Cada coisa que acontece! Onde já se viu isso! Eu tenho um saber que adquiri com dificuldade, correndo pelas bibliotecas, ao longo de não sei quantos anos e agora sou obrigado a passar meu saber pros outros! O que é isso? Socialismo é!
O que é não sei! Sei que tenho de passar aquilo se não, ele incha dentro de mim e passa a atuar contra mim, junto com meus traumas. Será mais um.
Meu saber vem de fora para dentro; da biblioteca para a mente. Se vem, vem pelo movimento; traz o movimento para dentro de mim; dentro de mim meu saber se movimenta; quer sair; se não é liberado, atua por dentro e me angustia; meu saber passa a ser um incômodo; precisa ser partilhado. Um professor, dando uma aula, pode estar submetendo-se a um processo catártico.
Mesmo o saber que tenha afinidade com a alma precisa ser partilhado; se não o for, perde a afinidade com ela porque passa a ser elemento de apego e só se chega à alma por abdicação, entrega.
Costuma se dizer que águas paradas criam répteis; assim se dá com o saber sonegado: quantos filósofos se desencantam e culpam a vida! Quantos recomendaram que se rasgassem tudo o que fizeram? Dizem que até São Tomás de Aquino fez esse pedido. O filósofo Carl Young afirma que, de sua obra, só deixaria a “Resposta de Jó”. Algum saber foi omitido nas obras desses gênios; tiraram do outro a oportunidade de ser ajudado a melhorar
o nível de consciência.
Ocorrem estes versos de Fernando pessoa:
“Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto”.
Cancioneiro
O saber se transformou em terror que vem de longe; passá-lo adiante seria sepultá-lo, far-se-ia a catarse; como não foi passado, fica insepulto, machucando por dentro.
Tenho a impressão de que a maioria dos espíritos que descem à terra, voltam porque levaram um saber sonegado; o pior é que quando voltam, esquecem o motivo por que voltaram.
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