quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Moças desaparecidas – 3/6 ( Em 05/08/2008 )

           E se aquelas moças não tivessem voltado! Aliás, elas não voltaram; foram trazidas, carregando o enorme fardo de seus 15 e 16 anos.
Grandes ambientes, escola de primeira, luxo e o mais. Sumiram. Não voltariam. Ficou em aberto a inquietação.
Chegou-se a publicar que tinham sido aliciadas, tais os trâmites da fuga. Pobres pais...
A situação já se estabeleceu: sumiram e causaram uma desilusão social; os pais pareceram despertar que são parcos os relacionamentos com seus filhos, sobretudo na infância.
É muito pouca a presença dos pais na educação dos filhos, ainda pequenos; não me refiro à educação que essas moças tinham em escola de luxo; refiro-me à educação-presença; os pais presentes na formação de seus filhos, lá atrás.
Os filhos são entregues a creches, babás, tias, avós que não têm autoridade sobre eles. Quando adolescentes, perdem a confiança nos pais que não souberam impor-se; isso faz com que os filhos percam a segurança; os filhos precisam de um referencial de firmeza que os pais têm sonegado, em função de suas atividades sociais.
É certo que, no começo, os pais não estiveram presentes na formação das meninas que as duas foram.
O tempo que não se investiu antes é cobrado agora em ágio das alturas, em ágio gerador de situações desgastantes.
Ao que tudo indica, nada de mais aconteceu; mas os jornais publicaram a pontinha  de um iceberg: um diálogo entre elas e um caminhoneiro com quem pegaram carona:
- e vocês, não topam...
– não, nós não somos disso.
- isso só enquanto vocês têm dinheiro!
Que sirva esse diálogo sombrio de lição: a sujeição a que ficam submetidas pessoas que se lançam nessas aventuras: enfronhar-se nos subterrâneos de inconsciências ávidas pelos desvios da mente jovem. São técnicos em mostrar horizontes plenos de cores e luzes; é só ultrapassar, e será a glória; ali adiante mudarão de rosto e se vestirão com os trajes do sem escrúpulo.
Do lado da família a estupefação, a falta de bússola, apegados a um sos até que polícia vença as pernas da burocracia.
Enquanto isso, as mocinhas, quando lhes faltasse dinheiro, segundo o caminhoneiro, passariam o horizonte e se deparariam com um ambiente semelhante àquele em que Castro Alves viu em: “Agar sofrendo tanto, que nem o leite do pranto tem que dar para Ismael”. 
O cansaço de ser chique gerou o vazio social que essas mocinhas procuraram preencher e, sem perceber, entraram por uma câmara escura e se perderiam no sem-rumo para lugar nenhum, não fossem os pais irem levar o leite que, com certeza, faltaria para Ismael...

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