segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Platão e Aristóteles – 2/6 ( Em 26/08/2008 )

“A idéia platônica, segundo Aristóteles, é incapaz de explicar a produção das coisas. Ela não age; é imóvel; alheia ao movimento e ao devir; não pode ser nem causa motora nem causa final” (1)
Por aqui se percebe o quanto o pensamento de Aristóteles nada tem a ver com o de Platão. Elas estavam em planos mentais diferentes. Não podem ser comparados.   
Aristóteles está preocupado em explicar a produção das coisas; que a idéia de Platão não age, é imóvel,  alheia ao movimento; a idéia de Platão não pode ser causa motora nem causa final. As palavras sublinhadas indicam um Aristóteles vinculado ao prático, ao concreto, funcional, palpável, ao movimento; próprio deste plano.
Aristóteles trabalha com os efeitos; Platão se instala no centro da causa; Aristóteles é mente; Platão é consciência; mente racionaliza; consciência sabe, intui. Da conciliação desses opostos, surgiria a luz; mas os estudiosos ficam no plano externo e relegam o plano interno; não alcançam o nível profundo de Platão; a luz não se estabelece.
São Tomás Aquino quis conciliar os dois, porém não conseguiu encontrar essa luz porque quis conduzir as idéias de Platão pelo nível da razão. Era só mostrar a cruz e dizer que Aristóteles corresponde aos braços horizontais e que as idéias de Platão descem pela vertical. Dizem que, ao final da vida, o santo pediu que destruíssem toda sua obra.  
Aristóteles não percebeu que suas idéias estão no nível daqueles homens presos no fundo da caverna; lêem apenas os acontecimentos que se expressam pelas sombras projetadas no paredão do fundo.
Platão rompe as cadeias, na tentativa de tirar os homens da escuridão; quer que os homens se acostumem à luz e contemplem a natureza; Platão quer a expressão interior do ser humano, por isso vai buscar as idéias no plano da Alma; Platão não é demonstrável, que a intuição não se demonstra. Platão é intuitivo; tem consciência de que suas idéias enfocam a causa motora; sabe no entanto, que suas idéias no podem ser a causa motora.
Aristóteles pensa na horizontal do tempo, circunscrito à linha de passado e futuro. Daí se fazerem estudos maciços de suas idéias; elas se fundamentam no concreto.
Aristóteles se limita aos atributos da mente com que trabalhar o espírito; Platão desce aos recônditos da alma e vai buscar os alimentos com que a mente conduzir-se para fora deste plano. 
Platão voa e traz, do alto, o mundo das idéias que realmente não podem ser compreendidas pelos que vivem na horizontal, caminhando nas planícies para o mar, apegados aos acidentes da terra. Aristóteles se situa nas planícies; os grilhões para Aristóteles são as preocupações com “explicar produção”; Aristóteles quer que as idéias de Platão ajam, sejam móveis, estejam inseridas no movimento, na mudança e esses requisitos são próprios de quem atua no mundo da matéria, da demonstração, do movimento que é por excelência, o mundo da terra, deste plano. Na condição de preso à matéria, Aristóteles não voa, apenas salta sem alcançar o mundo superior. As idéias de Aristóteles são de aplicação no mundo; as idéias de Platão são de aplicação no homem.
Platão entendeu bem que suas idéias estavam no plano do interior humano, tinha consciência disso por seu alto poder de intuição; intuir é into-ir, ir para dentro interiorizar-se.
A causa motora está na mente; a causa final está na consciência; a idéia de Platão não pode ser uma nem outra, que essas são geradoras das idéias.
            Estas palavras não visam a criticar Aristóteles, jamais; o que aborrece é esse apego que fazemos a um filósofo, desmerecendo o outro. Disso nem Bérgson escapou. Aristóteles é cérebro; Platão é coração; não avançamos sem harmonizar os dois.
            Essa preferência maciça por Aristóteles é justificada por incapacidade nossa de  buscar, no próprio interior, a identidade com as idéias de Platão. É mais fácil lidar com o lado de fora, onde planam as idéias de Aristóteles.
Insisto: não é diminuir um pela exaltação do outro; absolutamente, apenas acho que se deve colocar um e outro em seus devidos lugares e lhes tributar o respeito que lhes é devido.

(1) Henri Bérgson – Cursos sobre a Filosofia Grega – Martins Fontes pág. 121,2

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