Ma rapaiz, lá na roça só agora é a gente se soube do acontecimento que a mulher, como com que a ela inventou esta história! Não é verdade que a xuxa salvou a criança! Não! Eu to falando daquela cachorrinha, vira-lata e tudo, pois é. Puxou a caixa do meio do mato com a criança dentro ainda com o sangue de parto, que a mãe ali deixou e se mandou. Já viu como quê? Parece coisa dessas histórias de sabor, que os homens inventam para amoldar a cabecinha das crianças. Como pôde aquela bichinha saber que ali dentro daquele papelão havia uma nascença de pouco? – Você já viu tanta invencionice? Você entende? Se entende me explique que eu quero aprender; sou do mato; vivo com os animais e nunca vi coisa de animal tão esperto; só na cidade, aquele bichinho aprendeu com os homens que é preciso cuidar da vida! Mas aonde se mata mais? Lá no grotão da serra nunca se viu falar de se matar outra pessoa por prazer de acerto, mas aqui na cidade, os homens brincam de tino de acerto e vão gastando bala adoidado. Mas o fato é que eu pensei que sabia como por sobre animal e vim aqui saber qual a escola que ensina esses inocentes a defender as criancinhas de igual; eu tinha um papagaio que cantava um pedacinho do hino nacional e eu já achava aquilo que era o máximo, mas agora com essa história de o animalzinho vir latir pra chamar a dona e indicar o lugar e ela mesma puxar a caixa até a calçada é coisa que se deu de contar assim; cadê o povo que me acredite lá onde eu moro, cadê? Vão dizer que é mentira, que eu to inventando e eu não entendi como posso desenrolar o fato de maneira que sobre o entendido pelos de lá; se você sabe de um jeito como eu posso contar, eu preciso porque se levar a coisa assim de supetão, vão me internar e o manicômio de lá é um curral, igual ao que onde nasceu o menino que os soldados procuravam pra matar. Engraçado, cada coisa estranha! Aquele menino os soldados queriam matar e não conseguiram, o menininho da caixa a mãe quis matar e não conseguiu; será que, nos dois o anjo que amparou? Se o senhor souber, me explique que eu sou da roça e minha cabeça ferve quando o assunto é esse de coisas de criancinha com anjo. Certa vez eu fui à igreja e o padre tava falando de mistério; ele era chegado com Deus, mas eu não entendi por que explicar o que ninguém entendia; agora talvez perceba que o que aconteceu com o menino da cachorrinha seja esse tal de mistério que a gente não sabe, mas que percebe no entravado da notícia.
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