Considero o expediente como carta anônima, a que não devemos importância; mas, como o missivista levanta um assunto de interesse geral, convém que se lhe esclareça.
Diz ele que “as religiões mancharam-se, cada uma em sua história, com muitos erros”. Essa afirmação veio entre aspas, portanto não é dele. Não citou a fonte.
É muito fácil nós nos colocarmos hoje, com a visão que temos hoje e criticarmos atos que se verificaram, alguns há mil e oitocentos anos atrás, como se lê em certo livro que fez sucesso e já foi esquecido.
Do alto de nosso pedestal, decretamos que as religiões “erraram”, “mancharam-se”, sem se analisar sequer o momento em que os episódios aconteceram.
Não estou autorizado a emitir opinião sobre nenhuma religião; coloco-me apenas em defesa da mente contra os que querem desacreditar a fé.
As religiões atuavam conforme as leis da época em que os acontecimentos se verificaram. Para fazermos esse tipo de juízo é preciso termos a visão do momento histórico em que essas “manchas” se verificaram. Qual era o conceito que se tinha da vida humana. Se o tempo era de rei, o rei era a lei; mandava e tinha de ser obedecido.
Quanto mais se recua no tempo, mais se aproxima do tempo em que dominava a lei do mais forte, do olho por olho, dente por dente; esses costumes que vinham de milênios não foram eliminados assim com a facilidade que meu missivista imagina.
Não se trabalhava por desenvolver a mente como se faz hoje; esse esforço foi se enraizando lentamente, ao longos dos séculos.
Se meu missivista anônimo está tão melindrado com os feitos das religiões e que são contrários a seus escrúpulos, por que não critica algumas organizações de hoje que se dizem religiosas e se instalam no conforto das coletas compulsórias? E aquelas que simulam curas mirabolantes? Outras há que amarram bombas no corpo de seus adeptos, sob a promessa de um descanso feliz?
Em que esse tipo de crítica contribui para melhorar a mente humana?
Amigo, não critique; viva sua verdade em você mesmo; o que vale é o hoje, o passado não nos pertence; o que vale é você diante de você; prestando contas a você. Você tem feito isso?
Amigo, imaginemos que você foi nomeado para ser um chefe espiritual; você está preparado para a administração religiosa? Os homens da época a que você se refere tinham menos preparo do que você tem, porque você tem alguns séculos de experiência que a vida acumulou, a ponto de achar que aquilo era “mancha”.
Vamos lá amigo! Você é religioso? Você entrou na interioridade das religiões? Se está nas periferias, como pode criticar o centro, se não conhece o centro?
Ocorre-me o dito: “não vá o sapateiro além da chinela”
Talvez você quisesse referir-se aos homens que conduzem as religiões; aí você pode até encontrar falhas que eles também são humanos como nós.
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