segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Dar – 4/6 ( Em 26/08/2008 )

            Entendido em sua função maior, o verbo dar significa abdicar, despreender-se; o verbo dar ganha força de estado místico de esvaziamento porque só pelo vazio de nós mesmos podemos alcançar outros planos. 
A expressão “alcançar outros planos” não se relaciona com sair deste; nada disso; esses outros planos são camadas pelas quais vamos passando, enquanto descemos rumo ao centro de nós mesmos. E tudo se realiza pelo verbo dar; dar um pouco de tempo a si mesmo; usa a expressão: “investir em si mesmo”; eis aí: levar a mente ao coração é investir em si mesmo; é dar-se 
Se o verbo dar implica reciprocidade, não é dar; é trocar, é escambo.
Não é nessa área que nos interessa o verbo dar, senão como limpeza, faxina interior.
Já pensamos por exemplo na incidência de vozes que se impõem a nosso pensamento? Elas são resultantes também de segurarmos as coisas. Outros pode estar precisando delas e nós segurando-as por apego.
Já nos demos a uma análise de pelo menos uma dessas vozes? Elas têm uma origem; já pensamos em alcançar e eliminar essa origem? Isso é dar-se. Pensamos em escrever sobre os males que nos afligem? Um pensamento mau, por exemplo? Quando escrevemos, descemos ao lugar onde essas males estão instalados; escrevendo, vamos ao fundo de nós mesmos e abrimos brecha para que eles possam escapar. Isso é dar-se.
Todo estudo é doação de si a si mesmo; eu busco para mim os meios de me elevar no âmbito de minhas atividades.
Eu dou a mim mesmo se me conservo em paz na fila, no ônibus, sentado no sanitário não importa onde; importa sim que eu encontre em mim mesmo o motivo de meus pensamentos positivos, de minha doação a mim mesmo.
Isso não é egoísmo porque o egoísmo me coloca sempre de prevenção; em meu verbo dar não existe o outro, porque eu sou o centro de minha doação; meu verbo dar é reflexivo; incide sobre mim mesmo.
            Dando-me, eu me preparo para preparar os outros.

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