Encontrei  um lenço na rua; bordado em alto relevo; cambraia pura, distante desses  tecidos engomados, envernizados, encerados que vemos por aí. Aquilo era  cambraia mesmo e de fino tecido amarelado. Nele havia o nome da mulher.  Não vou dizer o nome dela. Pode ser que algum aventureiro faça de meu  achado um pretexto para uma fala com ela e eu fique a ver navios. 
O  que me prendeu foi o requinte do nome. Ah! Meu caro amigo, se tu  soubesses o nome que estava impresso naquele lenço, decerto perderias a  cabeça como eu tenho perdida a minha: não poder entregar pessoalmente o  lenço à dona e ficar com o coração dela... Claro que não ira deixar  escapar! Jogaria todas as cartas pela conquista de uma mulher com o  requinte que transparecia daquele lenço. 
            Dir-me-ás,  leitor que perdi a cabeça por uma sugestão! Não. É que a forma como  encontrei o lenço, como estava ele disposto, denunciava muito. Nunca  leste que certa espécie lê o destino pela posição das marcas que ficam  na xícara? Pois é. Eu vi, na forma como estava o lenço o perfil da  mulher de meus sonhos e, a esses sinais, aliciei o perfume que exalava  daquela peça rara, de um achado que não mais se repetirá; aquele lenço é  único. 
Por que será que a gente se apaixona por uma mulher e, de repente, ela aparece vivinha  com  uma presença que conferimos até nos pormenores de um lenço? Não vou  traçar para ti o perfil dela para que não te percas por ela; estou  disposto a investir o que não tenho. Pensei em pôr anúncio, mas resolvi  de outra forma e nisso creio: se eu abrir meu coração, a força do  coração será tão forte que ela aparecerá de verdade e minha felicidade  será completa. Nunca ouviste dizer que a fé move montanha? Eu tenho essa  fé e o lenço apareceu como pretexto despertar minhas forças de sintonia  fina capaz de mover o coração de uma mulher. 
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