Você viu? Até o universo virou larápio! Você viu? Roubou a caixa de ferramenta da moça! Rapaz, o que é isso! Nem no universo se pode confiar! Já não chega estragar os parafusos da nave que a moça teve de ir consertar, e ainda lhe tirou a caixa de ferramenta! Ou esse negócio de roer os parafusos foi pretexto para o assalto? Será que o universo está com o parafuso solto e precisava daquela caixa? Ou os homens foram levar parafuso a lugares sem rosca? É bem provável que seja isso a medir pelas coisas que estão acontecendo aqui embaixo.
Agora a terra deu de andar de barriga solta emporcalhando as casas e sorvendo as pessoas no maior despudor! Se é pra se vingar, por que não procura as pessoas que mexeram com ela? Vai abrigando inocentes no escondido de suas cortinas de barro.
E se aquela caixa virar no espaço? Os parafusos caindo sobre nossas cabeças! Que traquinagem é essa! Quem deu essa liberdade pra natureza se fazer assim tão libertina! Mata nossos irmãos e nos ameaça lá de cima exibindo o troféu que arrancou de mãos distraídas com a caixa rutilando ao sol.
Agora vejo o universo exibindo o troféu brilhante lá na mataria do céu e os passarinhos assustados com aquilo passando. Nessa hora eu gostaria de ser Deus: pôr ordem nessa bagunça, acertar as bolsas de valores de onde tudo cai. Quem não caiu? Bem eu não! Mas que a queda da bolsa vai cair sobre mim vai. Vai mesmo; é só esperar.
Agora é que me percebo também com os pensamentos em desalinho; fico olhando para a caixa se afastando e vejo naquilo uma representação do que se afasta de mim quanto mais me embeveço com as coisas que os homens fazem acontecer como projeção deles mesmos.
Será que a caixa vira no espaço? Pregos, martelos, fitas, fios, parafusos ficam retidos ou se libertarão da caixa?
Não seria isso uma projeção de nossa vida? Essas coisas soltas como nossas ações, nossos pensamentos; a caixa se mantém alheia às diatribes do que acontece do lado de fora dela; já conosco, nossa inquietação reflete em nós mesmos!
Será que a coisa vai ficar restrita a um acontecimento apenas? Minha preocupação é porque, quando alguma coisa se liberta de nós, vai se encravar em alguma cabeça distraída.
Veja essas bombas que estão caindo ali, lá do outro lado; creio que por distração nossa, elas estão se alojando na cabeça de crianças indefesas. Os parafusos já vêm soltos de séculos; se ficam no espaço, outro tanto de séculos podem dissolvê-los; se ficaram na mente humana, têm de cair e alvejar crianças; é um mal que o homem traz de suas origens.
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