E não é assim com a vida de quem se prende ao movimento? Corre, corre e não avança, não sai do lugar! Para sair para um lugar diferente, seria preciso sair do âmbito do movimento porque, como se percebe, o movimento não nos tira do lugar.
A esteira nos mostra, em escala menor, o que faz a terra: gira, gira e não sai dali; é só saindo do movimento que nós nos deslocamos, que a terra também é uma esteira rolante em proporções invisíveis.
Virão os que dizem:
- não senhor! A terra tem dois movimentos: gira sobre si mesma e se desloca no universo.
E eu respondo na lata:
- então nós deveríamos imitar a terra: girar em torno de nós mesmos e nos deslocarmos em
nosso universo interior.
E digo mais: nosso itinerário é bem menor do que o da terra: é só sair do movimento; ir na direção da imobilidade. A esteira só serve de referencial para mostrar como o coração está em repouso; a esteira apenas simula o movimento; nós nos iludimos com as aparências. Do movimento à imobilidade, são poucos os passos, mas vale a pena porque a paz ali é garantida, sem simulações, sem desvios. Quando dispensamos a esteira, o motor cessa em nossa mente; é o silêncio.
Foi o Baudelaire quem contou aquela visão que teve de homens carregando enormes quimeras; coisas inúteis às costas; quando lhes perguntaram para onde iam, não souberam responder; o que levavam? Também não sabiam; tinham apenas a impressão de seguir, mas andavam sobre uma esteira; perdidos no movimento de si mesmos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário