Nenhuma moça é bonita ou feia; a moça é; a qualidade de bonita é-lhe atribuida por nós; ante uma moça, a projeção pode ser de fome, sonhos, encantamento.
Nós analisamos tudo conforme padrões que já temos dentro de nós, a coisa observada é, em primeiro lugar, reconhecida, depois avaliada segundo nossos padrões de interesse. De maneira que a relação entre o observador e a coisa observada é de projeção; o observador projetando no que vê suas concepções.
Faz lembrar aquele viajor que viu um homem em profunda contemplação frente a uma pedra, e disse:
- mas que absurdo! Quem já se viu esse cara adorar uma pedra, misturar aquilo com a fé!
Ao que outro ponderou:
-você não está nele, no interior dele para alcançar a projeção, o conceito que ele tem daquilo!
Estabeleceu-se a seguinte situação:
- o monge estava no seu recolhimento, projetando naquele objeto, uma presença.
- o viajor não encontrava em si mesmo qualquer referencial para aquele gesto.
- o terceiro se baseou num parâmetro que o ajudou a bem ponderar; ficou no meio entre a
tagarelice de um e o silêncio do outro; projetou a luz que tinha em si mesmo sobre a
imprudência do outro.
A coisa observada faz despertar dentro do observador um parâmetro de que ele tinha esquecido e, com esse despertar, estabelecer relações com seus interesses.
Os cientistas querem estudar as nebulosas e nos exibem imagens fantásticas de conglomerados estelares; estudam os gases, a energia, os componentes de algo que talvez já não exista há milhões de anos; projetam naquilo sua verdade.
Assim, a coisa observada depende do olhar do observador; para o olhar dos cientistas aquilo é verdade; mas a verdade já se mudou dali há muito tempo.
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