Nas entrelinhas da poesia, estão os traços de nosso ser; uma palavra, um encadeamento de palavras ou de sons é denunciador de estados de alma, estados de visão que fogem ao comum.
O poeta é um ser voltado sobre si mesmo.
Quando alguém classifica a poesia como transgressora, faz referência a seu aspecto externo porque a poesia se permite certas licenças que escapam à norma da gramática; mas isso é o aspecto externo.
É tão de profundidade a poesia que até a gramática permite quebras da norma em favor da expressão quanto mais apurada.
Afirmei alhures que, para que entendamos o texto, é preciso situar-se no momento histórico: quais foram os motivos que levaram o poeta a ver-se imbuído daquele assunto, naquele momento: político, religioso, econômico, psicológico, de saúde? Quais foram? Em que afetaram a biografia do autor.
Há ainda que considerar os sons, pela escolha das palavras; o tipo de estruturação, de pontuação. Esses são valores que denunciam estado de alma que não podem ser relegados sem prejuízo da análise. Junte-se ainda o assunto; por que o poeta se valeu daquele assunto para exprimir seu estado de alma?
È comum ler-se de certos poetas que em momentos, estavam em estado de alucinação quando fizeram tal ou qual afirmação. Meu Deus do céu! Quem freqüentou o estado em que o poeta estava para ter certeza do que afirma?
Um poeta é capaz de alcançar, nele mesmo, visões de outras realidades que ele desconhecia em si mesmo.
E isso não é transgressão: é linha de frente; aponta aos pósteros que existe uma outra realidade dentro da caverna, mas ali só os homens livres de preconceitos podem penetrar e trazer de lá os estratos de sua psique.
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