Gosto de olhar no olhar do homem; perceber suas vibrações; estudar suas intenções; elas encerram códigos de seus segredos; mas o olhar do homem é pouco expressivo, de pouca significação. Isso acontece ao homem que não tem experiência de vida interior; ele não pode contar com recursos de dentro que casados com os de fora, possibilitariam grandes variações para simular.
Por mais que fale, por mais que esperneie, o homem é pobre no que os olhos têm a dizer; os olhos não guardam os segredos dos homens.
O homem é esperto, sagaz quando precisa guardar o segredo de uma fórmula, de uma equação, de um raciocínio lógico, de uma trama; mas essa esperteza é exterior a ele; está do lado de fora é escancarada; sujeita a invasão.
Só para uma ilustração rápida, olhe-se no olhar de uma mulher: a danada tem sete válvulas de escape por onde escorregar seus segredos; o homem dispõe apenas de três e assim mesmo voltados para fora, para o mundo; o lado de dentro do homem não é lugar para segredos porque ele não frequenta aquela região. Imaginemos a seguinte situação:
- isso são horas de você chegar!
- o chefe chamou para uma reunião, fez uma longa exposição e ficamos lá até agora; eu estou
perigando ser transferido para o interior e vai inventando mais.
Ela responde:
- anh! Sei.
Ele não olha para ela; se olhar, o olhar é vago, inexpressivo, que a mentira não tem apoio em sua interioridade. Por que acontece de ela saber?
Veja: a mulher atua no mundo com quatro atributos: sabedoria, verdade, justiça e amor; o homem atua no mundo com três atributos: memória, razão e inteligência. Os quatro atributos com que a mulher atua no mundo estão dentro do homem; quando o homem entra em si para criar uma mentira, vai lidar com os atributos da mulher que estão dentro dele. Ela percebe de imediato.
O homem contempla horizontes sem fim, estuda os planetas, faz deduções de grande vigor. É capaz de acoplar uma sonda a um meteorito, não importa a distância, e tudo bem estudado e esquartejado; tudo dentro dos conformes.
Esses homens se absorvem tanto em ver, estudar o lado de fora, que se esquecem de si mesmos.
Quem quer estudar o homem realmente? Alguém dirá :
- Ah! Isso é tarefa dos psicólogos.
Mas os psicólogos querem estudar o homem pela cartilha da ciência.
E estudam um homem pela metade; o homem escapa. Quem está interessado em estudar a Consciência dentro do homem, seus quatro atributos e derivações? Quem está interessado em estudar a mente pelo ângulo de seus três atributos e derivações?
É melhor ficar perdido no espaço sem fim, escondendo sinais de fuga da própria realidade. Foge de si mesmo para a ciência, porque só acredita no que vê, ouve, apalpa. Limita a vida humana ao alcance dos órgãos dos sentidos.
Pior ainda é que as simulações que o homem faz de suas pescarias no espaço podem ser de algum peixe que já não existe há milhares de anos. É o homem lidando com o cemitério do remoto.
O apego a tudo o que está fora dele mesmo faz como que o olhar do homem seja inexpressivo; ele não está acostumado a ver a própria realidade e o que vê do lado de fora nem sempre é real; ele não existe para ele; então o olhar dele é mais propenso a ver o que não existe, aguçada a imaginação.
Daí o olhar no olhar ser um investimento de pouco lucro quando o terreno é arenoso,
no olhar do homem.
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