Este blog não se ocupa de aspectos externos, históricos; este blog não visa a comprovar, senão a esclarecer sobre assuntos relacionados com a condição humana hoje, aqui e agora.
Quando nos prendemos à memória, não chegamos a nenhuma conclusão; não é função da memória concluir. Pela memória, olhamos para o passado e nos esquecemos de nós mesmos. Pela memória somos estranhos em nossa própria casa.
A memória nos puxa para o passado e ali permanecemos absolutamente distanciados de nossa realidade. A memória é atributo de primeiro grau. Lembra?: A professora diz ao aluninho:
- decore esta poesia e venha recitá-la daqui a quinze dias, na frente da classe.
O menininho vai lá e arranca aplausos dos colegas. E tudo é lindo. A professora está correta.
A memória é atributo do primeiro grau; a razão do segundo grau e a inteligência do terceiro grau.
Hoje o que vemos é o terceiro grau preso à memória sem conseguir desatar o nó.
A memória Cauê, nos tira de nós mesmos. A utilização maciça da memória é um expediente bem urdido de manter os povos sem raciocinar, sem inteligir.
Quando você discute sobre os acontecimentos como os de que tratou em sua mensagem, você está se deixando levar por aqueles que construíram essa arapuca de não estimularem você a pensar nos fatos presentes, na vida presente.
Se você quer falar de Napoleão Bonaparte, sua mente se desloca e vai para o lugar de que fala, talvez a ilha de Santa Helena, casinhas brancas, ruelas e o mar por todo lado. Observe que a mente não está em você; está lá na ilha; você aqui fica desguarnecido, sem proteção, a casa vazia.
Você menciona o Fernão Capelo Gaivota, veja que o Fernão não vai buscar na história de seu povo nem entre os colegas de vôo como fazer essa ou aquela curva; essa ou aquela subida. Ele tira sempre de si mesmo os resultados de que precisa para alcançar seus ideais, cada vez mais altos.
Assim será conosco Cauê, teremos de tirar tudo de nós mesmos, porque em nós está todo o saber de que precisamos.
Faça um exercício; fixe sua memória num fato histórico como o julgamento de Sócrates, por exemplo; perceba que sua mente se desloca; você entre os da arquibancada. Dali você ouve, você vê e se exalta contra ou a favor das decisões que se tomam.
Mas seu corpo está aqui; apenas a mente se deslocou e seu corpo está parado, sem perceber que o tempo passa. Isso é um desastre para nossa edificação.
A mente precisa ser conduzida na direção do coração; só aí encontrará o desapego de todos essas lances que a história guarda e nos quais nos apegamos como aquele visco com que pegávamos passarinhos na infância.
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