Não sei se diga o que sinto ou se diga o que penso; se digo o que sinto, minha mãe era feliz por ser feliz em mim; se digo o que penso, minha era todas as mães: não medem a extensão do tempo por ser por nós. E o que pensam as mães de seus filhos? Nada.
Entregam-se no vazio de apenas amar sem nada esperar; vivem o momento presente com eles e por isso tanto os amam, que seu amor é abdicação de tudo por estabelecerem, com os filhos, a sintonia no vazio.
Ninguém mais que a mãe frequenta esse espaço oco do não-ser, do anular-se por eles. A mãe é isso: uma febre de amor que se consome no prazer de servir; uma luz que permanece sempre nos referenciais com que dota os filhos desde pequeninos para a verdade e a justiça.
Toda mãe é lembrança pelas sementes que planta de bons exemplos e sirvam de referenciais nos tempos de ser.
Nos momentos de decisão, os filhos encontram, nos escaninhos de sua psique, ensinamentos acumulados e ela lhes vem à lembrança como fecundante de um saber que os orienta pelos planos de suas necessidades; então o filho cresce na proporção do que tem guardado pelo esforço de sua mãe.
Há também aquelas mulheres que não têm filho para serem mães dos filhos sem mãe; sua elevação de vida faz incidir neles a reminiscência dos valores que lhes foram incutidos desde a infância. Elas despertam na mente dos homens as canções que as primeiras de lhes cantaram, antes de se vestirem de silêncio. Sua simples presença cria neles o ensejo de retomarem as rotas inscritas no interior de si mesmos.
Uma mulher sem filho, por edificar os outros, é um posto avançado quando a embarcação tomou outro norte; ela, pelo silêncio interior, aponta à nave a rota de seu destino.
Daí serem dois os tipos de mãe: uma que planta a outra que desperta para a colheita, quando os frutos do plantio caem sobre pedras.
Por não saber distinguir o que sinto do que penso, vi minha mãe em todas as mulheres porque nelas está a luz de minha mãe e nisso me edificam como se filho fosse de todas elas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário