Desculpa é um ato de humildade; pede-se que a culpa seja relegada. A vítima tem suas razões de ponderar sobre se desculpa ou não. É preciso advertir: se não desculpar, torna-se vítima duas vezes: além de estar ferida, vai receber de volta a energia da raiva com que está para não se dispor a desculpar.
Essa energia volta e vai robustecer a aura com uma corrente negativa. Conta-se daquela rosa que, por se julgar tão bela, implicou com um sapo sempre ali, nas proximidades; disse que ele era feio e tirava-lhe o brilho; saísse dali; o sapo humildemente se retirou; dias depois, como sentisse fome, voltou ao lugar e a rosa estava murcha e despetalada pelas formigas que ele impedia de chegarem até ela.
Fica mais ou menos assim desfigurado quem se acerca dessas energias, produtos de seus impulsos negativos. Mesmo a rosa se pedisse desculpas, o estrago já estava feito. A desculpa alivia o culpado; não repõe a imagem do caluniado; o sapo continuaria feio.
Como aquele indivíduo que lançou difamações sobre seu vizinho; levado aos tribunais, o juiz ordenou que ele voltasse três dias depois; antes lhe entregou cópias de textos com a transcrição de cada calúnia; ele deveria picar aquilo em pedacinhos; fez. – agora o senhor vai para sua casa e, no percurso, vai jogando esses pedacinhos, até chegar. No dia aprazado, o réu voltou para ouvir a sentença. O juiz:
- o senhor rasgou os papéis e jogou os pedaços fora como lhe foi indicado?
- sim. Senhor juiz.
- a primeira parte da sentença é que o senhor recolha todos os pedaços de papel que espalhou pelo trajeto, para recompor as folhas.
- mas senhor juiz, isso é impossível porque o vento espalhou...
- é tão impossível quanto recolher a difamação que o senhor causou a seu vizinho.
A desculpa que o senhor pediu recaiu sobre o senhor: sua difamação continua se espalhando como os pedaços de papel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário