Um amigo mandou-me duas sugestões para meu trabalho:
- Verdade Triste
- Bom senso, aplicando os termos de um e-mail intitulado “O Princípio vazio”
Fico muito grato pela amabilidade desses contributos que procuro desenvolver com a melhor das intenções. Se enveredar por vias alheias a sua intenção, por favor, retorne que só me ajuda a alcançar o mais possível de meus amigos leitores.
A verdade não é triste nem alegre; a verdade é um dos atributos da alma e, como atributo da alma, não se relaciona com o mundo; não se flexiona para assumir aspectos de nossa realidade.
Mesmo quando estamos diante de uma perda, essa perda se manifesta em nós pelos sentidos: os olhos, os ouvidos ou outros; o que chega a nós pelo sentidos, vem de fora para dentro; a alma e seus atributos estão em repouso; e seus impulsos são de dentro para fora. Como a verdade é um atributo da alma, a verdade não pode incentivar ninguém à tristeza.
O que nos causa tristeza são as emoções acionadas pelos sentidos de ver, ouvir, falar, recordar. Se sentimos a ausência de um ente querido, é o sentido da solidão, da saudade que age em nós; o sentimento de tristeza é contrário à verdade; a verdade não pode estimular um sentimento que é contrário a ela.
Essa tristeza vem de outras áreas em nós: a mente aciona as emoções; essas emoções se manifestam pelo movimento: choramos; o movimento não é da alma nem dos atributos da alma; nossos sentidos são acionados de fora para dentro; de fora para dentro, atuam sob o movimento; a alma não se relaciona com o movimento.
Ainda mais, há uma inversão na apresentação da frase: quer-se dizer: “triste verdade” e se diz: “verdade triste”. É diferente o conteúdo semântico. Se digo: moço velho é diferente de velho moço.
Moço velho – é um jovem com aspectos de pessoa idosa;
Velho moço – é uma pessoa idosa com dotes de jovem.
Moço triste – é uma pessoa introjetada; sem alegria, que não vibra, cabeça baixa.
Triste moço – é vitima de algo, sobre quem recaiu alguma fatalidade.
Do mesmo modo:
Verdade triste – eu atribuo à verdade uma qualidade de tristeza que ela não pode ter.
Triste verdade – eu manifesto meu estado de espírito diante de uma situação irreversível, que estou vendo, recordando, sentindo.
Sentir é ser movido por um estímulo; a verdade não estimula porque está em repouso. Nada pede; nada quer, senão ser testemunha de nossos atos tristes ou alegres
Conta-se que Cristo resolveu ir a um posto do SUS; filas intermináveis; entrou numa sala, viu o único médico cansado, esgotado.
- deixa que eu prossigo; vai descansar.
Chamou o próximo.
- veio um homem todo desengonçado, numa cadeira de rodas.
- levanta; pega tua cadeira e vai pra tua casa.
O homem desceu da cadeira, ajeitou-a para a saída, saiu. Lá fora, os da fila perguntaram:
- como esse novo médico?
- igualzinho aos outros; nem sequer levantou da cadeira pra me examinar!
Perceba o limite dos olhos: não identificaram a verdade, mesmo ali, diante deles.Os olhos estavam condicionados, voltados para o passado: como os médicos anteriores não examinavam, aquele também não o tinha examinado.
Conduzido pelo movimento, não se deu conta de que o repouso já estava nele.
Já ouviu falar na escada de Jacó? Jacó sonhou com uma escada pela qual os anjos subiam e desciam Gn 28,12
Cada degrau é um plano na subida. Nós ficaremos no primeiro plano se revestirmos nossa verdade pessoal de tristeza. Se eu quero ajudar alguém, estou sendo movido por minha verdade; levar a tristeza é trair a própria verdade.
Tristeza é projeção de nossa sensibilidade; a sensibilidade se relaciona com os sentidos. Esses nada têm a ver com nossa verdade.
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