos”?
            Sei, sei, sei! Se dissesse isso a um maestro, ele me arguiria que eu nada entendo de música; não posso dar palpite. É certo; eu lhe responderia que entendo de sensibilidade humana e a arte do jeito que está, omite a sensibilidade da fonte que a produziu; troca a sensibilidade do autor por um andamento matemático. 
Na expressão “encaixar-se”, esse pronome “se” inclui o ser humano; se o ser humano  é esquecido, a realização de encaixar se torna mecânica; essa é a condição da arte atual.
Encaixa no tempo, mas esquece o homem que é o senhor do tempo.

Nenhum comentário: