terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O sobrevivente – 6/6 ( Em 16/09/2008 )

Eu estou naquela nave que se perdeu empurrada pelo grande meteorito; ainda o vimos afastando-se; a força de sua passagem nos deslocou da órbita e os aparelhos emudeceram. Nada pôde haver por mais fazer.
Discutíamos aspectos científicos de interferência em nossos contatos; foi o supremo esforço por nos recompormos, enquanto a terra se afastava numa vastidão barrenta, nossos olhos marejados de sangue; até que só restaram vestígios; éramos sobreviventes no infinito.
Esgotados os esforços científicos, contentamo-nos em ser nada, naquela distância de qualquer socorro; passamos a conversar sob aspectos de filosofia e cada um lançou mão de  textos decorados desde infância e fomos recitando.
Foi então que nos surpreendemos repetindo as canções que nossas mães nos cantavam na infância e nos demos de chorar, não de medo, mas por nos faltar, agora vejo, aquele algo que as crianças tanto pedem: o colo e fomos crianças; demo-nos as mãos e um dos três resvalou para o descanso.
Não demorou que o outro: - o dia é lindo; já consigo enxergar além do sol...
E me percebo neste vazio, no nada, destituído de tudo; só me resta o espírito que retorna à consciência e os dois se identificam na iluminação. Eu permaneço sob a luz que transborda deles. Meus cabelos apontam alguns sinais de anos luz e eu continuo alimentado na luz.
Eu vivo aqui o esforço dos egípcios pela conservação de seus faraós; eu estou embalsamado neste sarcófago flutuante na imensidão vazia, no vazio dos tempos.  

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